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MapBiomas: Brasil teve 4,48 milhões de hectares queimados entre janeiro e junho deste ano

MapBiomas: Brasil teve 4,48 milhões de hectares queimados entre janeiro e junho deste ano

Dados do MapBiomas mostram que área atingida pelo fogo foi 119% maior do que o mesmo período de 2023

O Brasil queima. É o que revelam os dados mais recentes do MapBiomas. Em todo o país, a
área atingida pelo fogo no primeiro semestre deste ano foi de 4,48 milhões de hectares,
sendo que 78% desse total ocorreu em vegetação nativa – a maioria em vegetação campestre (40%). Entre os biomas, a Amazônia registrou a maior área queimada, com 2,97 milhões de hectares – 66% do total atingido pelo fogo no país.

Cerrado foi o segundo bioma mais atingido pelas chamas, com 947 mil hectares queimados nos seis primeiros meses de 2024 – o que representa 48% (307 mil hectares) a mais, quando comparado ao mesmo período de 2023. A maior parte do fogo ocorreu em
áreas de vegetação natural (72%). Em junho, esse bioma foi o que mais registrou áreas
queimadas, com 534 mil hectares. Os números fazem parte do Monitor do Fogo do MapBiomas, mapeamento mensal das áreas queimadas no Brasil desde 2019, produzidos a
partir de monitoramento por imagens de satélites e processamento de dados com uso de
inteligência artificial.

No primeiro semestre deste ano, os estados com mais áreas queimadas no país foram:
Roraima, com 2 milhões de hectares, o que representa 44% do total queimado no Brasil;
Pará, com 535 mil hectares, e Mato Grosso do Sul, com 470 mil hectares. Os três representaram 67% do total da área afetada pelas chamas no semestre.

“No início de 2024, observamos uma concentração significativa de incêndios na Amazônia,
especialmente nas áreas de vegetação campestre de Roraima. Este estado, diferentemente
do restante do bioma, enfrenta um período de seca nos primeiros meses do ano. Esse
fenômeno foi intensificado pelas condições climáticas mais secas resultantes do El Niño,
criando um ambiente propício para o alastramento do fogo, com desafios adicionais de
controle e mitigação”, afirma Felipe Martenexen, pesquisador do IPAM responsável pelo
mapeamento da Amazônia no Monitor do Fogo.

“Em junho, o fogo se concentrou mais no Cerrado e no Pantanal, regiões que enfrentam sua
temporada de fogo devido à redução das chuvas e ao aumento das temperaturas. No
Cerrado, é comum queimar mais durante esta época por causa da estiagem, porém a área
queimada no primeiro semestre no bioma foi a maior dos últimos seis anos monitorados. Já
no Pantanal, a temporada de fogo começou mais cedo do que o esperado, intensificando os
desafios para a gestão do fogo”, explica Vera Arruda, pesquisadora no IPAM e coordenadora
técnica do Monitor do Fogo.

No Pantanal 468 mil hectares queimaram no primeiro semestre deste ano, 370 mil hectares
em junho – o equivalente a 79% do total, a maior área queimada no bioma no primeiro
semestre já observada pelo Monitor do Fogo. Uma das áreas mais afetadas pelo fogo no
Pantanal em 2024 foi nas proximidades da cidade de Corumbá, com 299 mil hectares
queimados apenas em junho. Nos seis primeiros meses do ano, a área queimada no bioma
aumentou 529%. Foram 394 mil hectares a mais em comparação à média histórica dos cinco
anos anteriores.

foto mostra Além dos eventos climáticos que agravam a seca, a redução da disponibilidade de água no Pantanal tem relação com ações humanas que degradam o bioma, como a construção de barragens e estradas, o desmatamento e as queimadas © Silas Ismael / WWF-Brasil, MapBiomas
Além dos eventos climáticos que agravam a seca, a redução da disponibilidade de água no Pantanal tem relação com ações humanas que degradam o bioma, como a construção de barragens e estradas, o desmatamento e as queimadas – Foto: Silas Ismael / WWF-Brasil

Seca extrema e incêndios no Pantanal em 2024

A relação entre água e fogo no Pantanal é inegável; a redução drástica da superfície de água
associada a eventos extremos de seca cria condições propícias para a ocorrência e propagação de incêndios. O Pantanal, proporcionalmente, foi também o bioma que mais
secou ao longo dos últimos 39 anos. A superfície de água em 2023 foi de 382 mil hectares –
61% abaixo da média histórica. O ano de 2023 foi 50% mais seco do que 2018, quando
ocorreu a última grande cheia no bioma. As equipes do MapBiomas elaboraram uma nota
técnica que detalha a relação entre seca e fogo no bioma.

