Conheça organismos que moram nos confins da crosta da Terra por milhões de anos
A crosta rochosa da Terra pode até parecer um lugar monótono e sem vida, mas se você souber procurar, você vai se surpreender. Isso porque, metros abaixo, vamos encontrar os chamados endolitos. O termo vem do grego e significa “dentro da rocha“. Ele é utilizado para descrever a grande variedade de organismos que vivem no interior das rochas, como bactérias, vírus, fungos, líquens, algas e amebas.
Esses incríveis seres vivos são capazes de habitar até os mais minúsculos poros localizados entre grãos minerais e bolsos e fendas ocultos em formações geológicas gigantes. E eles mostram que estiveram lá, pois deixam uma coloração característica. Além disso, sabe o que é mais interessante dos endolitos? Eles sobrevivem por milhões de anos.
Endolitos: organismos peculiares
- Segundo o IFLScience, esses organismos habitam várias rochas no mundo todo, sendo que o lugar mais fácil de vê-los é em rochas acima do solo;
- Cientistas já documentaram colônias de micróbios dentro de monumentos maias de calcário, localizados no México;
- Tais organismos também são encontrados em lugares onde poucas formas de vida têm condições de habitar, como as rochas de vales secos do sul da Terra de Vitória (Antártida). Lá, temos algas verde-azuladas endolíticas. Há, ainda, organismos de algas similares no calcário encontrado nos desertos da Califórnia (EUA) e Israel;
- Esses organismos não preferem tais ambientes extremos, mas conseguem prosperar nessas regiões por enfrentarem pouca ou nenhuma competição com outras formas de vida.
Vida (ainda mais) subterrânea
Em regiões ainda mais profundas e impensáveis, existe vida também! Um estudo histórico de 2018 do Deep Carbon Observatory indicou presença maciça de micróbios, entre bactérias, arqueas e alguns eucariotos multicelulares.
A distância na qual eles vivem em relação à crosta terrestre? Entre incríveis 2,5 km e 5 km, tanto abaixo do solo nos continentes, como no fundo do mar. Essa pesquisa conseguiu comprovar, ainda, que 70% dos micróbios da Terra estão em seu subsolo.
Contudo, não se sabe ao certo como esses organismos se espalharam solo abaixo, pois ele é formado majoritariamente por sedimentos e rocha muito, mas muito compactados.
Os organismos se movem para baixo e lateralmente para migrarem por meio de rachaduras nas rochas ou, ainda, pode ser que tenham se originado ainda mais fundo, dentro da crosta e próximo a regiões, como fontes hidrotermais.
Diversidade com similaridades
Os micróbios podem ser tanto diversos, como ter semelhanças claras. Mas por que isso ocorre também é um mistério. Esses micróbios encontrados pelo Observatório de Carbono Profundo são submetidos a calor intenso, pressões fortíssimas, sem luz, quase sem nutrientes e teriam “ciclos de vida em escala de tempo quase geológica“.
“Explorar o subsolo profundo é semelhante a explorar a floresta amazônica. Há vida em todos os lugares, e em todos os lugares há abundância inspiradora de organismos inesperados e incomuns”, disse Mitch Sogin, cientista do Laboratório Biológico Marinho Woods Hole e copresidente da comunidade Deep Life do Deep Carbon Observatory, em declaração.
Longevidade
Quando se trata do tempo que esses organismos vivem, também se trata de algo surpreendente. Certa vez, cientistas recuperaram micróbios históricos presos em camada de sedimento marinho com 101,5 milhões de anos e desenterrados das profundezas no fundo do mar.
Eles foram levados ao laboratório, onde foram incubados. A partir daí, esses micróbios começaram a se multiplicar. A princípio, os pesquisadores não estimaram um tempo de vida exato para esses organismos, mas estima-se que são bem velhos.
“Acreditamos que a comunidade permaneceu lá por 100 milhões de anos, com número desconhecido de gerações. Como o fluxo de energia calculado para micróbios sedimentares do subsolo marinho é apenas suficiente para reparo molecular, o número de gerações pode ser inconcebivelmente baixo“, explicou Steven D’Hondt, autor do estudo e professor de oceanografia na Universidade de Rhode Island, ao IFLScience, em 2020.