Aos 99 anos, artista e ambientalista paranaense se une à luta para que políticos tenham maior compromisso com a conservação
Desde muito jovem a curitibana Íris Bigarella demonstrou sua inquietude e curiosidade diante da vida. Formou-se em Geografia, História e Antropologia num tempo em que poucas mulheres iam para a universidade. E ao passar das últimas sete décadas, se aventurou pelas mais diversas áreas do conhecimento: da arte à poesia até a psicologia analítica. Expôs suas obras em várias exposições coletivas e individuais.
Ao lado do marido, Íris também se embrenhou pelo ativismo ambiental. Foi casada com o pesquisador e professor João José Bigarella, referência internacional em Geologia e Geociências. Autor de mais de 200 artigos científicos, junto com a esposa, foi um dos fundadores da Associação de Defesa e Educação Ambiental (ADEA), a primeira organização ambiental do Paraná. Já o tombamento da Serra do Mar no estado, em 1978, e que culminou com a criação do Parque Estadual Pico Marumbi, levou em conta seus trabalhos. Até o fim da vida, o cientista lutou contra a ameaça da possível reabertura da Estrada do Colono, que corta o Parque Nacional do Iguaçu (leia mais aqui).
Mas nem o falecimento do companheiro, em 2016, aos 92 anos, fez Íris perder força. Há dois anos lançou o livro “Chegando Feliz aos cem anos – História de uma apaixonante jornada”, em que fala sobre o envelhecimento e convida a uma reflexão sobre o sentido da vida ao contar mais sobre sua trajetória.
Com três filhos, cinco netos e seis bisnetos, aos 99 anos, completos em agosto último, a ativista continua na ativa. Recentemente foi uma das signatárias de uma carta aberta divulgada pela Aliança pela Conservação do Patrimônio Natural do Paraná, que reuniu mais de 150 assinaturas de entidades e pessoas físicas que pedem mais compromisso político com a conservação da natureza no estado a candidatos aos cargos de senador, governador e deputado estadual e federal nas eleições 2022.
Entre as reinvindicações da carta estão a institucionalização e implementação de um programa efetivo de conservação do patrimônio natural do Paraná, a revisão do modelo de operação do Conselho Estadual do Meio Ambiente, a instauração da política de “Desmatamento Ilegal Zero” e a restauração e monitoramento das bacias hidrográficas através da criação de um comitê permanente para as mudanças climáticas.
Fizemos uma breve entrevista, por e-mail, com Íris e suas respostas você encontra abaixo:
Por que a senhora decidiu ser uma das signatárias da carta aberta aos candidatos sobre o meio ambiente?
Por considerar que este é um caminho direto, honesto e muito adequado.
Acredita que, em qualquer idade, é necessário estar envolvido com as questões políticas e ambientais?
Certamente! Em todas as fases de nossa vida consciente devemos perceber e agir para o bem da comunidade à qual pertencemos.
Quais são suas principais preocupações com a questão ambiental no Brasil nos dias de hoje?
Parece-me que os poderes governamentais ainda estão prioritariamente envolvidos com resultados imediatistas, sem alcance ao menos um pouco mais futuro.
Ao longo da sua vida, a senhora percebeu que o ser humano foi se dando maior conta da sua responsabilidade com o planeta? Ou ele ainda não se deu conta da sua conexão intríseca com o nosso habitat natural?
O caminho da busca é longo. Estamos no começo promissor.
Quais foram os principais aprendizados que a senhora teve ao presenciar o ativismo de seu marido?
Que toda e qualquer abordagem deve começar pelo estudo do problema e ampla divulgação de suas consequências.
Que futuro a senhora sonha para os seus netos e bisnetos?
Sonho com um futuro de esperança, coragem e intenso engajamento!
Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
