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Cientistas criam inseticida contra Aedes aegypti com planta do Nordeste

Cientistas criam inseticida contra Aedes aegypti com planta do Nordeste

“Luppia gracilis”, espécie vegetal nativa da caatinga e do cerrado, se mostrou eficaz em matar e repelir este e outro mosquito vetor da dengue

Segundo divulgado em comunicado em 6 de fevereiro, uma pesquisa feita na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desenvolveu um inseticida e um repelente a partir da extração do óleo de uma planta nativa da caatinga e do cerrado: a Lippia gracilis. Os produtos se mostraram eficazes em matar e repelir os insetos Aedes aegypti e o Aedes albopictus, ambos vetores da dengue.

A planta aromática L. gracilis (também chamada de alecrim-da-chapada ou alecrim-de-serrote) é endêmica do nordeste brasileiro e é encontrada predominantemente nos estados da Bahia, Sergipe e Piauí.

As folhas da espécie semi-árida são ricas em óleos essenciais com profunda ação antimicrobiana contra fungos e bactérias. Devido a suas propriedades medicinais, diversas espécies de Lippia são investigadas para possível aplicação em tratamentos, revelando propriedades como sedativa e até antiespasmódica.

O pesquisador Renan Leite, discente de Biotecnologia, realizou o estudo sob orientação da professora Fabíola Nunes, do Centro de Biotecnologia (CBiotec). A pesquisa foi realizada através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) no Laboratório de Biotecnologia Aplicada a Parasitas e Vetores (Lapavet).

Os pesquisadores trabalharam a partir da extração do óleo essencial das folhas da planta por meio de um processo chamado destilação por arraste a vapor. Este procedimento consiste em utilizar o vapor de água para volatizar substâncias presentes na planta. Após a extração, é feita uma solução estoque e ocorre a diluição e o teste de várias concentrações até chegar à mínima, resultado em que é possível eliminar o Aedes.

Pesquisador em testes do inseticida contra o mosquito da dengue — Foto: Divulgação Ascom/UFPB
Pesquisador em testes do inseticida contra o mosquito da dengue — Foto: Divulgação Ascom/UFPB

Os estudos foram iniciados em fevereiro de 2023 e, de acordo com Leite, a escolha para utilizar a Li.gracilis ocorreu devido a sua capacidade de produzir até 700% a mais de óleo essencial usando metade da quantidade que seria usada para extração de outras plantas responsáveis pela produção de óleos essenciais.

Como exemplo, em 300g de folhas, o discente conseguiu extrair 22ml de óleo essencial, enquanto que a média de extração em outras espécies, é entre 1ml – 5ml para cada kg de folhas.

A professora Fabíola Nunes explica que tradicionalmente o Lapavet possui pesquisa de inseticidas e repelentes feitos a partir de produtos naturais e sintéticos. Foram inúmeras plantas estudadas e agora a L.gracilis vai ser incorporada no portfólio, que alcançou resultados esperados.

“Os mecanismos de ação envolvidos na morte dos mosquitos envolvem a morte celular e a diminuição da produção de óxido nítrico produzido pelos hemócitos. Mais estudos estão sendo realizados visando ampliar a compreensão desses mecanismos de ação”, explicou Nunes.

Um dos principais benefícios do inseticida e repelente é seu fácil acesso por se tratar de uma planta comum em duas regiões brasileiras. Além disso, não é nocivo para o meio ambiente e pode gerar emprego para toda cadeia de produção.

Como inseticida, pode ser utilizado como aerossol e líquido. Já a aplicação do repelente é em uso tópico ou aerossol. A comercialização dos produtos ainda estão indisponíveis devido à espera para liberação das patentes.

Amostra do inseticida contra o Aedes aegypti — Foto: Divulgação Ascom/UFPB
Amostra do inseticida contra o Aedes aegypti — Foto: Divulgação Ascom/UFPB

O projeto rendeu numerosos trabalhos científicos, apresentados em eventos regionais, nacionais e internacionais. Ganhou uma “Menção Honrosa” pela comissão avaliadora do 2º Simpósio Brasil-França de Química Medicinal, que ocorreu em João Pessoa, na Paraíba, em 2023.