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Prática ASMR, dos sons para relaxar, combate a ansiedade e vira fenômeno na internet

Prática ASMR, dos sons para relaxar, combate a ansiedade e vira fenômeno na internet

Sons como os de sussurros, unhas batendo em objetos, mastigação e papel sendo amassado para relaxar. A prática conhecida como Resposta Sensorial Meridiana Autônoma (ASMR, na sigla em inglês) tem conquistado cada vez mais adeptos, com vídeos no YouTube ultrapassando 50 milhões de visualizações. A ciência que explica o interesse pela técnica ainda é pouco conhecida, mas estudos revelam como ruídos específicos impactam o corpo e a mente.

O estudo mais recente, publicado por pesquisadores da Universidade Northumbria, do Reino Unido, na revista científica PLOS ONE, concluiu que pessoas que sofrem de transtorno de ansiedade são as mais beneficiadas pela técnica. Durante o trabalho, foi observado ainda que, entre os participantes que disseram ser usuários recorrentes dos vídeos de ASMR, houve uma queda no nível de ansiedade após assistirem à prática, indicando benefícios diretos para a saúde mental.

O trabalho contou com participantes de 18 a 58 anos, que foram divididos em dois grupos, ambos com transtorno de ansiedade. O primeiro com aqueles que se consideravam usuários da experiência ASMR ou que demonstraram sentir “arrepios” na cabeça provocados pelos vídeos. Já o segundo foi formado por aqueles que afirmaram que não assistiam à técnica. A conclusão foi que os adeptos tiveram os sintomas do problema.

A professora do departamento de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Katie Almondes explica como a prática age no organismo:

— Ela atua desencadeando reações no corpo através de respostas a estímulos visuais e auditivos. Traz uma agradável sensação fisiológica, reduz o estresse e é associada ao relaxamento, além de trazer a perspectiva para aliviar a ansiedade.

Uma ajudinha na hora de pegar no sono

Um dos vídeos mais visualizados do canal brasileiro Sabrina ASMR no Youtube, que acumula quase meio milhão de inscritos, chama-se “Vou te fazer dormir intensamente hoje” e ultrapassa três milhões de visualizações. Com cerca de 17 minutos, o vídeo, de 2019, é repleto de comentários de internautas que dizem só conseguir dormir agora com o som dos sussurros. O caso evidencia outro benefício da técnica ASMR que tem sido observado pelos especialistas: a indução do sono.

— A gente tem visto um aumento crescente no número de pessoas que buscam a ASMR para ajudar a dormir melhor. Apesar de haver poucos estudos ainda, sabe-se que, como a técnica promove um relaxamento para algumas pessoas, ela tem sim o potencial de ajudar — destaca a médica Helena Hachul, pesquisadora do Instituto do Sono.

Outra prática que tem se tornado uma ferramenta útil para ajudar na hora de adormecer são os sons constantes como a estática da televisão, a chuva ou o barulho do ventilador que escondem outros ruídos externos. Especialistas acreditam que a técnica pode levar a audição ao nível máximo, o que abafaria estímulos, ainda que intensos, e os impediria de ativar o córtex cerebral e interromper o sono.

O método tem crescido sobretudo entre um público que naturalmente é mais propenso a ter a noite de sono interrompida: os bebês. No Youtube, vídeos com duração de até dez horas destinados aos pequenos simulam sons como de cachoeiras e ruídos de rádio.

Há também diferentes aplicativos destinados à reprodução dos sons, como o “Sono do bebê — ruído branco”, disponível na Play Store, e o “Sound Sleeper: Ruído Branco”, na App Store.

“Centro do prazer” pode ser ativado

O impacto psicológico da técnica foi um dos primeiros fatores a serem analisados no estudo pioneiro publicado sobre a ação da ASMR, também na revista PLOS ONE, em 2018. Nele, pesquisadores do departamento de psicologia da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, compararam dois grupos e descobriram que aquele que assistiu a vídeos de ASMR teve sua frequência cardíaca desacelerada e indicou que a técnica “pode ter benefícios terapêuticos para a saúde mental e física”.

Um outro trabalho, publicado na revista BioImpacts por pesquisadores da Faculdade Dartmouth, nos Estados Unidos, analisou, por meio de exames de ressonância magnética, como os cérebros de dez participantes responderam à experiência de ASMR. Enquanto assistiam a vídeos da técnica, a atividade cerebral dos voluntários foi monitorada, sendo identificados especialmente os momentos de relaxamento e de formigamento.

Os pesquisadores identificaram que, durante o processo, partes do cérebro ligadas à recompensa e à excitação emocional foram ativadas. Uma delas, chamada de núcleo accumbens, é conhecida como “o centro do prazer”. Outra, uma parte do córtex pré-frontal, é ligada à autoconsciência, à cognição social e a comportamentos sociais.