Primavera mais seca e quente no Rio pode atrasar floração de plantas e hábitos de animais?
Izar Aximoff, biólogo e doutor pelo Jardim Botânico, explica quais são os impactos da mudança climática na estação que prevê estiagem prolongada
As mudanças climáticas alteraram drasticamente os ciclos naturais da Mata Atlântica, bioma que representa 17% da cobertura florestal do estado do Rio. E de acordo com especialistas, o florescimento das plantas, geralmente desencadeado pela transição entre o clima seco e úmido da primavera, já está sendo afetado pelas variações climáticas extremas como as experimentadas no Rio nos últimos meses. Segundo o meteorologista César Soares, da Climatempo, a chegada de uma “primavera atípica” trará para o estado a predominância do calor. As chuvas devem ficar abaixo do esperado, o que preocupa quanto ao abastecimento de água, devido à estiagem, e à continuidade das queimadas, já que a vegetação seca e a baixa umidade do ar favorecem a propagação de incêndios.
O biólogo e doutor pelo Jardim Botânico, Izar Aximoff, explica que a maioria das espécies da Mata Atlântica costumam florescer com o início das chuvas na primavera e no verão, períodos de maior abundância de recursos naturais para a fauna. Entretanto, a variação indica que este ano haverá uma mudança brusca habitual para o período chuvoso. Segundo o especialista, estiagem vai ocasionar um atraso da floração de várias espécies e menos recursos disponíveis para fauna, além de um período menor de floração.
— Muitas espécies da mata atlântica, que é o nosso bioma, deixam para florescer na primavera por ser uma estação com maior concentração de chuva. No entanto, a poluição e queimadas estão ocasionando mudanças do clima e teremos uma primavera não habitual com período de seca prolongada — explica o botânico.
Esse atraso no ciclo das chuvas, além de afetar diretamente o florescimento de árvores e vegetação, impacta também na produção de frutos e leguminosas.
— O atraso na contribuição de chuvas traz consequências não apenas para a fauna, mas também para a flora. Além disso, a floresta, em tempos de seca prolongada, pode perder parte de sua beleza, e ter uma menor produção de oxigênio que pode afetar a qualidade do ar, intensificando a sensação de calor — completou Izar.
Calor predominante
As massas de ar frio, que ainda causam quedas momentâneas de temperatura, não têm mais permanência prolongada. O carioca, que viu o inverno confortável e dias de praia, pode esperar uma primavera com ainda mais quente, de acordo com meteorologistas.
A previsão é que estação seja marcada por temperaturas acima da média normal, com picos de dois a três graus superiores, variando entre 25 °C e 28 °C. Mesmo as madrugadas não serão tão frias, e as tardes nubladas devem dar lugar ao predomínio do calor.
No Rio, as chuvas serão abaixo do esperado para a estação. Situação que preocupa autoridades quanto ao abastecimento de água e ao risco da continuidade de queimadas em áreas de vegetação seca.
— A fumaça das queimadas continuará a ser um problema ao longo da estação, especialmente com a ausência de ventos e frentes frias suficientes para dissipá-la. O clima quente persistirá até o final de outubro, com temperaturas médias próximas dos 27 °C, e, em novembro, a previsão é de máximas que podem chegar aos 29 °C — afirmou o meteorologista da Climatempo, César Soares.