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Florestas em terras indígenas protegidas são mais saudáveis, funcionais, diversificadas e ecologicamente resilientes

Florestas em terras indígenas protegidas são mais saudáveis, funcionais, diversificadas e ecologicamente resilientes

Não é novidade o fato de que florestas localizadas dentro de terras indígenas são mais preservadas. Vários estudos já provaram que há menos desmatamento em áreas onde esses povos vivem. Todavia, pela primeira vez, pesquisadores analisaram a chamada “integridade” da vegetação nessas reservas.

O resultado da análise feita em florestas da África, Ásia e América apontou que as florestas situadas em terras indígenas protegidas são mais saudáveis, funcionais, diversificadas e ecologicamente resilientes.

“Usamos uma métrica chamada integridade da floresta para medir a qualidade da floresta em relação à sua estrutura, composição e função – refere-se a quão resiliente e saudável é uma floresta”, explica Jocelyne Sze. “Nossa pesquisa anterior descobriu que nos trópicos, as taxas de desmatamento e degradação eram menores em terras indígenas em comparação com áreas não protegidas, mas esses índices de desmatamento e degradação são medidas bastante simples, então queríamos analisar realmente a integridade da floresta”.

Jocelyne é pesquisadora do Grantham Centre for Sustainable Futures da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, e principal autora de um artigo científico publicado esta semana na Current Biology.

No estudo, ao lado de outros colegas, a cientista ressalta que nos últimos dois séculos, as ações humanas resultaram no aumento das temperaturas, um enorme desequilíbrio de carbono e uma tremenda perda de biodiversidade. No entanto, há casos em que o homem consegue ajudar a remediar esse dano. Como quando demarca e protege terras indígenas.

“Os povos indígenas vêm dizendo há décadas que são os melhores guardiões de suas pátrias e nossos resultados confirmam isso”, diz Jocelyne.

De acordo com um levantamento anterior publicado pela pesquisadora no ano passado, em terras indígenas o desmatamento é, em média, 1/5 menor do que em áreas não protegidas.

Agora, para avaliar a saúde dessas florestas, o estudo comparou quatro categorias de terras: aquelas não protegidas, as indígenas, as protegidas sobrepostas à terras indígenas e protegidas mas não situadas dentro de terras indígenas.

A sobreposição de dados apontou que em todos os continentes, a integridade das florestas era mais alta em terras indígenas protegidas, o que acontece com maior frequências em países da América, e com menor, na África.

O artigo cita a mobilização na Amazônia brasileira dos povos Munduruku para evitar o desmatamento ao protestarem contra a construção de usinas hidrelétricas em seus territórios.

Todavia, o cenário não é o mesmo em todos os continentes analisados.

“Foi realmente muito interessante que nem tudo foi positivo. Descobrimos que, na Ásia e nas Américas, dentro de espaços que são apenas terras indígenas – portanto, fora das áreas protegidas – o efeito sobre a integridade foi realmente pior do que não áreas protegidas”, revela a autora principal do artigo.

Uma das hipóteses para explicar tal fenômeno é que governos asiáticos tendem a não reconhecer os direitos indígenas e por isso, eles não são os proprietários de suas terras, que com frequência acabam sendo exploradas para a extração de minerais e outros recursos naturais.

Para Jocelyne, fica evidente que a implementação de legislações que garantem os direitos indígenas em áreas protegidas contribuem de forma inequívoca para manter a integridade das florestas tropicais.

“Minha pesquisa é muito inspirada no que os movimentos climáticos descoloniais estão tentando alcançar, na tentativa de que comunidades indígenas e locais tenham mais autonomia sobre esses espaços”, afirma.

Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.