Yakecan: especialistas explicam dimensão do fenômeno que pode se tornar mais frequente no Brasil
Eventos como esses podem se tornar mais frequentes e devastadores nas próximas décadas. Saiba mais na reportagem de Álvaro Pereira Júnior.
A região de Punta del Leste, no Uruguai, onde vive o Juan Pablo, foi um dos primeiros pontos da América do Sul atingidos pelo ciclone Yakecan, na manhã da terça-feira (17). Ao longo do dia, o Yakecan foi subindo. E, na noite da mesma terça, já fazia estragos em Santa Catarina. Virou um caminhão como se não pesasse nada.
O Lucas, em Santa Catarina, e o Juan Pablo, no Uruguai, enfrentaram ao vivo um fenômeno que os cientistas conhecem bem.
“O Yakecan foi a sequência de um ciclone extratropical bastante intenso. Que se formou ali na costa da Argentina, sul do Brasil e Uruguai”, explica Ricardo de Camargo, professor do departamento de Ciências Atmosféricas da USP.
Tempestade Yakecan — Foto: Epagri/Ciram/Divulgação
Nessa época do ano acontecem mesmo ciclones na costa sul da América do Sul. Mas esse de agora, o Yakecan, foi diferente. Porque ele começou, como o professor Ricardo explica, como um ciclone extratropical, que surge em condições muito específicas da atmosfera, e não depende de interagir com o oceano.
Ficou meio “parado” em cima do mar, e foi absorvendo energia da água, que nessa época ainda está quente. Assim, acabou surgindo, embutido no ciclone extratropical, um outro ciclone: um subtropical. Esse, sim, interage com o oceano. E foi esse sistema misto – extratropical e subtropical – que fez todo o estrago que a gente viu.
E veio também um frio intenso: no Sul, onde vive a professora Eliana, no Sudeste e até no Centro-Oeste.
Como a gente já sabe, foram dois ciclones: um embutido no outro.
“Então esse frio todo que a gente sentiu essa semana foi em decorrência do primeiro ciclone extratropical”, explica o professor Ricardo.
Um fenômeno que tinha destruição, ou deveria ter até no nome: Yakecan, uma palavra que na língua Tupi, supostamente, significaria “som do céu”. Pelo menos é o que diz a lista oficial da Marinha, que é quem nomeia os ciclones que chegam ao Brasil. E sempre com nomes de inspiração indígena.
Independentemente dos nomes que recebam, os ciclones vão continuar atingindo o Brasil. E, num contexto de mudanças climáticas, o que se teme é que tragam “novidades”.
Fantástico: É possível que eles adquiram uma frequência de ocorrência maior nas décadas futuras?
Ricardo de Camargo: É uma projeção que se faz.
Entenda como eventos como esses podem se tornar mais frequentes e devastadores no nosso país vendo a reportagem de Álvaro Pereira Júnior, no vídeo.