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Preservar florestas também pode ser negócio lucrativo

Preservar florestas também pode ser negócio lucrativo

A preservação de florestas é necessidade defendida pelos ambientalistas para a saúde e para o equilíbrio do planeta, mas manter uma árvore em pé também pode ser um negócio lucrativo.

Contra os eventos extremos que castigam o Brasil e o planeta, contra o aumento da temperatura que devasta a natureza e a agricultura, uma receita ancestral:

“Plantar muita árvore. Esse é o caminho que nós sempre aprendemos com os mais velhos”, ensina o cacique Márcio Werá Mirim.

O cacique-guarani vai apresentando as espécies com intimidade:

“Ingá-mirim, Araçá-una. É medicina para o nosso povo. Antes da nossa entrada aqui, as pessoas vinham e cortavam, não deixava crescer e não deixava gerar fruto”.

Mas sob a proteção de quem cuida, “um lugar preservado, onde as espécies nativas têm o direito de manter sua vida.”

Tudo isso que enche os olhos, como uma promessa de futuro para a Mata Atlântica, é fruto de consciência e muito trabalho. Onde há hoje um viveiro de mudas, já cercado de árvores e plantas de todos os tamanhos, era, há seis anos, um retrato triste da degradação e do desrespeito com o meio ambiente.

Os registros mostram que o depósito de lixo que tomava o lugar foi sendo retirado com ajuda da prefeitura e de parceiros. Os indígenas querem deixar assim todos os 532 hectares de suas aldeias demarcadas na Zona Norte de São Paulo.

Indígenas reflorestaram área degradada na Zona Norte de São Paulo — Foto: JN

Indígenas reflorestaram área degradada na Zona Norte de São Paulo — Foto: JN

Dizem que é trabalho de formiguinha, mas grandioso para quem vê o contraste com a São Paulo de concreto. E não importa o tamanho da terra. Seja ela pequena ou grande, pública ou privada, o Brasil precisa arregaçar as mangas com urgência para cumprir acordos internacionais, metas de governo e o compromisso com o futuro do planeta.

“O que a gente precisa fazer é restaurar a vegetação nativa, onde a gente perdeu, e garantir que a gente não vai desmatar outras regiões”, defende Edegar de Oliveira Rosa, diretor de Conservação e Restauração da WWF-Brasil.

Parte do plano é política de governo desde 2010. Para evitar novos desmatamentos, o plano ABC prevê apoio e crédito para a recuperação de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030. A Fundação Getúlio Vargas calculou que o investimento é grande, mas o lucro é maior ainda.

“A gente teria um lucro, um retorno líquido, uma receita líquida, de mais R$ 30 bilhões. A gente vai recuperar a pastagem, a gente vai ter uma pastagem de boa qualidade. A gente tesá falando de aumentar a produtividade desse sistema” diz Talita Priscila Pinto, pesquisadora do GVAgro.

Desmatar tem sido fácil e rápido. Já a restauração pode ser mais lenta, mas o resultado é duradouro e espetacular.

Em Minas Gerais, em pouco mais de 20 anos, uma área de 600 hectares, que estava totalmente degradada, virou mata fechada, com espécies nativas da Mata Atlântica: obra do fotógrafo e ativista Sebastião Salgado, que recebeu a fazenda como herança de família. Um exemplo que pode e precisa se multiplicar. E não só pelo futuro, mas pelos benefícios rápidos que pode trazer.

Um dos maiores especialistas em restauração de florestas diz que, só fazendo o que a lei manda, teremos ao menos um emprego a cada dois hectares recuperados.

“Se nós estivermos falando da regularização ambiental do Brasil para o Código Florestal, nós vamos estar falando da geração de 2 a 3 milhões de empregos diretos para fazer essa restauração. Nós podemos ser o exemplo do mundo, para efetivamente demonstrar que a restauração pode ser feita em larga escala, com qualidade e cumprindo o seu papel de colaborar na questão das alterações climáticas” afirma Ricardo Ribeiro Rodrigues, professor titular da ESALQ USP.