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Restos de floresta que ficou submersa no fim da Era do Gelo reaparecem e instiga observadores na Inglaterra

Restos de floresta que ficou submersa no fim da Era do Gelo reaparecem e instiga observadores na Inglaterra

À medida que fluxo de detritos na costa se intensifica, região no sul da ilha britânica tem crescente batalha de homens contra os processos naturais

Na Inglaterra, uma floresta que ficava submersa agora está revelando seus segredos para os cientistas que examinam como o colapso climático no final da última era glacial (há cerca de 10 mil anos) alterou radicalmente as paisagens e os ambientes à medida que o nível do mar subiu e o clima aqueceu.

O local fica em Pett Level, na costa sudeste do país. É uma das maiores florestas submersas já descobertas no Reino Unido e já formou uma área de mata costeira que se estendia por dezenas de quilômetros a leste e oeste. Durante a maré baixa, é possível ver os tocos e troncos caídos de árvores, perdidos entre pedregulhos e piscinas naturais. Pequenos animais como mariscos fizeram desses troncos suas casas.

Esses restos naturais datam de pelo menos 6,5 mil anos, quando a subida do nível dos mares fez da Grã-Bretanha definitivamente uma ilha separada do continente europeu – e, nesse processo, submergiu as árvores dessa região.

Scott Timpany, paleoecologista da University of the Highlands and Islands e especialista em florestas submersas na Grã-Bretanha, diz que a floresta em Pett Level continha um número substancial de carvalhos, bem como olmos, faias e teixos. “Era uma floresta úmida. Este teria sido um ambiente bastante pantanoso e úmido, com espaços de água na superfície em alguns lugares. Provavelmente ficou mais úmido à medida que o nível do mar aumentava e as geleiras derretiam”, explica.

Com esses restos de florestas retornando à paisagem, destroços carregados pelas tempestades de inverno, o novo aumento do nível do mar e a interação de três rios que se unem na região de Rye, distante alguns quilômetros a leste, têm gerado uma crescente deriva de cascalho que traz problemas para um porto próximo.

Em Rye Harbour, para evitar que o cascalho bloqueie a foz do rio Rother e prejudique a navegação na costa, um braço de concreto protege a entrada do porto segurando o cascalho à deriva. Uma frota de caminhões basculantes completa o esforço removendo até 80 mil toneladas desses detritos todos os anos. Uma espécie de batalha humana contra a natureza conduzida pela Agência Ambiental do Reino Unido.

“Eu estimo que, sem esse esforço, em três anos o mar abriria um buraco no paredão e todo o Pett Level se tornaria um pântano salgado”, diz Barry Yates, ex-gerente da reserva natural de Rye Harbor.

Os efeitos da atividade humana nesse litoral, aliás, pode ser uma das principais razões pelas quais a floresta submersa se tornou tão exposta nas últimas décadas. A construção do braço de concreto para segurar o cascalho à deriva reduziu o volume de cascalho que chega às falésias mais a oeste, expondo estas ao mar e aumentando a erosão.

Tais falésias são levadas para mais dentro da ilha, dando mais espaço para o cascalho avançar, e este por sua vez tirou a cobertura que antes escondia as velhas árvores de Pett Level, explica Yates.

A revelação desses segredos naturais, bem como o desgaste na luta das autoridades britânicas para frear os processos naturais, levam pesquisadores que observam o cenário a refletir sobre a inevitabilidade de tais processos, no longo prazo. É o caso do autor local Gareth E. Rees, cujo próximo livro, Sunken Lands, explora o longo relacionamento da humanidade com o colapso do clima.

“Quando olhamos para a floresta submersa – para essa coisa incrível que existiu e era poderosa, cheia de vida, animais e caçadores, vemos que ela desapareceu. Acabou”, diz Rees. “Em algum momento vamos ter que deixar as coisas correrem por seu caminho. Há uma falsa segurança em construir cada vez mais diques e barreiras. Você não pode continuar adicionando soluções de engenharia para sempre”, aponta.