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Pesquisadores decifram genoma de espécie “imortal” de água-viva

Pesquisadores decifram genoma de espécie “imortal” de água-viva

Sequenciamento genético mostra que, após a fase de reprodução, “Turritopsis dohrnii” reverte seu ciclo de vida para estágio assexuado, o que impede o envelhecimento

O ciclo de vida de um organismo vivo é quase o mesmo em grande parte das espécies: nascimento, crescimento, reprodução e morte. Não é o caso, porém, de uma água-viva capaz de driblar o envelhecimento e rejuvenescer repetidamente após a reprodução sexual, tornando-se biologicamente imortal.

Mas como isso acontece? Foi o que tentaram entender autores de um estudo dirigido por Carlos López-Otín, professor de Bioquímica e Biologia Molecular na Universidade de Oviedo, na Espanha. Junto a uma equpe de outros centros de pesquisa espanhóis, o cientista publicou seus achados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences na última segunda-feira (29).

O hidrozoário imortal tem nome científico Turritopsis dohrnii, e o segredo da sua vida eterna está relacionada ao seu genoma. Após a fase de reprodução, essa medusa tem a incrível capacidade de reverter a direção de seu ciclo de vida para um estágio assexuado anterior chamado pólipo.

Utilizando ferramentas de bioinformática e genômica comparativa, os pesquisadores realizaram o sequenciamento genético de Turritopsis dohrnii e da espécie Turritopsis rubra, seu semelhante mortal. Isso permitiu identificar quais genes são amplificados ou específicos da medusa imortal.

“Identificamos variantes e expansões de genes associados a replicação, reparo de DNA, manutenção de telômeros, ambiente redox, população de células-tronco e comunicação intercelular. Assim, propomos esses fatores como elementos-chave na capacidade de T. dohrnii de sofrer rejuvenescimento”, informam os cientistas.

Superpoderes

Além disso, o estudo das mudanças na expressão gênica durante o processo de rejuvenescimento da água-viva imortal revelou sinais de silenciamento gênico mediados pela chamada via “Polycomb”. Trata-se de uma família de complexos de proteínas que podem remodelar a cromatina, grupo de proteínas que atua na transcrição e replicação do DNA.

Os autores também observaram o aumento da expressão de genes relacionados à via de pluripotência celular. Ambos os sistemas são necessários para que as células especializadas se diferenciem e possam se tornar qualquer tipo de célula, formando assim o novo organismo. Os resultados sugerem que essas duas vias bioquímicas são mediadores fundamentais do rejuvenescimento cíclico dessas medusas.

De acordo com os autores, essas descobertas podem ser importantes aliadas contra doenças ligadas ao envelhecimento em humanos. “Este trabalho não persegue a busca de estratégias para alcançar os sonhos de imortalidade humana que alguns anunciam, mas sim compreender as chaves e os limites da fascinante plasticidade celular que permite que alguns organismos possam viajar no tempo”, comenta Carlos López-Otín, em nota. “A partir desse conhecimento, esperamos encontrar melhores respostas para as muitas doenças associadas ao envelhecimento que nos sobrecarregam hoje.”