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Pesquisadores usam drone e descobrem orquídea ameaçada de extinção em árvore centenária

Pesquisadores usam drone e descobrem orquídea ameaçada de extinção em árvore centenária

Orquídea da espécie Cattlea Warneri fica em Jequitibá na cidade de Muqui, no Sul do Espírito Santo. Foi a primeira vez que eles usaram um drone para pesquisa na área de conservação.

Pela primeira vez, pesquisadores de um Monumento Natural Serra das Torres (Monast) no Espírito Santo usaram um drone para pesquisa e descobriram uma espécie de orquídea ameaçada de extinção vivendo em um Jequitibá centenário. A planta da espécie Cattleya warneri é classificada como criticamente ameaçada de extinção. A árvore de aproximadamente 30 metros abriga não só a orquídea, mas várias outras espécies de plantas, animais e insetos.

O jequitibá fica em Muqui, no Sul do Espírito Santo. Segundo o gestor do monumento, Guilherme Mendonça, o drone já é utilizado para monitoramento, mas essa foi a primeira vez que os pesquisadores deram uma nova utilidade para o equipamento.

“Usamos o drone para monitoramento ambiental de forma geral, trabalho de fiscalização, locais de difícil acesso, mapeamento de áreas queimadas e desmatadas. O drone é uma grande ferramenta. A gente consegue mapear essas áreas e ter uma precisão melhor”, explicou o gestor.

Além disso, o drone utilizado tem sensores de segurança, que acusavam obstáculos a uma certa distância, o que permitiu que os pesquisadores entrassem na copa e os sensores avisavam quando tinha galhos e folhas.

Jequitibá centenário fica em Muqui, no sul do Espírito Santo — Foto: Reprodução/Monumento Natural Estadual Serra das Torres

Jequitibá centenário fica em Muqui, no sul do Espírito Santo — Foto: Reprodução/Monumento Natural Estadual Serra das Torres

Fazendo um pequeno passeio pelo jequitibá que tem no mínimo 100 anos de idade, os pesquisadores puderam analisar várias espécies de plantas além da orquídea, como bromélias e cactos.

“Foi a primeira vez para fins de pesquisa, mas agora que vimos que é uma ferramenta bem interessante que dá bons resultados, pretendemos usar mais vezes. Podemos chegar mais próximo e analisar melhor, nós fomos entrando pelas copas da árvore. E isso porque a gente nem tinha certeza do que a gente ia encontrar”, contou Guilherme.

Após terem feitos os registros e verem que tinha uma orquídea rosa que chamava a atenção, os pesquisadores resolveram enviar as imagens para um especialista no estado, Cláudio Nicoletti de Fraga, para analisar o que eles tinham encontrado no jequitibá.

“O jequitibá sempre chamou a atenção de um colega da nossa equipe e a gente sempre viu que tinha umas plantas, mas nunca podíamos imaginar que teria uma orquídea ameaçada de extinção. Mandamos para o Cláudio que confirmou. Essa orquídea é ameaçada no estado no mesmo patamar de ameaça de uma onça-pintada”, comentou o gestor.

Cláudio explicou que a espécie de orquídea Cattleya Warneri está ameaçada de extinção justamente por causa da agricultura expansiva e coleta indiscriminada na natureza. Hoje, essa espécie acaba sendo reproduzida em laboratórios e vai parar em lojas e supermercados, mas na natureza ela só aparece em árvores grandes e centenárias.

Abrigo natural

O jequitibá frondoso que fica no Monumento Natural Estadual Serra das Torres também é uma espécie protegida no Espírito Santo por estar na lista de espécies ameaçadas de extinção, no status em perigo.

Bem-te-vi é um dos pássaros que estava abrigado na árvore — Foto: Reprodução/Monumento Natural Estadual Serra das Torres

Bem-te-vi é um dos pássaros que estava abrigado na árvore — Foto: Reprodução/Monumento Natural Estadual Serra das Torres

Segundo os pesquisadores, apenas essa árvore abriga pelo menos quatro espécies de plantas diferentes, plantas epífitas, que se prendem e usam outra planta como suporte físico. É o caso de bromélias, orquídeas e cactos.

Pássaros também usam a árvore como abrigo. Durante o sobrevoo de drone, os pesquisadores encontraram um bem-te-vi.

“É difícil falar quantas espécies uma árvore desse tamanho pode abrigar. Por ser uma árvore antiga, a bromélia e a orquídea se estabeleceram enquanto ainda era mata ao redor do jequitibá. As plantas também devem ser antigas”, relatou o gestor.

Orquídea da espécie Cattleya warneri está ameaçada de extinção — Foto: Reprodução/Monumento Natural Estadual Serra das Torres

Orquídea da espécie Cattleya warneri está ameaçada de extinção — Foto: Reprodução/Monumento Natural Estadual Serra das Torres

A árvore centenária já passou por muitas transformações. O gestor explicou que antes o local onde ela estava era cercado por mata, mas agora a árvore ficou isolada, o que pode fazer com que seja ainda mais difícil da orquídea ameaçada em extinção poder se reproduzir e não ficar apenas no jequitibá.

“Tem um problema né, essa árvore hoje tá isolada, essa orquídea, será que vai conseguir se propagar a partir de lá? A gente acha difícil. Do jeito que tá ali ela não deve conseguir se reproduzir, diferente de uma mata que teria um ambiente mais ameno e controlado que ela poderia se propagar em outras árvores”, disse o pesquisador.

Monumento Natural Serra das Torres

O Monumento foi criado em 2010 e abriga três municípios do sul do Espírito Santo: Atílio Vivácqua, Mimoso do Sul e Muqui. São 10.400 hectares do local que é uma unidade de conservação.

Ele não tem uma entrada específica, mas possui vários atrativos voltados para o ecoturismo. Como a desapropriação de terras não é obrigatória para Monumentos Naturais, hoje a área é composta integralmente por áreas particulares.

Árvore tem 30 metros de altura — Foto: Reprodução/ Monumental Natural Estadual Serra das Torres

Árvore tem 30 metros de altura — Foto: Reprodução/ Monumental Natural Estadual Serra das Torres

Associada ao relevo montanhoso e escarpado está um dos mais relevantes complexos florestais do sul do Espírito Santo. Presença de plantas rupestres e formações florestais montanas e submontanas são os principais aspectos da vegetação encontrada. Estudos da flora já identificaram 201 espécies vegetais, sendo 17 ameaçadas de extinção.

O nome Serra das Torres é derivado de seu relevo montanhoso, que pode atingir até 1.260 m de altitude, com formação rochosa representada por pontões, “pães de açúcar, escarpas íngrimes e vales profundos, que avistada ao longe lembra uma série de torres perfiladas, entre elas se destaca a Pedra do Farol. Do alto de seus remanescentes florestais e fundos de vale nascem as águas que fazem parte de duas importantes bacias hidrográficas, a do rio Itapemirim e da rio Itabapoana.

Para poder visitar os atrativos abertos a visitação no Monumento ou fazer alguma das trilhas como a Pedra da Caveira ou a Pedra do Farol, é necessário entrar em contato com os proprietários. Na página do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) é possível ver quantos são os atrativos do Monumento.