“Amazônia é a última grande região bem preservada e rica em biodiversidade no mundo” diz Bráulio Dias
Em entrevista ao podcast Entre no Clima, o professor do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília falou sobre o papel dos governos, lideranças e sociedade para preservar a floresta
Inúmeras pesquisas demonstram como os incêndios e as queimadas atingem e agridem um dos principais biomas do Planeta, que guarda 10% da biodiversidade mundial. Recentemente, um estudo publicado na revista científica Nature comprovou que o fogo na Amazônia, provocado pela ação humana, pode ter atingido 95,5% das espécies de plantas e animais vertebrados conhecidos da floresta.
Para falar sobre a importância da preservação da biodiversidade da Amazônia, conversamos com Bráulio Dias, Prof. do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília e ex-secretário executivo da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica.
Além de ter desenvolvido uma série de pesquisas a respeito da biodiversidade e da ecologia no Brasil, Bráulio também ocupou diversos cargos no Ministério do Meio Ambiente, como Diretor de Pesquisa do IBAMA, Diretor de Conservação da Biodiversidade e Secretário Nacional de Biodiversidade e Florestas.
Para o professor, além do desmatamento, a degradação da floresta, causada pela exploração ilegal de madeira, garimpo, caça e outras atividades ilegais, também liga o sinal de alerta para a biodiversidade. “Essa é a última grande região bem preservada e rica em biodiversidade em escala global”, diz, acrescentando que, apesar das várias ameaças para sua preservação, ainda há mais espécies em extinção no Cerrado e na Mata Atlântica do que na Amazônia.
Braulio Ferreira: professor da UnB e ex-Secretário Executivo da Convenção sobre Biodiversidade da ONU. — Foto: Divulgação
Para Bráulio, apesar da situação desanimadora, vários avanços importantes foram realizados na última década. “É evidente que muito foi feito nos últimos anos e são esses erros e acertos que devemos usar como base para criar novas estratégias globais de biodiversidade que incluam todos os setores econômicos”.
Outra alternativa que colabora com a preservação da biodiversidade da floresta amazônica é o investimento em bioeconomia, segundo o especialista. “Essa é a forma mais sofisticada de agregação de valor para a biodiversidade e o Brasil ainda tem passos importantes para dar nesse sentido, já que a Amazônia recebe apenas 5% dos investimentos em ciências e tecnologia”, ressalta.
Segundo o relatório “A situação das árvores no mundo”, do Botanic Gardens Conservation International ( BGCI ), o país campeão em espécie de árvores no mundo é o Brasil, com mais 8 mil, presentes principalmente na Amazônia e na Mata Atlântica. “Temos este patrimônio precioso e estamos literalmente queimando ele. Mais de 30% das espécies de árvores estão ameaçadas no mundo inteiro”.
O professor também ressalta a importância do Brasil criar uma estratégia com visão de futuro, não apenas para garantir a floresta Amazônica em pé, mas para manter a biodiversidade dos rios, que abrigam mais de 3 mil espécies de peixes.