Sete lições que o Brasil pode dar – e aprender – sobre energia renovável

O combate às mudanças climáticas está diretamente ligado à redução das emissões de gases de efeito estufa. Que, por sua vez, exige a eliminação dos combustíveis fósseis e a expansão da energia a partir de fontes renováveis. Da transição energética justa e inclusiva depende o crescimento econômico e social dos países.
Não é à toa que na COP28, realizada em 2023, em Dubai, 118 países-membros se comprometeram a triplicar a capacidade de geração de energia renovável até 2030. A meta foi vista como um marco para reduzir custos globais de energia, e passo essencial para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em 10 bilhões de toneladas até o final da década.
O Brasil é um dos países com a matriz elétrica mais sustentável do mundo, com 84,25% de sua eletricidade proveniente de fontes renováveis, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Quando se trata da matriz energética, que inclui também transportes e indústria, o documento Ambição Climática dos BRICS: Brasil, publicado em 2025, destaca que o Brasil é o terceiro país no mundo com maior capacidade de geração de energia a partir de fontes renováveis.
Já o Fórum Econômico Mundial salienta que o país detém o 12º maior Índice de Transição Energética (ETI, sigla em Inglês) do mundo – indicador que representa o desempenho dos sistemas energéticos de uma nação, com foco também no equilíbrio de equidade, sustentabilidade energética e prontidão para a transição. O Brasil ficou em primeiro lugar entre as nações emergentes e entre todos os países do continente americano, e em terceiro entre as nações participantes do G20.
O histórico brasileiro com renováveis vem de longa data. Na geração de eletricidade, a primeira usina hidrelétrica instalada no país, de pequeno porte, deu a partida em 1889. Quase 100 anos depois, com as crises do petróleo nas décadas de 1970 e 1980, o país investiu em fontes alternativas de energia para não depender do combustível fóssil, na época vindo em grande parte do exterior. Veio, então, a produção de etanol com o Pró-Álcool, além de usinas a biomassa e de hidroeletricidade – Itaipu, que começou a operar em 1984, havia iniciado as obras na década anterior. Já a primeira turbina eólica foi instalada em 1992, e a primeira planta fotovoltaica, dez anos depois, em 2002.
São várias décadas de tentativas de produzir e garantir a soberania energética nacional com fontes renováveis, com erros e acertos por parte de governos e empresas. Com isso, certamente, o Brasil tem diversas lições para ensinar ao mundo – principalmente porque os países ainda estão muito aquém do compromisso de triplicar renováveis. Seguem algumas delas:
1. Investir em renováveis é bom para o clima
Não há muito segredo aqui. É matemática simples: com fontes de emissão menos poluentes, emite-se menos. O domínio dos combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás – na matriz energética global a partir da Revolução Industrial do século XVIII inundou a atmosfera de gases de efeito estufa (GEE), o que elevou a temperatura média do planeta a níveis perigosos. O resultado são eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos.
Segundo o observatório europeu Copernicus, a temperatura média global em 2024 foi 1,6°C acima da média pré-industrial, um novo recorde histórico de aquecimento. O ano também bateu outro recorde: o de emissões por combustíveis fósseis. Nesse ritmo, um estudo do Global Carbon Project (GCP) calcula que há 50% de chance do aquecimento global superar 1,5°C sobre níveis pré-industriais “de forma constante nos próximos seis anos”.
Enquanto países ricos do G20 dependem em grande quantidade dos combustíveis fósseis – como 58% da eletricidade gerada pelos EUA em 2024, 65% pela Austrália e 43% pela Alemanha – o Brasil lidera o ranking de eletricidade renovável no grupo.
As fontes renováveis são o caminho principal para conseguirmos conter o aumento da temperatura média global em 1,5ºC neste século. Segundo relatório do Climate Analytics, a geração eólica e solar no fim desta década precisa atingir cerca de 10 TW (terawatt) até o final da década, cinco vezes a capacidade de 2022, reduzindo o uso de combustíveis fósseis em 40%. Hoje a capacidade delas está em 2,4 TW, um aumento de 25% em 2 anos. Se mantiverem este ritmo, em 2030 serão 11 TW.
