Trump fecha principal laboratório climático da NASA em nova ofensiva contra a ciência; “É uma loucura” diz pioneiro do aquecimento global
O Goddard Institute for Space Studies, berço de descobertas espaciais e do primeiro modelo climático do planeta, será desativado em 31 de maio; cientistas denunciam ataque deliberado à ciência do clima
A guerra anticiência do governo de Donald Trump ganhou mais um capítulo e alvo: o Goddard Institute for Space Studies (GISS), principal laboratório da NASA voltado para o monitoramento climático e espacial, será fechado no dia 31 de maio, após decisão do presidente americano de não renovar o contrato de aluguel com a Universidade de Columbia, em Nova York.
O prédio, ocupado pela equipe desde 1966 e situado acima do famoso restaurante Tom’s (do seriado Seinfeld), foi a base para descobertas que marcaram a história recente da ciência, desde missões espaciais até a criação de um dos primeiros modelos climáticos do planeta.
“Eles estão tentando matar o mensageiro das más notícias. É uma loucura”, definiu o Dr. James Hansen, ex-diretor do GISS e considerado o “padrinho” da ciência climática e um dos primeiros especialistas a alertar o mundo sobre o aquecimento global.
Desde a posse, a administração Trump colocou todos os imóveis alugados por agências federais em áreas urbanas sob revisão. A questão é que o contrato do GISS, estimado em US$ 3 milhões anuais, não pode ser encerrado antes do prazo.
O resultado: um prédio vazio, pago com dinheiro dos contribuintes, enquanto os 130 cientistas que compõem o quadro do GISS trabalharão remotamente. “Ciência não é algo que você começa do zero. Existe muito conhecimento ali”, acrescentou Hansen.
A decisão é vista pela comunidade científica norteamericana e global como parte de uma política notadamente hostil à ciência climática. Trump, que já classificou o aquecimento global de “besteira” e “fraude”, vem cortando orçamentos e removendo dados sobre clima de sites oficiais do governo.
“Vejo isso como um ataque à ciência do clima”, disse Bastiaan van Diedenhoven, pesquisador que trabalhou no GISS por 13 anos. “Temos medo disso há tempos. O GISS está na lista (do Governo Trump) por fazer ciência climática de qualidade. Não sei como vai sobreviver sem um prédio. É devastador”.
Gavin Schmidt, atual diretor do GISS, lamentou o fato de que o laboratório havia sido reformado recentemente, e que seu fechamento, embora administrativo, tem impacto humano profundo. “O GISS tem uma cultura única de autonomia. Existe algo especial aqui. As pessoas poderiam estar em qualquer lugar, mas escolheram ficar onde a ciência é feita para o bem público”, lamentou.
O temor da comunidade científica é que o GISS, que já operava com orçamento modesto, entre em “hibernação” até que um novo governo o recoloque em funcionamento – ou, pior, que essa seja de fato a extinção de uma era, algo que afirma que lutará para que não aconteça. “Tivemos uma boa trajetória. Mas ainda não acabou”, prometeu Schmidt.
