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Plantas sul-coreanas podem ter propriedades antivirais contra o Sars-CoV-2

Plantas sul-coreanas podem ter propriedades antivirais contra o Sars-CoV-2

Em ensaios in vitro, antioxidantes presentes em duas espécies botânicas foram capazes de bloquear a fusão da membrana de células humanas com o envelope do coronavírus

O surgimento de novas variantes do vírus Sars-CoV-2 e a ameaça de novas ondas de contaminação levantam um alerta para a ciência na busca de desenvolver medicamentos contra a Covid-19.

Em uma nova pesquisa, cientistas do Centro de Cognição e Sociabilidade do Instituto de Ciência Básica (IBS), na Coreia do Sul, encontraram compostos antivirais derivados de duas plantas nativas coreanas que podem auxiliar no combate à Covid. São elas a Codonopsis lanceolata, mais conhecida no país como “deodeok”, e a Aster koraiensis.

A primeira é comum no Leste Asiático e já é utilizada como erva medicinal, enquanto que a segunda é uma flor semelhante à margarida e só é encontrada na península coreana. Em ambas as plantas foram encontradas saponinas, antioxidantes que protegem as células contra radicais livres e que se mostraram eficazes na inibição da infecção pelo Sars-CoV-2.

Segundo o estudo, esses compostos são capazes de bloquear a fusão da membrana, meio pelo qual o vírus invade as células hospedeiras. Os achados foram divulgados na revista Antiviral Researchem outubro de 2022, e na Antimicrobial Agents and Chemotherapy, em novembro de 2022.

Bloqueando a fusão

Sabe-se que os coronavírus entram nas células humanas por meio de endossomos ou pela fusão nas membranas plasmáticas, processos que ocorrem entre o envelope do Sars-CoV-2 e a membrana celular humana.

Durante o estudo, a equipe descobriu que as saponinas astersaponina I e lansemaside A encontradas nas duas plantas coreanas são capazes de bloquear essa fusão da membrana entre o coronavírus e as células humanas, invalidando efetivamente todas as maneiras pelas quais o vírus pode infectar seu hospedeiro.

Para testar essa hipótese, a equipe criou um modelo de infecção por Sars-CoV-2 utilizando células pulmonares humanas que superexpressam a proteína do receptor ACE2, uma proteína que facilita a entrada do vírus no organismo. Além disso, também foi usado um pseudovírus que expressa a proteína do pico viral em sua superfície, que pode ser usada no centro de pesquisa de nível 2 de biossegurança relativamente menos restritivo.

Com isso os cientistas trataram esse modelo com astersaponina I e lansemaside A e verificaram que as saponinas apresentaram um alto valor de inibição máxima, indicando que ambas foram altamente eficazes em impedir que o coronavírus entrasse na célula.

Justin LEE, diretor do Instituto de Ciências da Vida, destaca, em comunicado, que as saponinas contidas nas plantas também estão presentes em muitos alimentos fitoterápicos que são facilmente acessíveis na vida cotidiana. Quando ingerido, pode ser entregue em altas concentrações às células epiteliais do trato respiratório superior. Isso significa que esses agentes também podem ser eficazes em um estágio assintomático ou inicial da infecção por Covid-19.

“Embora seus efeitos tenham sido confirmados apenas in vitro até o momento, ensaios clínicos podem ser possíveis no futuro se forem obtidos resultados positivos em testes em animais”, completa o pesquisador.

Variantes

Os cientistas destacam que a propriedade funcional das saponinas ​​como bloqueadoras permite inibir a infecção com qualquer variante conhecida, incluindo alfa, beta, delta e ômicron.

Variantes como a ômicron são mais infecciosas devido às mutações na proteína spike, o que aumenta sua afinidade de ligação com o receptor da célula ACE2. Contudo, por mais que as cepas aumentem sua afinidade, o vírus não conseguirá entrar na célula se todo o processo de fusão da membrana for bloqueado.

Pesquisas para a criação de saponinas sintéticas com efeitos ainda mais poderosos já estão sendo realizadas. Pesquisadores da IBS, em colaboração com a equipe de Sunkyu Han, professor do Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia (KAIST), criaram e testaram uma dúzia de saponinas sintéticas. Até o momento os resultados foram satisfatórios. Esse estudo foi publicado na edição de outubro de 2022 da revista Bioorganic Chemistry.

“Historicamente, muitos medicamentos importantes, como a penicilina e a aspirina, foram derivados de organismos naturais. Como o mecanismo de ação dessas saponinas depende da inibição da fusão da membrana, pode até ser possível desenvolver medicamentos antivirais de amplo espectro com base nesse princípio”, conclui Taeyoung Kim, pesquisador sênior do IBS.