“Sabemos que as energias eólica e solar podem escalar rapidamente e ficarem mais baratas que os combustíveis fósseis. Nossa análise mostra que essas fontes fazem grande parte do trabalho pesado tão urgentemente necessário nesta década, então vamos acelerar a sua adoção”, argumentou Neil Grant, analista de energia e clima da Climate Analytics e um dos autores do estudo.
2. Investir em renováveis é bom para a economia
Enquanto os combustíveis fósseis causam sérios danos, como nas enchentes do Rio Grande do Sul em 2024, a matriz elétrica renovável pode adicionar até US$ 100 bilhões ao PIB brasileiro até 2040, mostra análise da consultoria Mckinsey.
O Idec mostra que esse ganhos vêm de diversas maneiras, desde a redução de custos na saúde com doenças respiratórias, quanto com a baixa flutuação nos preços da eletricidade. Ao contrário da energia renovável, os combustíveis fósseis sofrem oscilações de preço que muitas vezes estão ligados a questões internacionais, como crises políticas.
Sem tamanha oscilação do mercado internacional, as renováveis possuem maior previsibilidade de custos de energia para os consumidores – além de um custo menor para a sua produção, em especial a solar e eólica. A solar também pode ser instalada em sistemas descentralizados, o que gera mais resiliência em situações de eventos climáticos extremos e interrupção de fornecimento de energia elétrica.
Outro benefício econômico é a criação de empregos, os chamados “empregos verdes”, em áreas como instalação, manutenção e fabricação. A criação de postos de trabalho pode beneficiar a economia local, além de garantir mais segurança energética.
No tema da pobreza energética e seu impacto nos negócios, imagine um estabelecimento que antes podia funcionar por apenas algumas horas por dia por conta do pouco acesso a energia elétrica e que, agora, pode funcionar o dia todo, já que não há mais a falta desse bem essencial. Essa é uma realidade de regiões mais isoladas, como comunidades ribeirinhas no Pará, beneficiadas pela instalação de painéis solares e baterias, e no sertão pernambucano, estas últimas beneficiadas pelo programa Luz para Todos.
Segundo estudo elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), o custo médio para produção de energia renovável no Brasil em 2021 foi de R$ 179,5 por megawatt-hora (MWh), enquanto o custo de produção de energia não renovável era de R$ 441,8 por megawatt-hora (MWh), ou seja, mais que o dobro.
Para os pequenos negócios, o SEBRAE destaca que a implementação da energia renovável pode representar um “diferencial competitivo de mercado”. Alguns benefícios citados são: redução de gastos com energia elétrica, posicionamento e valorização de marca e retorno do investimento.
O SEBRAE também destaca que, de acordo com a Pesquisa sobre Energia Solar Fotovoltaica e os Pequenos Negócios, 60% dos pequenos e médios empresários brasileiros têm intenção de investir em fontes renováveis. E 47,5% consideram que os sistemas fotovoltaicos são a melhor opção.
Para além do destaque na área comercial, a sociedade brasileira em geral está ciente da necessidade do investimento em energia renovável. Segundo a pesquisa Eliminação progressiva dos combustíveis fósseis no Brasil 2024, para 64% da população, o Brasil deveria focar seus esforços de desenvolvimento econômico na direção de eliminar a produção e o consumo de combustíveis fósseis.
3. Maior participação das fontes solar e eólica na geração elétrica fortalece a soberania energética
Se você é millennial ou de gerações anteriores, deve se lembrar da Crise do Apagão: uma crise de proporção nacional que durou de julho de 2001 a fevereiro de 2002, muito por conta do baixo índice de chuvas e da falta de diversificação na matriz elétrica. Na época, cerca de 89% da energia elétrica brasileira vinha de hidrelétricas e, por conta disso, o governo decidiu começar a investir em outras fontes energéticas.
O Idec pontua que investir em diversos tipos de energia renovável ajuda a reduzir a dependência de combustíveis sujos e caros, assim como o investimento em fontes solar e eólica frente a eventos como seca prolongada contribui para reduzir a vulnerabilidade do sistema elétrico do Brasil.
