Presidente da COP30 convoca mutirão contra a mudança do clima

Em carta, embaixador André Corrêa do Lago faz apelo a países, empresas e comunidades para agirem no combate à crise climática
O presidente da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), o embaixador André Corrêa do Lago, divulgou nesta segunda-feira (10), uma carta em que faz um chamado global contra as mudanças do clima. O documento destaca a necessidade de cooperação internacional para acelerar a implementação, além de soluções, em uma nova década de ação global para combater a crise climática.
“A ideia da carta é convidar a comunidade internacional a abraçar a ideia da COP30 e é um convite também para que a comunidade internacional reaja e nos ajude a estruturar a melhor agenda possível para a Conferência. O Brasil não pode, sozinho, acreditar que vai apresentar soluções para a COP30, muito pelo contrário. A ideia da Conferência é a negociação, e a negociação é por consenso, ou seja, todo mundo tem que estar de acordo para que os textos sejam aprovados”, destacou o embaixador durante conversa com a imprensa no Ministério das Relações Exteriores, na manhã desta segunda-feira.
O documento reforça a necessidade de fortalecer o multilateralismo em um momento de grande complexidade no cenário internacional. Com disputas geopolíticas intensificadas, desafios no financiamento climático e divergências sobre a implementação do Acordo de Paris, as negociações ambientais enfrentam entraves que vão além das questões técnicas.

“Nós queremos aumentar a força e a relevância do multilateralismo, porque estamos num momento extremamente complexo internacionalmente. Nós queremos muito, nesses meses de preparação para a COP30, conectar a sociedade civil e todos, de um modo geral, para superarmos a abstração que existe nessas negociações, e de que maneira essas negociações realmente atingem a vida das pessoas. E o terceiro ponto que achamos muito importante é acelerar a implementação do Acordo de Paris”, pontuou o embaixador.
Mutirão
Na carta, o presidente da COP30 convoca o mundo para agir urgentemente em um “mutirão” contra as mudanças climáticas. A palavra “mutirão”, do tupi-guarani, refere-se a uma comunidade que se reúne para trabalhar em uma tarefa compartilhada, seja colhendo, construindo ou apoiando uns aos outros. “Juntos, podemos fazer da COP30 o momento em que viramos o jogo, quando colocamos em prática nossas conquistas políticas e nosso conhecimento coletivo sobre o clima para mudar o curso da próxima década”, disse Corrêa do Lago no documento.
O chamado coincide com a confirmação de que 2024 foi o ano mais quente já registrado e o primeiro em que a temperatura média global ultrapassou 1,5°C acima de níveis pré-industriais. A COP30, portanto, deve ser um ponto de virada na luta contra a mudança do clima, com a coordenação de esforços entre governos, empresas, mercados, pequenos negócios, cientistas, acadêmicos e inovadores tecnológicos, entre outros. “Agora, não apenas ouvimos falar dos riscos climáticos, mas também vivemos a urgência climática. A mudança do clima não está mais contida na ciência e no direito internacional. Ela chegou à nossa porta, atingindo nossos ecossistemas, cidades e vidas cotidianas”, diz o texto.

“A mudança é inevitável – seja por escolha ou por catástrofe. Se o aquecimento global não for controlado, a mudança nos será imposta, ao desestruturar nossas sociedades, economias e famílias”, afirmou o presidente da COP30. “Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia, mas sim pela resiliência e pela agência em direção a uma visão que nós mesmos projetamos.”
Metas
Na avaliação de Corrêa do Lago, houve progresso coletivo significativo, mas muito ainda precisa ser feito para cumprir a meta de 1,5ºC. Segundo o embaixador, é necessário puxar todas as alavancas possíveis para alinhar os esforços aos objetivos de longo prazo do Acordo de Paris relativos à temperatura, resiliência e fluxos financeiros, por exemplo.

O documento propõe ainda o reconhecimento da necessidade de agir o mais rápido possível para enfrentar a urgência da mudança do clima. “Devemos reconhecer que questões consideradas ‘problemas’ podem emergir como importantes ‘soluções’. Quando nos reunirmos na Amazônia brasileira em novembro deste ano, devemos ouvir atentamente a ciência mais avançada e reavaliar o papel extraordinário já desempenhado pelas florestas e pelas pessoas que as preservam e delas dependem”, ressaltou o presidente da COP30.
Reações
Para o Greenpeace, a carta enviada à comunidade internacional pelo embaixador André Corrêa do Lago acerta no tom ao ressaltar que a falta de ambição dos países frente à crise do clima “será julgada como falta de liderança, já que não haverá liderança global no século 21 que não seja definida pela liderança climática”.
“A presidência brasileira da COP30 se mostra comprometida a apresentar posições propositivas e trabalhar em prol de consensos em todas as áreas da negociação. Contudo, achar uma solução para implementar as decisões do balanço global do Acordo de Paris não vai ser fácil, especialmente porque não há arranjo técnico brilhante que consiga superar a falta de vontade política de parte da comunidade internacional. Para que a grande virada mencionada na carta seja possível, o Brasil precisa tomar a decisão certa de não expandir a exploração de petróleo e dar ênfase na nossa posição única de liderança em energias renováveis”, afirma a especialista em política internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim.

A chamada “transição para longe dos combustíveis fósseis” ainda é ponto a ser melhor desenvolvido, para outros especialistas, como Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Para que os combustíveis fósseis entrem na pauta da conferência será necessário um amplo processo de pressão e união sobre o tema. Apesar do cenário internacional adverso, a liderança do Brasil na COP 30 abre essa oportunidade. A carta da presidência diz que a COP30 pode iniciar uma inflexão na luta contra a crise climática e que podemos ganhar de virada. Para virar esse jogo, o Brasil terá que jogar no ataque”, avalia.

Marina Silva, ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, afirma que a carta de André Corrêa do Lago é “um chamado a governos, sociedade civil, cientistas, empresários, povos indígenas e comunidades locais pela superação de diferenças e união em torno da inauguração de um novo tempo da ação climática, focado na implementação dos compromissos firmados ao longo da última década”. De acordo com a ministra, “um dos pilares dessa agenda de mobilização é a decisão de fazer um Balanço Ético Global (BEG) rumo à COP30: uma articulação mundial pela meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5ºC em relação ao período pré-industrial. Assim, a presidência brasileira da COP30 busca alavancar um movimento global de cooperação entre os povos para o enfrentamento da mudança do clima, com base no fortalecimento do multilateralismo, único caminho possível para efetivação dessa tarefa.”