Poluição do ar aparece entre principais fatores de risco para morte por AVC
Entre 1990 e 2021, o número de pessoas que sofreram um novo AVC aumentou 70%, e as mortes subiram 44%. Poluição do ar por material particulado é equiparado a tabagismo na lista de “maiores riscos”
A poluição do ar por material particulado tem o mesmo nível de contribuição que o tabagismo para a ocorrência de AVC a nível global, segundo um estudo publicado na revista científica The Lancet. A pesquisa analisou a incidência de hemorragias cerebrais no mundo entre 1990 e 2021. Nesse período, o número de pessoas que sofreram um novo AVC aumentou 70%, o número de sobreviventes aumentou 86% e as mortes relacionadas ao AVC subiram 44%. A doença está em terceiro lugar entre as principais causas de morte no mundo.
O crescimento e o envelhecimento populacional são fatores que impactaram o aumento dos casos de AVC no mundo ao longo das três décadas analisadas (1990-2021). No entanto, fatores de risco ambientais, metabólicos e comportamentais também têm impacto nesse quadro — e são, em geral, evitáveis.
Entre 1990 e 2021, observou-se um aumento do AVC relacionado ao alto nível de açúcar no sangue, dieta rica em bebidas adoçadas com açúcar, baixa atividade física, pressão arterial sistólica alta, dieta pobre em ácidos graxos poli-insaturados ômega 6, altas temperaturas e alto índice de massa corporal (IMC). As duas últimas causas tiveram um aumento de 72% e 88%, respectivamente.
“O crescimento global do número de pessoas que desenvolvem AVC e morrem ou permanecem incapacitadas por causa do AVC está crescendo rapidamente, o que sugere fortemente que as estratégias de prevenção de AVC usadas atualmente não são suficientemente eficazes”, afirmou Valery L Feigin, da Universidade de Tecnologia de Auckland, Nova Zelândia, em comunicado.
Um critério usado para comparar as incidências em diferentes países e remover o impacto que a demografia tem sobre os dados foi a padronização por idade. Com isso, os pesquisadores observaram uma tendência de redução das taxas de incidência, prevalência e morte em todo o mundo e em quase todos os níveis de renda desde 1990. Mas, desde 2015, as taxas padronizadas por idade de incidência de AVC, morte e prevalência pioraram no sudeste asiático, leste asiático, Oceania e em pessoas com menos de 70 anos.
Em 2021, os cinco principais fatores de risco para a doença foram pressão arterial sistólica alta, poluição atmosférica por material particulado, tabagismo, colesterol LDL alto e poluição atmosférica doméstica — pela primeira vez, a poluição do ar aparece como um dos principais fatores de risco, contribuindo para 14% da morte e da incapacidade causadas pela hemorragia subaracnóidea, um subtipo de AVC.
“A perda de saúde relacionada ao AVC afeta desproporcionalmente muitos dos países mais desfavorecidos da Ásia e da África subsaariana devido à carga crescente de fatores de risco não controlados”, explicou Catherine O. Johnson, cientista líder de pesquisa do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME). Entre os fatores, estão a pressão alta mal controlada, níveis crescentes de obesidade e diabetes tipo 2 e a falta de prevenção e atendimento.
“Com 84% do ônus do AVC ligado a 23 fatores de risco modificáveis, há enormes oportunidades de alterar a trajetória do risco de AVC para a próxima geração”, disse Johnson. A estimativa é que o total de anos de vida saudável perdidos por conta do AVC – e atribuíveis a esses fatores de risco – aumentaram de 100 milhões em 1990 para 135 milhões em 2021. A proporção é maior na Europa Oriental, na Ásia e na África subsaariana. Já os fatores de risco metabólicos, como IMC alto, pressão arterial sistólica alta e colesterol LDL alto, contribuíram para a maior carga de AVC em todos os níveis de renda em 2021, de 66% a 70%.
Também houve uma redução da carga global de AVC decorrente de fatores de risco ligados à dieta inadequada, à poluição do ar e ao tabagismo. “Considerando que a poluição do ar ambiente está reciprocamente ligada à temperatura ambiente e à mudança climática, a importância de ações climáticas urgentes e de medidas para reduzir a poluição do ar não pode ser superestimada”, afirmou a pesquisadora. “Identificar maneiras sustentáveis de trabalhar com as comunidades para tomar medidas de prevenção e controle dos fatores de risco modificáveis para o AVC é essencial para enfrentar essa crise crescente.”