Análises recentes, como a pesquisa “Vulnerabilidade do setor elétrico brasileiro frente à crise climática global e propostas de adaptação” publicada pela Coalizão Energia Limpa em 2023, apontam como as mudanças climáticas podem afetar a produção elétrica no Brasil.
Segundo o estudo, os modelos climáticos mostram que a crise climática vai afetar o regime de chuvas no país, afetando negativamente os reservatórios de hidrelétricas, principalmente no Norte e no Nordeste. Também apontam para um incremento nos ventos e na radiação solar na região Nordeste, o que reforça seu grande potencial para produzir energia renovável.
Com a eletrificação dos transportes avançando a passos largos, e pelo fato de o Brasil ter investido em biocombustíveis como o etanol e o biodiesel, ampliar as fontes renováveis na matriz energética é garantia de soberania. Assim, o país se torna menos dependente dos combustíveis fósseis que, além de principais responsáveis pelas mudanças climáticas, são recursos finitos e commodities cujos preços são ditados pelo mercado internacional.
4. Não adianta ser renovável e não ser justa
Esta é uma lição que o Brasil ainda precisa aprender. As hidrelétricas de Belo Monte e Itaipu, as eólicas no Nordeste, o que esses empreendimentos têm em comum? Todos demonstram que não é porque a energia é renovável que ela não traz impactos ambientais e sociais para as proximidades.
A lista de danos de Belo Monte é tão grande quanto suas proporções: alta mortalidade de árvores, desestruturação do modo de vida de Povos Indígenas e de comunidades ribeirinhas, risco de extinção de técnicas tradicionais de pesca, novos obstáculos na navegação do rio Xingu, onde foi instalada, inviabilidade da reprodução dos peixes e assoreamento do curso d’água.
A Usina de Itaipu, construída durante a ditadura militar, causou a inundação de 1.350 quilômetros quadrados entre Brasil e o Paraguai – o equivalente a mais de 150 mil campos de futebol. O empreendimento causou danos aos indígenas Avá-Guarani, com a submersão de territórios sagrados, como cemitérios e o deslocamento forçado. Também impossibilitou práticas religiosas, aumentou casos de discriminação, de suicídios e de malária.
“Nossos ancestrais viviam caminhando pela mata, em meio à Natureza. Era uma vida completamente diferente”, diz João Miri Alves, 54 anos, cacique da aldeia Tekoha Añetete, à Agência Pública. “Hoje não tem mais mata. O indígena perdeu seu território, perdeu seu modo de vida e surgiram novos problemas”.
Já o recente drama das comunidades atingidas pelos empreendimentos predatórios de eólicas no Nordeste é relatado por diversas mídias – afinal, são muitas histórias. No Ceará, pela Fundação Rosa Luxemburgo; no Rio Grande do Norte, pelo Mongabay; no Seridó, também no Rio Grande do Norte, pela DW. São diversos problemas denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF), como contratos abusivos, danos à fauna e à vegetação nativa, impactos sobre dunas e lagoas, emissão de ruídos e declínio da saúde mental, entre outros.
Comunidades têm se mobilizado para criar uma resposta à forma como esses empreendimentos são implantados, como a campanha “Renovável sim, mas não assim” e o documento “Salvaguardas Socioambientais para Energias Renováveis“, construído por representantes de 29 instituições de comunidade atingidas no Nordeste, além de especialistas. O documento de salvaguardas traz mais de cem recomendações para os setores público e privado promoverem uma transição energética justa e inclusiva, reduzindo os impactos negativos causados por centrais em pessoas e no meio ambiente.
Outro exemplo é a cartilha de governança energética comunitária, uma proposta elaborada a partir do quilombo Serra dos Rafaéis, na Chapada do Araripe, Piauí. “As comunidades e territórios precisam se inserir nos espaços externos e aprofundar as discussões internas para que todo processo de decisão seja acompanhado pelo senso de responsabilidade, de compromisso e de consciência sobre o risco coletivo e individual a ser assumido nas relações puramente econômicas que são firmadas a partir das assinaturas dos contratos com as empresas de energias renováveis”, destaca o documento.
“Nada sobre nós, sem nós!” é um lema levado por essas comunidades.
