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Lobo-japonês é o parente mais próximo dos cães domésticos, indica estudo

Lobo-japonês é o parente mais próximo dos cães domésticos, indica estudo

Comparação entre DNA da espécie extinta de lobo e de 11 raças de cachorros revelou sobreposição genética de até 5%; percentual é menor em relação a cães ocidentais

É provável que todos os cachorrinhos que conhecemos hoje tenham descendido de uma única população de lobos cinzentos, cuja origem exata ainda permanece um mistério. Em novo estudo sobre a espécie do lobo-de-honshu (ou lobo-japonês), porém, pesquisadores trazem uma nova pista a partir da descoberta de que esse animal seria o parente mais próximo conhecido dos cães domésticos.

Disponível no site bioRxiv, a pesquisa partiu de duas constatações: a de que o lobo-japonês tem ligação com uma linhagem de lobos siberianos — revelada por uma análise genética no início do ano — e a de que cães poderiam ter surgido na Sibéria.

Para descobrir as informações genéticas que o lobo-de-honshu e cães possivelmente compartilham, cientistas japoneses sequenciaram o genoma de 11 cães, incluindo raças como shiba inu, e de nove lobos. O material de DNA do animal já extinto foi extraído de espécimes encontrados em museus e em telhados de casas antigas, onde pessoas costumavam mantê-los para fins de proteção. Estima-se que eles tenham vivido no Japão por milhares de anos até o início do século 20.

Shiba inu foi uma das raças que teve seu genoma analisado no estudo (Foto: Takashiba/Wikimedia Commons)
Shiba inu foi uma das raças que teve seu genoma analisado no estudo (Foto: Takashiba/Wikimedia Commons)

As sequências dos lobos e cães também foram comparadas com as de outras espécies mais modernas, além de raposas, coiotes e dingos. De acordo com os resultados, que aguardam revisão por pares, a linhagem do lobo-japonês se destacou em relação aos outros animais, mostrando uma proximidade inédita com os cães. “É uma relação de irmãs”, afirma Yohey Terai, biólogo evolucionista da Universidade de Estudos Avançados Sokendai, à revista Science.

Os dados sugerem que eles teriam o mesmo ancestral: uma população de lobos cinzentos que viveu em alguma parte do leste da Ásia. Mas o estudo ainda não resolve o dilema das diferentes teorias sobre a domesticação canina. Enquanto um grupo de pesquisadores argumenta que os cães teriam surgido no nordeste da Sibéria, outra equipe sugere o Sudeste Asiático.

Apesar de não fornecer informações suficientes para confirmar uma das hipóteses, a pesquisa contribui para refutar outras suposições difundidas que incluíam regiões como a Europa Ocidental e o Oriente Médio. É nisso que acredita Peter Savolainen, geneticista do Instituto Real de Tecnologia de Estocolmo, na Suécia, que não participou do novo artigo, mas é um dos cientistas que indicam o sudeste da Ásia como local de origem dos cachorros.

O estudo apontou ainda que nem todos os cães apresentam a mesma sobreposição genética com o lobo-japonês. Os dingos e as raças japonesas modernas, por exemplo, dividem até 5% de seu DNA com o lobo-de-honshu. Já os cães ocidentais como pastores alemães e labradores compartilham muito menos material genético.

Dingos no zoológico de Taronga, em Sydney, na Austrália  (Foto: Brian Giesen/Wikimedia Commons)

Dingos no zoológico de Taronga, em Sydney, na Austrália (Foto: Brian Giesen/Wikimedia Commons)

A equipe de Terai especula que os cachorros orientais tenham sido criados com o lobo-japonês e, depois, com os cães ocidentais. Assim, teria restado apenas uma assinatura diluída do DNA dos lobos nas raças caninas do oeste do planeta.

Laurent Frantz, geneticista da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, na Alemanha, argumenta que mais pesquisas são necessárias para confirmar que cães e lobos tiveram o mesmo ancestral direto. Mesmo assim, considera a descoberta empolgante. “Este é um bom passo”, diz Frantz. “Lobos são a chave para entender cães, então vai ser muito emocionante ver onde isso vai dar.”

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