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2021 atingiu novo recorde de concentração de metano na atmosfera da Terra

2021 atingiu novo recorde de concentração de metano na atmosfera da Terra

Os níveis atmosféricos de gases de efeito estufa (GEE) subiram em 2021 — em especial a concentração de metano, que atingiu um novo recorde, segundo dados de satélite do programa europeu Copernicus. O metano é até 80 vezes mais eficaz no aquecimento global do que o dióxido de carbono.

Segundo o novo relatório do programa que monitora a superfície da Terra, as concentrações de metano atingiram quase 1.900 partes por milhão (ppm) no ano passado, mesmo com a desaceleração econômica provocada pela pandemia e dos compromissos climáticos firmados.

O gráfico revela o aumento da concentração de metano (CHA4) na atmosfera e as médias anuais desde 2005 (Imagem: Reprodução/CCI/CAMS/SRON)

Parte desse metano é liberado naturalmente em processos de decomposição, enquanto outra parte vem da agricultura e das indústrias de energia. O gás, que aquece o clima até 80 vezes mais que o CO2, foi um dos principais focos de redução em emissão na 26ª Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP26, em novembro de 2021.

A concentração anual de metano também alcançou a marca de 16,3 ppb — pouco acima do recorde de 2020, mas além do dobro do aumento médio registrado anualmente entre 2005 e 2015. Os cientistas climáticos encaram esse dado com um fator preocupante.

Vincent-Henri Peuch, diretor do Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copernicus (CAMS, na sigla inglês), disse ser necessário mais estudos para entender se esse aumento faz parte de um ciclo natural de variabilidade ou se é um fenômeno relacionado a eventos mais recentes, como as atividades humanas.

Aumento nas concentrações de metano na atmosfera

Peuch explicou que o aumento do metano também pode diminuir a capacidade que a atmosfera tem em decompor este gás. Em níveis atmosféricos, o metano reage com o oxigênio e, gradualmente, forma o dióxido de carbono — bem menos nocivo ao clima.

A concentração de CO2 também subiu, embora menos que a de metano (Imagem: Reprodução/CCI/CAMS/SRON)

Segundo especialistas climáticos, uma redução de 30% nas emissões de metano até 2030 seria o suficiente para diminuir 0,28 °C da temperatura global. No entanto, os níveis de concentração revelam um caminho bem distante desta meta, principalmente porque outros níveis GEEs também subiram no ano passado.

Os dados de satélite mostram um aumento de 2,4 ppt nas concentrações de dióxido de carbono, alcançando uma média anual de 414,3 ppm — pouco acima da média entre 2005 e 2015. Desde a Revolução Industrial, os níveis de CO2 atmosférico aumentaram 50%.

Recordes de temperatura

O programa europeu Copernicus também revelou que 2021 foi um dos sete anos mais quentes da história, acompanhado dos seis anos anteriores. A Europa, no entanto, experimentou uma temperatura mais fria que outras regiões — uma média pouco acima dos registros entre 1991 e 2020.

As temperaturas médias anuais também continuam a aumentar (Imagem: Reprodução/CCCS/ECMWF)

Ainda assim, o continente europeu já se encontra 2,2 °C mais quente do que antes da Revolução Industrial, ultrapassando o limite de 2,7 °C firmado no Acordo de Paris. Já o clima global ficou entre 1 a 1,2 °C acima da temperatura média anterior ao mesmo período.

O cientista climático Freja Vamberg, do Copernicus Climate Change Service da União Europeia, explicou que o frio europeu pode ser uma variabilidade natural do clima, apesar do aquecimento. Mesmo assim a Europa também experimentou um calor intenso, registrando 48,8 °C na Itália em agosto do ano passado.

A Comissão Europeia, responsável pelo programa Copernicus, tem trabalhado em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA) para lançar uma nova constelação de satélites que consigam medir as emissões de GEE das atividades humanas em tempo real.