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”Modo mãe”

”Modo mãe”
Já escrevi — e muito — sobre o espinhoso assunto da Maternidade. Sim, das delícias e dos sofrimentos solitários do ser mãe e criar filhos, independentemente do estado civil. O parto, a amamentação, a solidão, a carga mental, o complexo de perfeição, as culpas intermináveis e a transformação da simbiose de se ser um para depois ser dois, a partir do momento que se gera um filho. A sociedade sempre só ressaltou o lado do sagrado, do sacrifício inerente e da plenitude. Interessava essa exaltação. Criar um posto, um pódio para que o privado, os silêncios 

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Kirk Cameron

e a vida dos homens pudessem acontecer lá fora, sem que a família fosse desintegrada.

Passados os séculos, tudo mudou. E, claro, as mulheres são mães, trabalham, têm vida sexual, escolhem e vivem com ou sem filhos. Mas ainda temos tantos pontos nevrálgicos e sem saída, como a conciliação da maternidade com a criação artística. A realização profissional com/e apesar dos filhos, pois uma mulher feliz nas suas realizações com certeza será uma mãe melhor! Ainda mais num país onde o pai — com raras exceções e transformações em andamento — se exclui da árdua tarefa da educação e proteção dos filhos (a atriz Ingrid Guimarães protagonizou uma série no GNT – Modo Mãe — que expõe alguns desses conflitos). Mas não só! Outras escritoras/feministas há muito já falaram do tema, como Elizabeth Badinter, Adrienne Rich, Virginia Woolf e Simone de Beauvoir, só para citar algumas.

Quando olho para trás vejo a minha própria vida com meus filhos Lucas e Daniel, hoje dois homens feitos. Eu trabalhava muito e tentava me equilibrar para poder dar atenção a eles. Nos finais de semana, tinha que caber: atenção aos filhos, preparação das aulas, dormir, trabalho doméstico, algum lazer e dormir de novo – quando se tem filho pequeno, o que se quer sempre é dormir!

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Jenna Christina

Sempre contei com diarista integral, de segunda a sábado; transporte escolar, o que me liberou da rotina exaustiva de levar e buscar na escola, embora tenha feito isso por anos. Cuidar dos deveres, vida escolar, festinhas, presentinhos, o vestir, o brincar, as birras, as férias duas vezes por ano, o dinheiro escasso para atividades de viagens, por exemplo. Experiências em família, diversão, horas nos cinemas, filmes, TV, lanches, praias, circos, calçadinha, atividades esportivas, feiras de ciência. São algumas das experiências das quais participava com meus filhos. Na maioria das vezes, na solidão da maternidade. Se pensarmos nas mulheres de baixa renda, então, a exaustão é caso de saúde pública. Essas mulheres envelhecem antes da hora, adoecem, e morrem cedo, sem falar

CDC

da violência doméstica… e dos sonhos, essa palavra de luxo.

Enquanto os filhos cresciam, outras atividades iam aparecendo. Motoristas virávamos! Quando ficam adultos, as preocupações mudam. Da troca de fraldas para a segurança de uma adolescência sadia; vê-los encaminhados na vida. Das papinhas ao encanto de vê-los realizados profissional e amorosamente. Em constatá-los homens do bem. E quando pensamos que podemos finalmente descansar da tarefa do ser mãe, chegam os netos. Uma experiência que continua. Adocicada, claro, como dizem os amantes das avós. E a gente se enternece de novo! Filho não cresce nunca quando a palavra é preocupação, mesmo que ela mude de foco e de lugar.

Das delícias? Saber-se e sentir-se barriguda, grávida; com os peitões, e amamentar; ver os olhinhos amorosos de carinho e amor incondicional; ser feliz com a felicidade deles; chorar com e por eles; fazer uma comidinha especial para eles; socorrê-los na hora do machucado; receber abraços e beijos inesperadamente; e, quando crescidos, conversar, trocar e amar! Pouco importa a ordem das coisas…

Neste domingo, Dia das mães, saúdo todas, a minha em particular. E os meus filhos.