A cidade, o rio e o mar
De qualquer modo, veio do rio o nome da terra. Foi nele que navegaram o índio, o colonizador fidalgo ou degredado, as armas, os mantimentos, os materiais de construção, inclusive as pedras trazidas do Rio de Janeiro para calçar a Rua Direita, além de outros importados menos grosseiros.
Suas águas mansas coalhadas de lama foram portadoras do açúcar, do fumo, de todas as cabotagens atraídas para uma das capitanias mais prósperas do começo do século XVII, a Parahyba.
Na transição para a República, todo o abastecimento ainda está voltado para o rio, desde a mamona que ilumina os lampiões de rua ao aparelho de acetileno importado para a iluminação do Santa Rosa. A Rua das Convertidas, atual Maciel Pinheiro, reunia-se aos balcões dos cafés e das lojas com os ouvidos pregados à política e ao apito do vapor que trazia a seda, o cheviot, a cachemira ou as cotações de Liverpool para os algodões seridó e da mata, produto que já rivalizava com os preços do açúcar.
Rua onde podia avistar-se, de passagem, o Conde d’Eu, o homem da recém-instalada estrada de ferro, ou o Coronel Floriano Peixoto, morador da Rua Nova durante os tempos de sua missão na Paraíba.
Cidade Baixa e Cidade Alta eram os dois planos nitidamente separados em que o núcleo urbano se dividia, a primeira ocupada pelo comércio quase sempre de portugueses com firmas de exportação, atacado e varejo; a segunda erguida para exaltação de Deus e o exercício do Poder, através de igrejas, mosteiros, palácios e edifícios reais sempre em contrastes com o casario miúdo que descambava pelas ladeiras e perdia-se em sítios como Tambiá e Jaguaribe.
O mar, que em três séculos e meio tinha o povo passando longe e ao largo, agora se transforma no grande centro de interesses e de lazer. O rio, que foi rota de sagas, de riquezas e até do rei, desce hoje solitário, o desprezo assoreando mais que a lama e o mangue.