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Startup fatura com plástico biodegradável à base de cana-de-açúcar

Startup fatura com plástico biodegradável à base de cana-de-açúcar

Bioplástico produzido pela greentech Earth Renewable Technologies (ERT) pode ser usado na fabricação de sacolas plásticas, garfos e embalagens em geral

Se uma sacola plástica pode levar até 450 anos para se decompor, segundo o Ministério do Meio Ambiente, a greentech Earth Renewable Technologies (ERT) tem como premissa oferecer uma alternativa. A empresa fabrica bioplástico feito de cana-de-açúcar, que promete ser decomposto em 180 dias após o uso. Além de sacolas, o material pode pode dar origem a garfos, copos, canudos e embalagens em geral.

O CEO da startup, Kim Fabri, explica que a matéria-prima principal é a cana-de-açúcar, mas outros ingredientes — como amido, farinha de madeira e talco — podem ser usados na produção de diferentes tipos de bioplástico. “São formulações que possuem aplicações diversas”, diz o empreendedor. O amido, por exemplo, é utilizado em sacolas, para impedir que as películas grudem e facilitar sua abertura. A farinha de madeira vai para embalagens de cosméticos secos. Já o talco está passando por testes para ser empregado na fabricação de tampas para cápsulas de café. A tese da greentech é que este bioplástico poderia aguentar altas temperaturas.

De acordo com Gabriela Gugelmin, diretora de estratégia e sustentabilidade da startup, os bioplásticos da ERT viram adubo em 180 dias quando em condições de compostagem, ou seja, expostos a calor, umidade e microorganismos. “Se ele for armazenado em um lugar muito quente e úmido, pode começar a perder a forma. Mas, de maneira geral, pode ser usado por período indeterminado”, afirma.

A startup foi fundada por cientistas da Universidade Clemson na Carolina do Sul (EUA), em 2009. Eles criaram a tecnologia para fabricar o bioplástico, mas não o comercializavam. Fabri adquiriu o negócio em 2018, com o objetivo de transformar o produto em algo que pudesse ser vendido nos EUA. Ele optou por vender o bioplástico para a indústria de transformação.

O primeiro cliente foi uma empresa do setor de cannabis, em 2020. “Um dia, lendo uma revista, vi que o mercado estava crescendo muito e tinha um apelo sustentável”, afirma Fabri. A ERT criou então um bioplástico que usava em sua fórmula a fibra do caule da planta da maconha. Segundo o empreendedor, o produto fez sucesso entre empresas do nicho. “Era um resíduo da indústria deles e que foi incorporado na embalagem, então isso tinha uma atratividade muito bacana já que estas empresas conseguiriam usar a maconha por inteiro”, afirma.

No ano seguinte, Fabri decidiu mudar a fábrica da empresa para Curitiba, no Paraná, pelos incentivos fiscais à exportação no Brasil. “Nos beneficiaríamos do Regime de Drawback [criado pelo Decreto-Lei 37/66, é a desoneração de impostos na importação vinculada a um compromisso de exportação], e exportaríamos para a Europa e os Estados Unidos”, afirma Fabri.

Com foco em vender para fora, o empreendedor ficou surpreso com o interesse local. “As marcas brasileiras buscam a sustentabilidade muito maior do que imaginávamos”. Hoje, cerca de 40% da produção é vendida a empresas nacionais.

Com raízes fincadas no Brasil, a startup atraiu a atenção de investidores. Em 2022, recebeu US$ 15 milhões de clientes XP Private, por meio de um veículo de investimento da própria XP. Neste ano, a Positivo liderou uma rodada no valor de R$ 80 milhões. A fabricante de computadores já era cliente da ERT, que desenvolvia um plástico para ser utilizado em um hardware.

Recentemente, a startup também anunciou uma parceria com iFood para oferecer sacolas plásticas feitas com cana-de-açúcar e amido, que já começaram a ser distribuídas nos bairros da Liberdade e da Saúde, em São Paulo.As perspectivas são otimista: a greentech pretende dobrar o faturamento deste ano em relação a 2022. Está nos planos ter uma fábrica em Manaus (AM). Fabri, no entanto, ainda não sabe dizer qual a capacidade produtiva e a previsão de abertura.