5. Renováveis são solução para levar eletricidade a lugares distantes
Apesar de ser uma grande exportadora de eletricidade para todo o país, a região amazônica vive, hoje, com cerca de um milhão de pessoas sem acesso à energia elétrica, informa o Idec. Essa distorção obriga habitantes da região a se abastecerem por usinas locais, não conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) – em sua maioria termelétricas abastecidas a óleo diesel, destaca o Climate Policy Initiative. Uma energia poluente e cara.
Empresas que participam do programa MLA (Mais Luz para a Amazônia), como a distribuidora Equatorial Maranhão alegam que, entre os principais obstáculos estão a extensão territorial, a baixa densidade de atendimentos nessas regiões, além das dificuldades de investimento. Mas, se lançar linhas de transmissão é algo também caro e com grande impacto, a solução está na geração descentralizada. E com fontes renováveis.
O Canal Solar aponta que, por meio do Programa Luz Para Todos, mais de 150 mil moradores de regiões remotas da Amazônia Legal receberam energia elétrica nos últimos cinco anos por meio da fonte solar. As famílias foram contempladas com acesso à eletricidade a partir de kits com painéis fotovoltaicos, inversores, controladores e baterias de lítio.
Já o Nexo explica como a energia solar pode ampliar o acesso elétrico na Amazônia: “É uma tecnologia considerada adequada para as regiões remotas da Amazônia Legal porque pode ser gerada em nível local, não emite poluentes e ruídos durante sua produção e exige pouca manutenção ao longo da operação”.
A geração de energia por meio de sistemas fotovoltaicos off-grid (ou seja, autônomos), aliados ao uso de baterias para armazenar energia em períodos noturnos ou com ausência de luz solar, elimina a dependência de combustíveis poluentes como o diesel. E o gás.
6. Gás e petróleo não são energias de transição
Um estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) mostra que, apesar de ter uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, o Brasil vem sujando cada vez mais a sua geração de energia elétrica por causa do maior emprego do gás fóssil. A participação das fontes renováveis caiu de 97% para 89% na matriz elétrica nacional em 27 anos, entre 1995 e 2022. Tudo por conta da expansão da potência instalada das fontes não renováveis, principalmente das termelétricas a gás.
E como o lobby pró-energia suja se mantém firme e forte, com apoio de deputados e senadores e também do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que insiste em ampliar a oferta de gás fóssil e seu uso na produção elétrica, a tendência de sujeira da matriz pode continuar. O que vai se refletir não apenas no aumento das emissões do setor elétrico brasileiro, mas também no preço pago pelo consumidor, conforme mostra o relatório “Regressão energética: como a expansão do gás fóssil atrapalha a transição elétrica brasileira rumo à Justiça Climática”, lançado pela Coalizão Energia Limpa em 2024.
“A indústria do gás fóssil tenta manter sua posição sob o argumento controverso de que as termelétricas a gás são necessárias para compensar a variabilidade das fontes renováveis. Outra justificativa usada é que o desenvolvimento do mercado de gás fóssil permitiria um uso mais nobre do gás do pré-sal do que a queima de seu excesso. Na prática, parte do gás utilizado é o gás natural liquefeito (GNL). Ainda que a operação de termelétricas a gás tenha emissões de GEE inferiores às térmicas alimentadas por outros combustíveis fósseis — entre 422 e 578 g/kWh para térmicas a gás contra 663 a 1.061 para térmicas a óleo combustível e carvão mineral —, esta média não pode ser comparada à de energias renováveis, mesmo se incluído o ciclo de vida completo dessas fontes”, aponta o documento “Futuro da Energia: visão do Observatório do Clima para uma transição justa no Brasil”, do Instituto Energia e Meio Ambiente (IEMA).
7. Ainda temos uma política aquém do necessário
O que é bom ainda não está dado. Há disponíveis diversas iniciativas, estudos e propostas de políticas públicas para fortalecer a presença das renováveis na matriz elétrica brasileira. Mas os programas governamentais ainda estão aquém do esperado. Ou sequer existem – caso do Plano Nacional de Transição Energética (PLANTE), que ainda está engatinhando.