Nos últimos meses de 2023, o Pantanal já registrava uma superfície de água inferior à média
dos últimos seis anos e equivalente aos anos de 2020 e 2021, que foram os anos mais secos
já observados desde 1985. Em 2024, a situação se agravou, com a precipitação acumulada
de janeiro a maio atingindo o menor nível desde 2020, indicando um retorno às condições
de seca extrema. “Em 2024, não tivemos o esperado pico de cheia. Pelo contrário, estamos
enfrentando um período de seca que deve se estender até setembro, facilitando a incidência
e propagação do fogo.”, ressalta Eduardo Rosa, do MapBiomas.

Acompanha AQUI sobre a nota técnica da seca extrema e incêndios no Pantanal 2024.

Panorama das Áreas Queimadas na Mata Atlântica, Pampa e Caatinga

Na Mata Atlântica, 73 mil hectares foram queimados entre janeiro e junho de 2024, a maior
parte (71%) concentrada em áreas agropecuárias. No Pampa, nesse mesmo período, a área
queimada foi de 1.145 hectares, figurando entre as menores observadas nos últimos seis
anos. Normalmente, o Pampa apresenta pouca extensão de áreas queimadas, que ficam
ainda mais reduzidas em períodos de El Niño, fenômeno climático que no sul do Brasil se
manifesta de modo inverso, resultando em aumento das chuvas. Na Caatinga queimaram
16.229 hectares nos seis primeiros meses, um aumento de 54% em relação ao mesmo
período de 2023, concentrado principalmente em formações savânicas (65%).

Recordes da área queimada no mês de Junho

Em junho 1,1 milhão de hectares foram queimados no país – número 103% maior do que o
mesmo período do ano passado (560 mil hectares a mais). Desse total, 81% da área
queimada foi em vegetação nativa – a maioria em formação campestre (46%). Nas áreas de
uso agropecuário, 11% das áreas atingidas pelas chamas em junho foram em pastagens.
Com relação aos estados, os que mais queimaram nesse mês foram: Mato Grosso do Sul
(369 mil hectares), Tocantins (229 mil hectares) e Mato Grosso (202 mil hectares), com
destaque para os municípios de Corumbá (MS), Tangará da Serra (MT), e Porto Murtinho
(MS).

Sobre o Monitor do Fogo: o Monitor do Fogo é o mapeamento mensal de cicatrizes de fogo
para o Brasil, abrangendo o período a partir de 2019, e atualizados mensalmente. É baseado
em mosaicos mensais de imagens multiespectrais do Sentinel 2 com resolução espacial de 10
metros e temporal de 5 dias. O Monitor de Fogo revela em tempo quase real a localização e
extensão das áreas queimadas, facilitando assim a contabilidade da destruição decorrente
do fogo (https://plataforma.brasil.mapbiomas.org/monitor-do-fogo).

Sobre o MapBiomas Fogo: Mapeamento mensal e anual das áreas queimadas no Brasil por
meio do processamento de imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 , 8 e 9 de 1985 a 2023. Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área queimada em cada pixel de
30 m X 30 m dos mais de 851 milhões de hectares do território brasileiro ao longo do
período, em todos os tipos de cobertura e uso da terra. Os novos módulos incluem dados do
tamanho das cicatrizes de queimadas e o último ano em que cada pixel foi afetado pelo
fogo. Os dados resultantes estão disponíveis em mapas e estatísticas anual, mensal e
acumulada para qualquer período entre 1985 e 2023 na plataforma
https://plataforma.brasil.mapbiomas.org/fogo, aberta gratuitamente a todos. Ela também
inclui dados de frequência de fogo, indicando as áreas mais afetadas nos últimos 39 anos e o
tipo de cobertura e uso da terra que queimou, permitindo recortes territoriais e fundiários
por bioma, estado, município, bacia hidrográfica, Unidade de Conservação, Terra Indígena,
Assentamentos rurais e quilombos.

Sobre o MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e
empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e uso da terra
no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como
forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa,
atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no
mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de
forma pública e gratuita no site da iniciativa (https://brasil.mapbiomas.org/). Além disso, a
rede MapBiomas ampliou-se para outros 13 países, como também gera outros produtos
como MapBiomas Alerta, MapBiomas Fogo, MapBiomas Água e MapBiomas Solo.

imagem mostra o infográfico do MapBiomas sobre o fogo no Brasil