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Cientistas brasileiros criam fertilizantes a partir de lodo de esgoto

Cientistas brasileiros criam fertilizantes a partir de lodo de esgoto

Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram um fertilizante sustentável a partir do tratamento do lodo de esgoto, chamado biocarvão ou biochar-k. O produto tem como característica ser muito mais rico em nutrientes e ainda reduz a emissão de gases de efeito estufa, como óxido nitroso. Além dessas qualidades, ele tem a capacidade de reter água, que para as condições tropicais é essencial, especialmente no período de estiagem, fazendo com que a planta sobreviva melhor durante o estresse hídrico.

As pesquisas começaram há mais de 10 anos, a partir da pirólise do lodo de esgoto (é um processo de queima sem a presença de oxigênio). Após essa queima, é obtido o biocarvão de lodo de esgoto. Com algumas pesquisas foi possível observar que esse material era pobre em um dos nutrientes primários que as plantas necessitam o potássio (k), isso porque ele é extraído após a lavagem no tratamento do esgoto. Depois desta constatação surgiu a ideia da criação de um novo fertilizante, enriquecendo o biocarvão com potássio.

Segundo o professor e coordenador do projeto, Cícero Célio de Figueiredo, 50 anos, a pesquisa levou muito tempo, pois desenvolver um produto novo exige diferentes etapas. “Primeiro o sistema de produção em si. Após isso, vem a etapa de caracterização do material para saber se ele realmente contém aquilo que é necessário para chegar no objetivo”, explica. Depois do processo de estudos na teoria, a tese é colocada em prática.

Cícero de Figueiredo explica que o fato da matéria-prima ser o lodo de esgoto (que é de graça), o valor do produto pode girar em torno de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil a tonelada.

“Nós só gastamos com a energia no aquecimento durante a pirólise, para o transformar no biocarvão. Mas isso é muito variável, pois depende da temperatura que nós estipulamos e do tempo que ele fica lá. Mas os testes mostram que vai girar em torno disso mesmo”, conclui.

Joisman Fachini, 28, fez seu doutorado no âmbito do projeto e explica como foram as etapas na produção do Biochar-K. “Foram quatro anos de estudos, período em que fizemos toda a caracterização do material. Fizemos testes para descobrir como era a liberação do potássio, e, por fim, foi testado para fins agronômicos”, descreve.

Durante esses testes foi possível constatar que o potássio era liberado de forma lenta, o que é muito importante para a produção, pois grande parte dos fertilizantes perdem esse nutriente com as primeiras chuvas e irrigações. Nas pesquisas, nós descobrimos que nosso fertilizante em 30 dias de incubação, só perde 50% do material, isso mostra que a planta vai absorvendo com mais efetividade. O que é muito importante para o produtor em viés econômico, e também ambientalmente “, explica.

Joisman conta que hoje em dia, boa parte dos custos de produção da lavoura está ligada com as despesas com fertilizantes.

“Com essa criação, nós conseguimos diminuir as doses de fertilizantes aplicadas a cada safra”, relata.

O fertilizante está sob desenvolvimento de novas formulações das fontes solúveis com uso de fontes naturais com o objetivo de ser ainda mais ecológico.

“A aplicação do fertilizante nas plantas ainda não começou, se tudo ocorrer como o esperado, começa no ano que vem”, informa Marcela.