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Minha última pele

Minha última pele

Em qual categoria de poeta eu me insiro ?

Sou um pintor de luas tortas. Tombadas sobre a terra frágil.

Ou seja, trato da poesia fragmentada de nosso tempo, dos seus andrajos sustentando uma terra inóspita para a beleza.

Meu poema não é passivo, não enleva a alma ao paraíso, ele lambuza o leitor com a realidade, com a angústia do ser consciente.

O pasto é para todos, por isto cuido do arado, planto, colho, engulo, mas, ao acaso, rumino versos que são a minha fome perseguida.

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Premek Hajek

Aquela palavra-frase que me ignora as súplicas e me arrebata ao seu bel prazer.

Chamo de estalo da palavra este açoite aguardado da musa. Mas luas tortas carecem de aplicabilidade.

Daí ser ignorado tal arquiteto e seu anacronismo.

A lua suspensa e seu telescópio já não dizem nada.

Os irmãos Lumiére não se reinvetam na poesia.

O espaço-tempo não tem fragrância, ele é um galope doido de imagens e informações.

Sei que o poeta não é um ser prático, mas é rico em praticâncias e desassossego.

E assim acordei sendo. Esta é minha última pele. Visto o que sobra das luas que picoto e remendo em minha vida.

Quem sabe aprenda a amanhecer em algum olhar. O que me diz leitor?