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Ursos polares que sobrevivem com menos gelo oferecem esperança para futuro da espécie

Ursos polares que sobrevivem com menos gelo oferecem esperança para futuro da espécie

Novo grupo foi encontrado no sudeste da Groelândia; descoberta revela que local pode ser último bastião da espécie com clima mais quente

Quando se fala em mudanças climáticas, uma das primeiras imagens que vem a mente é a de um urso polar preso em um pequeno bloco de gelo à deriva no oceano. A espécie, que vem sofrendo com o aumento das temperaturas e o derretimento das calotas polares, se tornou um dos rostos mais conhecidos desta crise. Mas pesquisadores dizem ter encontrado um grupo de ursos no sudeste da Groenlândia que estão sobrevivendo apesar da falta de gelo marinho durante grande parte do ano.

Pelo conhecimento científico que se tinha até então, o sudeste da Groelândia definitivamente não era considerado um lugar onde os ursos polares pudessem prosperar. Isso porque, embora sejam bons nadadores, eles são animais terrestres que se alimentam esperando ao lado de rachaduras no gelo pelas focas que saem da água para respirar. Mas, no sudeste da Groenlândia, a temporada de gelo marinho é menor que quatro meses, informa a National Geographic, um tempo considerado curto demais.

A nova pesquisa, publicada na revista Science, apresenta evidências de DNA que revelam que algumas centenas de ursos que vivem nesta parte da Groenlândia são diferentes o suficiente para serem considerados a 20ª subpopulação da espécie conhecida até hoje. E, de acordo com os cientistas, os ursos polares em questão parecem ter sobrevivido graças ao gelo proveniente da água doce das geleiras que deságuam no mar.

Enquanto os ursos que vivem no nordeste da Groenlândia percorrem uma média de dez quilômetros por dia andando pelo gelo marinho, os do sudeste ficam perto da costa em uma série de fiordes – enseadas esculpidas por geleiras que são alimentadas pela calota de gelo. Nos meses de verão, pedaços deste gelo caem no oceano, criando o que os cientistas chamam de “geleira de água doce”, uma lama grossa que pode se compactar o suficiente para que os ursos polares andem por lá e cacem.

O estudo afirma que a descoberta é um vislumbre de esperança para a espécie, já que as condições no sudeste da Groenlândia hoje são semelhantes às esperadas para as partes mais frias do Ártico, seu lar mais comum, no final deste século. “Acho que eles podem nos ensinar algo sobre onde raros e pequenos números de ursos polares podem se manter em um Ártico sem gelo”, disse Kristin Laidre, da Universidade de Washington, ao The Guardian.

Apesar de apresentar um resultado otimista, os autores enfatizam que a conclusão deste estudo não é que os ursos polares serão mais resistentes às mudanças climáticas do que se acreditava antes, mas sim que lugares como o sudeste da Groenlândia – onde o gelo das geleiras de água doce pode compensar a perda de gelo marinho – podem ser onde os ursos polares farão sua última resistência.