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Cristais fornecem novas pistas sobre surgimento dos continentes

Cristais fornecem novas pistas sobre surgimento dos continentes

Os continentes, grandes massas de terra que sustentam toda a vida fora do oceano, por mais importante que sejam para nós, ainda não têm uma origem clara para a ciência. Agora, um estudo conduzido com cristais pode ter nos deixado mais perto desta descoberta.

A pesquisa foi dirigida por geólogas associadas ao Museu de História Natural da Smithsonian, nos Estado Unidos, e se concentrou em uma hipótese sobre o motivo da crosta continental possuir menos ferro e mais material oxidado que a oceânica. Uma explicação popular para isso, surgida em 2018, seria a formação dos minerais conhecidos como granada.

A formação de cristais de granada na crosta continental era uma explicação popular para o surgimento dos continentes (Imagem: USGS/Wikimedia Commons)

A formação dos cristais de granada a partir do magma concentraria neles os átomos de ferro, deixando o material restante mais propenso à oxidação. Como consequência, estas porções da crosta se tornariam menos densas — e isso as colocaria no topo da crosta oceânica em um encontro de placas tectônicas. No artigo publicado nesta quinta-feira (04) na revista Science, as cientistas derrubam esta hipótese ao mostrar que não haveria pressão o suficiente na litosfera para a formação destes cristais.

Fazendo ciência

As pesquisadoras Elizabeth Cottrell e Megan Holycross buscaram simular no Laboratório de Alta Pressão da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, as condições de pressão e temperatura na crosta terrestre que gerariam a cristalização teorizada. 13 diferentes experimentos foram conduzidos, com pressões variando de 15.000 a 30.000 vezes a pressão da atmosfera e temperaturas de 950 a 1.230 ºC.

As taxas de ferro assimiladas nos cristais formados foram, então, comparadas com as de amostras de granadas do acervo de diversas instituições de geologia ao redor do mundo. O resultado indicou que, nas condições testadas — calibradas para simular exatamente o comportamento abaixo de vulcões — a remoção de ferro do magma não seria suficiente para explicar o nível deste elemento na crosta continental hoje.

Cristais de granada, em rosa, produzidos no experimento. O tamanho das amostras é comparável ao de um grão de açúcar (Imagem: Reprodução/Megan Holycross)

A pesquisa é um exemplo clássico de como a ciência progride mesmo se os resultados quando os resultados são positivos — por não conseguirem amostras de granada com a concentração de ferro esperada, os experimentos permitiram que uma teoria fosse provada falsa.

Os resultados ainda deixam em aberto o questionamento de como os continentes surgiram. A hipótese mais provável a partir de agora, de que o enxofre também tenha desempenhado um papel na oxidação da crosta, será investigada por pesquisas futuras de outros cientistas da mesma instituição.