Projeto transforma lixo em pranchas de surfe e ajuda meio ambiente
Na praia de Maresias, no litoral norte de São Paulo, o projeto Desengarrafando Mentes fabrica pranchas de surfe com materiais retirados do lixo. Os equipamentos são usados de maneira educacional em ações voltadas a crianças e adolescentes. No total, 3.600 jovens foram impactados até agora.
As pranchas são construídas na sede do projeto, a partir de garrafas PET. Segundo a organização, os materiais são recolhidos das redondezas e também cedidos por catadores de lixo parceiros.
“Infelizmente, não falta matéria-prima no meio ambiente para a confecção das pranchas. Cada uma leva 52 garrafas. Já foram usadas mais de dez mil desde a fundação do projeto, em 2016, o que representa cerca de cinco toneladas”, disse o idealizador Thiago Oliveira, de 36 anos.
Oficina e escolinha de surfe
Oliveira conta que realiza, ainda, oficinas com temas como degradação ambiental e a responsabilidade de cada um com o lixo. Além de provocar discussões sobre sustentabilidade e proteção do meio ambiente, os alunos participam de uma escolinha de surfe que mescla esporte e lições de sustentabilidade.
Imagem: Suellen Nobrega
A turma pode acompanhar o processo de produção das pranchas para aprender sobre reaproveitamento de materiais e se conscientizar sobre descarte correto do lixo e separação de recicláveis.
Após a conclusão, as pranchas são enviadas a outros projetos educacionais. Segundo Oliveira, 15 delas foram levadas recentemente para uma comunidade da Bahia, onde uma iniciativa trabalha com crianças locais.
“Um lar com consciência social”
Paulistano, ele afirma que vem de uma família com muita consciência social. “Sou neto de uma mulher preta que foi escravizada na Bahia e trouxe sua família para São Paulo nos anos 70. Uma das minhas tias se formou na USP em meio à ditadura militar e é uma psicóloga que implantou um programa de prevenção à Aids na cidade”, conta.
Surfe, skate, rap, poesia e literatura fazem parte da sua vida e o ajudaram a bolar uma estratégia para ajudar o planeta. Do 16 até os 22 anos, ele fabricou pranchas de surfe tradicionais. Após se mudar para Maresias, há oito anos, percebeu que poderia ir além.
“Vim para cá e encontrei um local desconectado das pessoas e da natureza, com um contraste social gigantesco”, lembra. “Meu pai sempre mexeu com a terra e eu herdei esse jeito com a natureza. Comecei com as pranchas feitas com lixo e vi que poderia fazer mais. Hoje a gente tem mais de 50 colaboradores e mais 100 voluntários nas nossas ações.”
De olho no meio ambiente
Leticia Ranali, de 12 anos, é uma das crianças que participam das oficinas do Desengarrafando Mentes. O contato com o projeto fez com que ela desenvolvesse maior cuidado em sua relação com o lixo e o meio ambiente.
“Ele despertou nela a vontade de ensinar os adultos a separar o lixo. Toda vez que tomamos refrigerante, por exemplo, ela fala: ‘Mãe, essa garrafa pode virar uma prancha de surfe'”, conta a mãe da menina, a barbeira Bruna Ranali.
Ranali explicou a Ecoa que a filha participa de todas as ações oferecidas, até de limpezas na praia. “Esse projeto é magnífico e ajuda a despertar as crianças para o cuidado não só com o nosso quintal, mas com a mãe natureza, que é nosso bem mais precioso”, ressalta.