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Projeto Ilhas do Rio lança nova pesquisa sobre o lixo nas praias da zona sul do Rio

Projeto Ilhas do Rio lança nova pesquisa sobre o lixo nas praias da zona sul do Rio

De acordo com o primeiro relatório da pesquisa, praia do Leblon é a mais suja e o plástico é o resíduo mais encontrado nas areias

Como parte das ações de mobilização social, o Projeto Ilhas do Rio iniciou no fim de agosto uma nova pesquisa que visa fornecer uma estimativa do volume de resíduos sólidos presente nas areias das praias de Copacabana, Ipanema e Leblon. Chamada de “Lixômetro”, a pesquisa tem como principal objetivo sensibilizar a população sobre a problemática da poluição marinha no planeta e, principalmente, sobre a responsabilidade de cada um sobre o próprio lixo gerado. De acordo com o primeiro relatório que acaba de ser divulgado, a praia do Leblon está em primeiro lugar no ranking de mais poluída (veja aqui).

Realizado em parceria com a Associação Brasileira de Combate ao Lixo no Mar (ABLM), o “Lixômetro” vai ter duração de onze meses. Semanalmente, nas tardes de domingo (antes da limpeza pública das praias), a equipe do Projeto faz coletas simultâneas na faixa de areia acima da linha de maré das três praias. Os resíduos são contabilizados, pesados, separados e registrados e encaminhados para posterior descarte correto. Depois, os dados são analisados para comparação entre as praias amostradas.

Os números são estimados a partir de uma base de cálculo semelhante à utilizada em medições como incêndios florestais, por exemplo. O projeto utiliza uma área equivalente a um campo de futebol como referência. A cada domingo, a equipe faz a amostragem do lixo em uma área da praia de 20 m². Em seguida, calcula-se o número de gramas de resíduos por m² que, por fim, é multiplicado pela área de um campo de futebol (7.140 m²) para estimar a quantidade de lixo encontrada.

De acordo com o primeiro relatório divulgado, as médias estimadas de lixo coletado no mês de outubro foi de aproximadamente 29kg em Copacabana; 9,6kg em Ipanema e cerca de 62kg, no Leblon, colocando a praia em primeiro lugar disparado como a mais poluída até o momento. No último domingo, dia 20, foram coletados 309 kg nas areias do Leblon, o que representou um aumento muito grande comparado à semana anterior, quando foram contabilizados 2,5kg. Em Copacabana, no dia 20, foram coletados 137 kg aproximadamente, número também muito superior à semana anterior, quando foram contabilizados apenas 2 kg. Em Ipanema, apesar de pouco, também houve uma piora, registrando 20 kg, no dia 20, e 8kg de lixo na semana anterior (13/11).

Dentre os resíduos coletados e registrados no último domingo, o que mais chamou a atenção nas praias do Leblon e Copacabana foi a grande quantidade de casca de coco nas areias, o que justifica o aumento do peso do lixo contabilizado, já que com o calor a praia tende a ficar mais cheia. De um modo geral, entre os resíduos encontrados, observa-se a predominância dos plásticos duros e moles: cerca de 43% em Copacabana; 58% em Ipanema e 50% no Leblon. Esses resultados corroboram os dados de coletas em mutirões de limpeza de praia publicados no Atlas do Plástico. Nas praias de Copacabana, as bitucas de cigarro também se destacaram como uma das categorias prevalentes (28%) enquanto em Ipanema e Leblon as proporções obtidas foram de 11% e 9% respectivamente.

Outro dado que vale destacar foi o volume de isopor coletados em Ipanema no dia 21 de agosto e de espuma no dia 11 de setembro no Leblon. Os valores obtidos de hastes flexíveis no dia 11 de setembro, em Ipanema, foram associados aos fluxos decorrentes dos efluentes de esgoto que podem ter aportado na areia devido à forte chuva que ocorreu nos dias anteriores. Esse dado nos alerta para o fato que quando a coleta for realizada após grandes chuvas parte dos resíduos e rejeitos encontrados poderão ter sido deixados pelas saídas de águas pluviais que desembocam na areia ou pelo emissário submarino que em função das correntes arrastou sua poluição de resíduos sólidos de volta para o continente.

Outro ponto relevante para elaboração de programas de sensibilização e políticas públicas é a predominância de canudos na categoria de plásticos duros, observada nas praias de Ipanema e Leblon. Em relação aos volumes pesados de resíduos + rejeitos, vale salientar que grande parte dos volumes registrados são resultantes dos rejeitos presentes em todas as praias. Esse tipo de poluição tende a ser um fator de grande risco sanitário para a população e campanhas de sensibilização precisam ser elaboradas para dar destaque a essa problemática, uma vez que temos visto muitas campanhas que destacam a coleta seletiva em função da importância dos recicláveis voltarem à cadeia produtiva. Esse fato aliado ao valor dos recicláveis é evidenciado pelo dado obtido de zero coleta de resíduos de PET ou latas de alumínio, que são rapidamente coletados pelos(as) catadores(as).

Para que a população fique informada e se sensibilize pela causa, dois triciclos circulam pela ciclovia da orla durante os finais de semana exibindo um painel com os resultados obtidos nas semanas anteriores e as médias do mês em cada região. “Nosso objetivo principal com essas campanhas é sensibilizar os cidadãos para que cada um tome para si a responsabilidade de manter sua cidade limpa. O lixo encontrado nas praias vem tanto do mar quanto do descarte incorreto dos frequentadores. Se cada um fizer a sua parte, certamente o acúmulo de lixo nas areias vai reduzir significativamente”, analisa Aline Aguiar, coordenadora técnica do Projeto Ilhas do Rio.

MUTIRÕES E COLETAS SELETIVAS NAS PRAIAS – Além da coleta do “Lixômetro”, o Projeto Ilhas do Rio realizou em setembro passado diversas ações de limpeza, totalizando 196 kg de lixo retirados do ambiente. No mutirão realizado nas areias da praia do Leblon e Ipanema foram contabilizados 32 kg de resíduos, na sua maioria, plásticos, que corresponderam a aproximadamente 30% do total, corroborando com os dados do “Lixômetro”.

Já na região do MONA Cagarras, pesquisadores do projeto juntamente com a equipe do ICMBio retiraram um total de 92 kg, somando parte terrestre e subaquática, mas o que chamou a atenção foi a quantidade de isopor. Já no clean up subaquático, os mergulhadores retiraram muito lixo pesado, como pneus, pedaços de ferro e corda, totalizando aproximadamente 85 kg de resíduos no fundo do mar.

Para completar, no período também foram realizadas campanhas de conscientização e coletas seletivas de lixo eletrônico nas praias do Leblon e de Niterói, em São Francisco, onde foram recebidos mais de 70 kg de lixo.

Imagem – Divulgação