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Planta em extinção é reencontrada no Rio após 50 anos desaparecida

Planta em extinção é reencontrada no Rio após 50 anos desaparecida

Outras espécies que estavam sumidas há 20 anos foram avistadas; pesquisadores também celebraram o retorno das onças pardas no município

Na vegetação da Estrada Grajaú-Jacarepaguá, que liga os bairros do Grajaú, na Zona Norte do Rio, e Jacarepaguá, na Zona Oeste, uma espécie de planta voltou a aparecer depois de mais de cinquenta anos desaparecida. O inhame, também conhecido como cará, foi descrito ainda na década de 1970 pela botânica brasileira Graziela Barroso e era uma espécie em extinção. No ano passado, uma espécie foi encontrada por agentes da Secretaria Municipal do Ambiente e Clima, um voluntário e um pesquisador voluntário do Parque Jardim Botânico. Ricardo Couto, gerente de Gestão de Unidades de Conservação da Secretaria municipal do Ambiente e Clima, explica que essa planta é exclusiva da região do Maciço da Tijuca.

— Eu tenho uma ligação especial com o inhame porque sempre foi meu objeto de pesquisa, procuro essa planta há 10 anos e nunca tinha encontrado. Ela foi descrita na década de 1970 e passamos 50 anos sem encontrar a planta, que é super ameaçada — explicou Couto.

Originária e endêmica – restrita a uma localidade ou região – o fruto do cará é levado pelo vento, o que a torna ainda mais restrita. Através de programas novos criados pela pasta, há a previsão de ações que ajudem essa espécie a sair da situação de ameaça. Couto ressaltou que apesar de encontrarem a espécie, a reinserção e o plantio de novas mudas é um processo lento, que pode demorar mais de dois anos.

— Quando ela dá fruto, a gente pega o fruto e tenta fazer mudas. Não necessariamente é um processo simples, exige pesquisa, mas a produção de mudas gera uma segurança porque você ajuda a produzir mais da espécie — contou ele.

Além do cará, os pesquisadores também comemoraram o encontro de outra espécie, exclusiva da Ilha de Paquetá, a espécie Funifera Insulae Nevling. O gerente de gestão ressaltou que a planta não possui um nome popular, mas estava há 20 anos sem nenhum registro. A planta foi encontrada em um terreno particular, que vem sendo estudado pela prefeitura, para se tornar Unidade de Conservação.

— Ela foi encontrada em um esforço da secretaria para buscar essa espécie. A Funifera foi descrita na década de 1950, e desde 1997 não tinha registros. Nós já imaginávamos que ela acontecia em Paquetá, não acontece em nenhum outro lugar do mundo, mas a vegetação diminuiu — explicou.

A espécie foi levada para a exsicata do Parque Jardim Botânico, que funciona para preservar plantas secas por longos períodos.

Pesquisador posa com "cará", a espécie de planta em extinção há 50 anos — Foto: Divulgação

Pesquisador posa com “cará”, a espécie de planta em extinção há 50 anos — Foto: Divulgação

Couto também celebrou o retorno das onças pardas na cidade do Rio. O gerente explicou que o animal ficou quase um século sem registro na capital, mas nos últimos dois anos, os pesquisadores encontraram a espécie em regiões próximas à Estrada do Mendanha, em Campo Grande, e em Guaratiba, ambos na Zona Oeste. Contudo, ele também tranquilizou essa aproximação das onças no perímetro urbano.

— Não vejo riscos à sociedade. O animal silvestre é muito assustado, tem mais medo de gente do que a gente deles. Essa aproximação traz mais riscos à própria espécie, fica mais vulnerável a acidentes, por exemplo, a atropelamentos, e a doenças também — explicou.

Depois de 22 anos sem atualizações, a prefeitura do Rio voltou a divulgar a lista de espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção no município. Couto compreende que essa lista é um marco importante, principalmente porque o próprio licenciamento da cidade necessita monitorar as espécies de fauna e flora.

— A análise tem que ser feita periodicamente, principalmente, para que a gente trabalhe e melhore baseado no atual. A lista é um retrato atual do que está acontecendo e será revista a cada cinco anos. Dessa forma, não perdemos o que está acontecendo naquele momento e também conseguimos ver se os planos de ação estão funcionando — explicou.

Funifera Insulae Nevling, desaparecida há 20 anos, é outra espécie encontrada pelos pesquisadores — Foto: Jorge Pontes

Funifera Insulae Nevling, desaparecida há 20 anos, é outra espécie encontrada pelos pesquisadores — Foto: Jorge Pontes

Em 1997, a Prefeitura do Rio lançou o programa Rio Diversidade, e a última listagem do tipo foi divulgada no ano 2000. Em 2021, os programas de Proteção e Conservação da Fauna Silvestre e Conservação da Flora Nativa foram criados, com o objetivo de elaborar ações para a conservação de populações de espécies nativas da fauna e da flora do município, incluindo a publicação de listas periódicas, com checklists que incluam as espécies nativas, exóticas, raras e as ameaçadas de extinção, além da elaboração de planos de ação municipais (PAM) para recuperação e conservação da fauna e da flora ameaçadas de extinção na cidade, bem como dos habitats a que estão associadas.

Para acompanhar a execução dos programas, uma comissão foi criada com participação de pesquisadores e especialistas da área em outros órgãos, como a Secretaria municipal de Proteção e Defesa dos Animais, as universidades UERJ, UFRJ e Estácio de Sá, e o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico.

As listas, desenvolvidas pelas gerências de Gestão de Unidades de Conservação e de Planejamento e Proteção Ambiental da SMAC, seguem os critérios de avaliação da International Union for Conservation of Nature – IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) e abrangem mais de 520 espécies de fauna e flora. As espécies são classificadas a partir das seguintes categorias: extintas da natureza, criticamente em perigo, em perigo e vulnerável.

Entre as 348 espécies de flora ameaçadas de extinção, o levantamento apontou as conhecidas como: Cará – Dioscorea, Margarethia, Peroba Rosa, Palmito Jussara, Pau-Brasil, Pau de Tamanco, Jequitibá, Cedros e Jacarandá Preto.

Já entre as 174 espécies da fauna ameaçadas de extinção estão: jacaré-de-papo-amarelo, jabuti-piranga, lagartixa-da-praia, onça-parda, peixe das nuvens, borboleta-da-praia, mico-leão-dourado, bugio-ruivo e paca.

O Rio possui mais de seis mil espécies nativas registradas, dentre fauna e flora, e, de acordo com a secretaria municipal de Ambiente e Clima, pode estar entre as cidades mais ricas em número de espécies no Brasil e no mundo.