Os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia por causa da COP30, mas a região ainda sofre com o acesso à energia elétrica. Uma análise do IEMA mostra os desafios de levar energia de qualidade às 219 mil residências incluídas no Programa Mais Luz para a Amazônia (MLA) com a fonte solar. Mas qualquer iniciativa nesse sentido, além de benéfica para o clima, doerá menos no bolso da população. Só que, como de costume, tudo está andando devagar demais.
Em agosto do ano passado o MME lançou o programa “Energias da Amazônia”, destinado a reduzir em 70% a produção de eletricidade com combustíveis fósseis na região, um investimento de cerca de R$ 5 bilhões até 2026. Porém, desde então, pouco se sabe dos resultados da proposta.
E somente em 2025 todos nós vamos pagar R$ 10,35 bilhões pela Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). Esse encargo é cobrado nas tarifas elétricas para bancar os combustíveis usados para produzir energia elétrica em sistemas isolados, que estão majoritariamente instalados na Amazônia. Portanto, mais que o dobro do que deveria ser investido para “limpar” a produção elétrica na região.
A geração distribuída à base de fontes renováveis nas regiões interligadas ao sistema nacional de distribuição de eletricidade foi estimulada e cresceu a passos largos. Mas o Idec também aponta que essa modalidade é marcada por desigualdades. “O elevado custo inicial de instalação limita o acesso para populações de baixa renda, dificultando a democratização dessa tecnologia”, ressalta.
Além disso, o subsídio cruzado previsto no marco legal dessa modalidade faz com que os consumidores que não adotam a micro ou miniusina de geração em sua unidade consumidora arquem com parcelas maiores dos custos do sistema de distribuição de energia, em vista do desconto concedido pela Lei aos outros consumidores que tiveram condições de implantá-las.
O GT Clima e Energia do Observatório do Clima, trouxe, em setembro de 2024, uma análise sobre os mecanismos propostos pelo governo federal até então. O PLANTE, sob responsabilidade do Ministério de Minas e Energia (MME), é um plano com ações de longo prazo para concretizar os objetivos da Política Nacional de Transição Energética (PNTE), lançada em agosto de 2024. Ele também inclui a meta de formação de um fórum de diálogo, intitulado Fórum Nacional de Transição Energética (Fonte).
A PNTE não disse a que veio. O texto da Resolução traz poucas diretrizes e mecanismos. Define que haverá um um plano nacional de transição, mas de forma genérica, como explicitado no parágrafo 1º do artigo 6º: “Para cumprir com seus objetivos, o PLANTE deverá contemplar as ações existentes e propor novas ações alinhadas com seus eixos estratégicos, de forma a sinalizar ajustes nos planejamentos que tratam da transição energética”.
Em relação às definições gerais de transição energética contidas no artigo 2º, chama a atenção o fato de se buscar minimizar impactos de empreendimentos energéticos sobre comunidades vulneráveis. O correto seria “não incorrer” nesses impactos.
Apesar de detalhar um pouco mais a estrutura do PLANTE e do Fonte, a concretude dos planos ainda é escassa pela falta de orçamento e cronograma. Especialmente neste segundo ponto, o cronograma determinará se a transição será efetivamente feita ou se o aumento da participação de fontes renováveis na matriz energética conviverá com a perpetuação da indústria de combustíveis fósseis.
Uma matriz elétrica renovável e com o mínimo de impacto possível – tanto do lado ambiental quanto social – é possível. Uma matriz elétrica renovável com baixo custo e baixa emissão de GEE é uma possibilidade real para o Brasil que, como diz o ditado, tem “a faca e o queijo na mão”. Diferente de outros países que dependem majoritariamente dos combustíveis fósseis ou que não dispõem de condições geográficas adequadas para renováveis como eólica e solar, nosso país pode transicionar sem tantas dificuldades.
O que falta é o comprometimento verdadeiro de políticos e empresas de energia – como a Petrobras – que ora sim e ora também insistem na exploração de petróleo na foz do Amazonas e em colocar mais gás fóssil na geração de eletricidade no Brasil. Agora não é hora para isso; agora é hora de escutar a urgência das mudanças climáticas e redirecionar investimentos e esforços para uma economia de baixo carbono.