Rio Tapajós e Alto Paraguai estão entre os rios icônicos mais ameaçados do planeta
Relatório da Rede WWF aponta quais são os 10 rios icônicos do mundo em risco.
Publicado antes do Congresso Mundial de Hidreletricidade deste mês, o relatório 10 rios em risco detalha a ameaça representada por barragens hidrelétricas planejadas para rios icônicos em todo o mundo, desde grandes rios tropicais biodiversos, como o Tapajós, Irrawaddy, Mekong e Sepik, até o último glacial de fluxo livre nos Alpes, o Isel.
Dois desses 10 rios ficam no Brasil:o Tapajós e a bacia do Alto Rio Paraguai. O primeiro é um dos maiores afluentes de fluxo livre da Amazônia, respondendo por cerca de 6% da água em toda a bacia. Ele sustenta diversas comunidades, bem como uma biodiversidade extraordinariamente rica. Mas é considerado uma das melhores oportunidades restantes para geração de energia hidrelétrica. Por isso, estão planejadas 42 barragens na bacia, incluindo uma série de cinco barragens que compõem o enorme complexo hidrelétrico do rio Tapajós. Se todas essas barragens fossem construídas, as consequências ambientais e sociais seriam desastrosas.
A Bacia do Alto Rio Paraguai é composta por vários rios que fornecem água para a maior área úmida tropical do mundo – o Pantanal. Este Patrimônio Mundial já sofreu uma queda alarmante das águas superficiais (retração de 74% na parte brasileira da superfície coberta por água do Pantanal segundo Map Biomas). Hoje, existem 57 usinas em operação na Bacia do Alto Paraguai – embora pequenas, seu impacto cumulativo altera significativamente os ciclos naturais do rio. Estão planejadas mais 80 hidrelétricas que, se construídas, mudarão 40% do fluxo das águas do bioma.
“As usinas projetadas para a região trazem um potencial pequeno de geração de energia elétrica e grandes impactos ambientais. Não precisamos perder os fluxos de água e o seu capital associado se há um potencial de substituir todos estes projetos por fontes alternativas”, ressalta Cássio Bernardino, coordenador de projetos do WWF-Brasil.
O fluxo natural de água, sedimentos e nutrientes descendo por esses rios é fundamental para a segurança alimentar e a subsistência de mais de 80 milhões de pessoas e para a estabilidade de alguns dos grandes deltas do mundo, ao mesmo tempo que sustenta uma extraordinária diversidade de espécies dentro e fora da agua. “Precisamos expandir drasticamente a energia renovável para enfrentar as mudanças climáticas e entregar um mundo líquido zero até 2050, mas não podemos fazer isso às custas dos rios, comunidades e natureza. Os países devem aproveitar a oportunidade criada pela revolução renovável e escolher as melhores maneiras de fornecer energia a seu povo do que a energia hidrelétrica de alto impacto”, disse Stuart Orr, líder de água doce do WWF.
Barragens hidrelétricas planejadas ameaçam muitos dos benefícios diversos e insubstituíveis fornecidos às pessoas pelos rios de fluxo livre – desde a pesca produtiva que apoia as comunidades locais e povos indígenas ao longo dos rios Sepik e Tapajós até fluxos de sedimentos naturais que nutrem a produção de arroz em a bacia do Irrawaddy e são a chave para manter o delta do Mekong acima da elevação do mar.
Ao fragmentar rios de fluxo livre, as barragens hidrelétricas têm desempenhado um papel fundamental no declínio de 84% nas populações de espécies de água doce desde 1970. A construção de mais barragens hidrelétricas de alto impacto exacerba essa tendência, minando os esforços globais para reverter décadas de declínio e proporcionar um mundo positivo para a natureza em 2030.
Rios ameaçados
América do Sul: Tapajós (Brasil) e Bacia do Alto Paraguai
Ásia: Sepik (PNG), Mekong Blues (Laos), Mianmar (Irrawaddy)
África: Mara (Quênia), Delta (Angola)
Europa: Isel (Áustria), Vístula (Polônia), Vjosa (Albânia)