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Como os corais havaianos estão resistindo ao aquecimento global?

Como os corais havaianos estão resistindo ao aquecimento global?

O aumento da temperatura média dos oceanos – uma consequência direta do aquecimento global – vem obviamente causando inúmeros problemas a plantas e animais marinhos, mas de acordo com um estudo feito pela Universidade Estadual de Ohio e de Oregon, nos EUA, algumas espécies de corais havaianos têm mostrado maior resiliência às mudanças climáticas.

A pesquisa foi conduzida por um período de 22 meses, um tempo consideravelmente maior que a média de outros estudos do tipo, que normalmente não passam de cinco ou seis meses. Segundo os pesquisadores, essa diferença de tempo foi um diferencial conclusivo ao revelar a capacidade de corais – alguns deles, pelo menos – não apenas se adaptarem para resistirem a problemas do aquecimento global, mas também prosperarem dentro deles.

Três das espécies mais comuns de corais havaianos mostraram maior resiliência contra o aquecimento dos oceanos, uma das principais consequências do aquecimento global
Três das espécies mais comuns de corais havaianos mostraram maior resiliência contra o aquecimento dos oceanos, uma das principais consequências do aquecimento global (Imagem: In Green/Shutterstock)

“Nós identificamos resultados surpreendentemente positivos em nosso estudo. Não vemos muito disso no campo de pesquisas de corais quando o assunto é o aquecimento oceânico”, disse Rowan McLachlan, pesquisador de pós-doutorado em Oregon, mas cujo trabalho ele começou em sua tese de doutorado quando estudava em Ohio.

Junto dele está Andréa Grottoli, professora emérita de Ciências da Terra em Ohio. “Existem aspectos da biologia dos corais que levam um longo tempo para se ajustarem”, ela disse. “Pode haver uma queda séria quando eles enfrentam fatores estressantes, mas depois de um tempo suficiente passar, os corais podem se recalibrar e voltar à normalidade”.

É importante ressaltar que nada disso reduz a intensidade do problema do aquecimento global, de acordo com os dois autores do estudo, mas saber que o tempo pode ser um fator decisivo na adaptação dos corais havaianos a condições mais complicadas pode trazer uma ponta de esperança a climatologistas e cientistas ambientais pelo mundo.

Dentro do método técnico da pesquisa, McLachlan e Grottoli selecionaram as três espécies mais comuns de corais havaianos (Montipora capitataPorites compressa e Porites lobata) e as posicionaram em versões artificiais de quatro condições climáticas diferentes – oceanos atuais; oceanos acidificados (-0,2 pH); oceanos aquecidos (+2º Celsius) e, finalmente, uma condição onde os oceanos estariam ao mesmo tempo acidificados e aquecidos.

De uma forma geral, as alterações oceânicas vão machucar – muito – as espécies de coral: apenas 61% delas sobreviveram às condições de aquecimento, versus 92% das condições oceânicas normais. Entretanto, as duas espécies Porites se mostraram mais firmes: dentro do ambiente com acidificação e aquecimento, 71% da P. compressa, 56% da P. lobata e 46% da M. capitata sobreviveram.

“De todos os corais havaianos sobreviventes, especialmente as duas espécies Porata estavam suportando muito bem, até mesmo progredindo”, disse McLachlan. “Elas foram capazes de se adaptar à temperatura e acidez acima das médias. As Porites que sobreviveram, por exemplo, conseguiram se manter dentro das taxas normais de metabolismo e crescimento”.

Grottoli, no entanto, ressaltou que as condições criadas em laboratório podem não ter sido completamente fiéis à reprodução do ambiente real. Ela estima que a M. capitata teria melhores resultados em um ambiente verdadeiro devido à presença de zooplânctons – que ela usa como fonte de alimento em condições estressantes. E esse elemento pode ter faltado no laboratório.

Ainda assim, a capacidade de adaptação das espécies pesquisadas, em um estudo bastante próximo das condições reais de vida, oferece uma robustez de dados que, esperam os autores, sirva como base para que estudos futuros tenham maior aprofundamento – Grottoli explica, por exemplo, que elementos extenuantes, como poluição ou pesca predatória excessiva, não foram considerados nesta pesquisa, mas amplamente afetam a saúde de corais no mar.

“Nós não sabemos como os corais havaianos vão se comportar se as mudanças de temperatura e acidez acabarem sendo mais drásticas do que as que aplicamos neste estudo”, disse McLachlan. “Nossos resultados oferecem alguma esperança mas a taxa aproximada de mortalidade em 50% para algumas espécies não é algo pequeno”.

O estudo foi publicado no jornal Scientific Reports.