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Passeios podem diminuir o risco de demência em cães e tutores, diz estudo

Passeios podem diminuir o risco de demência em cães e tutores, diz estudo

Os exercícios provavelmente impactam positivamente na biologia do envelhecimento, reduzindo inflamações, aumentando a plasticidade cerebral e evitando a obesidade

Os passeios diários que você faz com seu cachorro em praças ou parques podem reduzir o risco de demência tanto para o tutor, quanto para o animal. É o que sugere um estudo recente publicado pela Nature Scientific Reports, que oferece uma visão fascinante dos paralelos entre a saúde humana e canina.

Segundo a pesquisa, os cães desenvolvem demência assim como as pessoas, e este declínio cognitivo também leva a problemas de memória, desorientação, mudanças de comportamento e sono interrompido.

Analisando os dados dos mais de 15 mil cães envolvidos no estudo, os pesquisadores perceberam que um dos maiores fatores de risco para demência canina foi a falta de exercício, que perde apenas para a idade. As descobertas vêm em um momento oportuno, já que pesquisas paralelas mostram que atividades como passeios também podem proteger a saúde cerebral em humanos.

“As evidências são claras: ser ativo é melhor para sua saúde de várias maneiras do que ser inativo. Isso também é verdade para o seu cão”, disse o coautor do estudo Matt Kaeberlein ao TODAY.com.

Manter o seu cão ativo pode evitar o surgimento da demência e outras doenças associadas ao envelhecimento — Foto: Unsplash/ Kojirou Sasaki/ CreativeCommons

Manter o seu cão ativo pode evitar o surgimento da demência e outras doenças associadas ao envelhecimento — Foto: Unsplash/ Kojirou Sasaki/ CreativeCommons

Matt, que também é codiretor do Dog Aging Project — um estudo biológico da Universidade de Washington sobre a idade em cães —, acrescentou:

“Uma lição muito simples é: leve seu cachorro para passear mais… seria bom para você e seu cachorro. Este estudo apenas apoia ainda mais o papel extremamente importante que o exercício e a atividade desempenham em um estilo de vida saudável, tanto em cães, quanto em humanos”.

Sintomas de demência em cães

O Dog Aging Project visa entender como os genes, o estilo de vida e o ambiente influenciam o envelhecimento — para animais domésticos e pessoas — e prolongam seus anos saudáveis.

Ao contrário de camundongos, ratos ou outros animais, os cachorros de companhia são objetos de estudo especialmente bons para este fim porque vivem com humanos. Desta forma, segundo Matt, eles compartilham praticamente todos os aspectos do nosso ambiente.

Para humanos, caminhar 10 mil passos por dia pode reduzir pela metade o risco de demência — Foto: Unsplash/ Patrick Hendry/ CreativeCommons

Para humanos, caminhar 10 mil passos por dia pode reduzir pela metade o risco de demência — Foto: Unsplash/ Patrick Hendry/ CreativeCommons

Eles também envelhecem muito rapidamente em comparação com as pessoas — cerca de sete vezes mais rápido —, o que significa que os pesquisadores podem estudar seus estágios de vida em um período muito mais curto do que as vidas humanas.

O estudo envolveu uma amostra nacional de 15.019 cães de companhia inscritos no projeto. Os seus tutores forneceram informações sobre idade, sexo, raça, nível de atividade e estado de saúde de seus bichos.

Eles também preencheram uma pesquisa sobre o comportamento de seus cães, projetada para detectar demência. Relataram, por exemplo, se o seu animal estava andando de um lado para o outro, batendo nas paredes ou não reconhecendo pessoas familiares.

Outros sintomas comuns incluem distanciamento emocional da família, quando o cão passa muito tempo sozinho e se perde dentro de casa, explica Matt.

Cães muito ativos têm menos probabilidade de serem obesos, o que também pode afetar o risco de demência — Foto: Unsplash/ Robert Eklund/ CreativeCommons

Cães muito ativos têm menos probabilidade de serem obesos, o que também pode afetar o risco de demência — Foto: Unsplash/ Robert Eklund/ CreativeCommons

“Eles ficam presos em um canto apenas encarando. O que parece para os tutores é que o cachorro está apenas encarando a parede. Às vezes, eles ficam presos nos móveis. Esse é um sinal muito comum de demência, especialmente em cães menores”, diz.

Como o exercício afeta a biologia do envelhecimento

Quando os pesquisadores analisaram os dados obtidos, descobriram que 1,4% dos cães no estudo foram classificados como tendo disfunção cognitiva canina — a versão canina da demência.

As chances da condição aumentaram 52% a cada ano adicional de idade de um cão, segundo relatou o estudo. O aumento da idade também é o maior fator de risco conhecido para a doença de Alzheimer e outras demências em humanos, de acordo com a Associação de Alzheimer americana.

Entre cães da mesma idade, estado de saúde e de esterilização, e raça, as chances de demência eram seis vezes maiores em animais que não eram ativos em comparação com aqueles que eram muito ativos, concluiu o estudo.

“Isso faz sentido”, diz Matt, que também é diretor do Instituto de Pesquisa sobre Envelhecimento Saudável e Longevidade da Universidade de Washington. “É muito semelhante ao que vemos em humanos, onde há evidências muito boas de que a atividade e o exercício protegem contra a demência e outras doenças relacionadas à idade”.

Quando a atividade era a única variável entre os cães estudados, as chances de demência eram seis vezes maiores em animais não ativos — Foto: Unsplash/ Ron Fung/ CreativeCommons

Quando a atividade era a única variável entre os cães estudados, as chances de demência eram seis vezes maiores em animais não ativos — Foto: Unsplash/ Ron Fung/ CreativeCommons

O pesquisador acrescenta que o exercício provavelmente está impactando positivamente a biologia do envelhecimento, pois pode reduzir a inflamação e aumentar a plasticidade no cérebro. De acordo com Matt, cães muito ativos também têm menos probabilidade de tornarem obesos, o que pode afetar o risco de demência.

Mais saúde para animal e também para o tutor

No início deste ano, outro estudo publicado no JAMA Neurology descobriu que pessoas que caminham 10 mil passos por dia podem reduzir o risco de demência pela metade. Esse é o número ideal, mas nem é preciso caminhar tanto para fazer a diferença — apenas 4 mil passos diários podem reduzir o risco de demência em um quarto, descobriram os pesquisadores.

Como “4 mil passos por dia são menos intimidantes do que 10 mil para muitos, pode ser uma mensagem poderosa para motivar os indivíduos mais inativos e menos aptos”, disse o primeiro autor do estudo, Borja del Pozo Cruz, ao TODAY.com anteriormente.

As descobertas — baseadas em dados de mais de 78 mil adultos que vivem no Reino Unido — também mostraram que meia hora de caminhada em ritmo acelerado foi associada a um declínio de 62% no risco de demência.

Caminhar com o seu pet fará bem tanto para você, quanto para ele, então não pense duas vezes antes de chamá-lo para um passeio! — Foto: Unsplash/ Taylor Heery/ CreativeCommons

Caminhar com o seu pet fará bem tanto para você, quanto para ele, então não pense duas vezes antes de chamá-lo para um passeio! — Foto: Unsplash/ Taylor Heery/ CreativeCommons

Outro relatório, publicado na revista Neurology este ano, descobriu que participar de atividades físicas — como caminhar, correr, nadar, andar de bicicleta, usar máquinas de exercícios, praticar esportes, ioga e dançar — foi associado a uma redução de 17% no risco de demência.

Então, de forma geral, a mensagem para reflexão é: mantenha-se ativo (e a seu cão também)!