Anchor Deezer Spotify

Morcego poliniza planta e ajuda na produção de tequila, no México

Morcego poliniza planta e ajuda na produção de tequila, no México

Espécie é atraída pelo cheiro do agave-azul, cujo açúcar é matéria-prima da bebida. Aumento na produção e mudanças climáticas vem colocando espécies em risco

Um morcego, uma planta e uma bebida destilada. No México, esses três elementos possibilitam a fabricação de um dos símbolos do país. O morcego-de-nariz-comprido-menor (Leptonycteris yerbabuenae) é um mamífero voador de pequeno porte. Mede cerca de 7 centímetros e chega a pesar cerca de 25 gramas. Durante o inverno, vivem na região central do México, e migram para o norte, até os Estados americanos de Arizona e Novo México seguindo o cheiro das flores desabrochando.

O principal alimento desta espécie de morcego é o néctar proveniente de cactos floríferos e agaves – um tipo de planta com longas folhas pontiagudas encontrada no deserto. E ao mesmo tempo que se alimentam do agave, eles ajudam a planta, que evoluiu para produzir o néctar à noite, atraindo voadores noturnos, a se polinizar.

Ameaças

Atualmente, o morcego-de-nariz-comprido-menor está classificado como uma espécie quase ameaçada, segundo a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Mas nem sempre foi assim: até 2018, estavam entre as espécies ameaçadas de extinção. A situação, de acordo com especialistas, é associada a mudanças climáticas e ao aumento da produção do mezcal – que em outras regiões se chama bacanora ou o norme mais conhecido, tequila.

Nos últimos anos, o consumo de mezcal aumentou mundialmente, principalmente a partir de 2019, quando as importações americanas cresceram 50%. O aumento da demanda puxou o aumento da produção, cuja principal matéria-prima é o açúcar extraído do agave-azul.

O problema é que o ciclo de reprodução dos agaves ocorre apenas uma vez. Elas vivem entre 7 e 15 anos, e passam a maior parte do tempo produzindo açúcar, em forma de néctar, para cultivar um único caule florífero antes de morrer. É nesse momento que os morcegos se alimentam e polinizam a planta.

No entanto, o aumento da produção de mezcal e as mudanças climáticas, que vêm fazendo com que o agave-azul floresça antes que os morcegos as alcancem durante a migração, estão colocando a espécie animal novamente em ameaça.

Soluções

Grupos conservacionistas buscam soluções para tornar a produção mais sustentável. Sem morcegos, o agave-azul não é polinizado e também corre o risco de desaparecer. Isso inviabilizaria a indústria de mezcal. Um desses grupos é o Bat Conservation International, dos EUA, que uma iniciativa voltada especificamente para a restauração do agave.

“Nosso objetivo principal é proteger e melhorar os habitats de agave existentes e incentivar o crescimento de novos povoamentos de agave para facilitar e sustentar as vias de migração de morcegos que se alimentam de néctar. Nosso plano de 10 anos exige plantações expansivas de agave e melhor gestão do habitat de agave em toda a região”, declara a organização, cuja iniciativa voltada para o agave é chefiada pela zoóloga Kristen Lea.

Além do replantio de agave, cuja é 100 mil plantas, o grupo propõe, juntamente com órgãos reguladores locais, uma certificação para os produtores de mezcal. Isso inclui requisitos como a limitação de uso de pesticidas, o cultivo a partir de sementes e a manutenção de determinada parcela de agaves floríferas.