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Adotou um cachorro? Estudo aponta o que esperar nos primeiros 6 meses

Adotou um cachorro? Estudo aponta o que esperar nos primeiros 6 meses

Acompanhamento do processo de adaptação mostrou que, com o tempo, os animais passam a entender tutores como parte de sua família e se sentem mais confortáveis dentro das dinâmicas domésticas

Não é incomum que, durante o processo de adoção, cachorros apresentem uma série de comportamentos que desafiam a adaptação a uma nova casa, como agressividade ou dependência do tutor. Com base nisso, um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, analisou seis meses dessas mudanças de conduta.

Publicados em 16 de agosto na revista científica PLOS ONE, os resultados foram obtidos por meio de entrevistas com 99 novos tutores de cães adotados em abrigos de Ohio. Os questionários foram respondidos quatro vezes: depois de sete, 30, 90 e 180 dias da adoção. Para isso, utilizou-se uma ferramenta de pesquisa chamada Canine Behavioral Assessment & Research Questionnaire (C-BARQ).

Ao todo, o C-BARQ continha 42 perguntas que pediam aos participantes que usassem uma escala de 0 a 4 para avaliar excitabilidade; agressão dirigida a estranhos, proprietários e cães familiares ou desconhecidos; sensibilidade ao toque; comportamento relacionado à separação; apego e busca de atenção; e nível de energia.

Segundo o levantamento, da mesma forma que os cães apresentam uma alta na incidência de agressão dirigida a estranhos, ocorre uma diminuição nos problemas relacionados à separação de seus novos tutores. Ao final do experimento, 93,7% dos adotantes classificaram o comportamento geral dos seus cães como “excelente” ou “bom” e 100% relataram que o animal adaptou-se “extremamente” ou “moderadamente” à casa.

“O sistema de abrigo afeta muitas vidas, tanto as humanas quanto a dos animais de estimação”, afirma Kyle Bohland, um dos autores do artigo, em nota à imprensa. “Por isso, é importante que possamos aconselhar os proprietários sobre o que pode ou não mudar no futuro, de forma que estejam melhor preparados para lidar com essas consequências e, com sorte, manter os cães”.

Mudanças observáveis

Uma rápida pesquisa na internet sobre a adoção de cães de abrigo sugere que o comportamento desses animais de estimação mudará em três dias, três semanas e três meses após seu ingresso na família. “Três dias fazem sentido, porque o hormônio do estresse cortisol é conhecido por aumentar em cães quando eles entram em um novo ambiente e depois volta ao normal em poucos dias”, explica Bohland. “Mas a regra das três semanas e dos três meses não tem base científica.”

Cachorros recém-adotados podem apresentar agressividade e dependência de seus tutores — Foto: Unsplash
Cachorros recém-adotados podem apresentar agressividade e dependência de seus tutores — Foto: Unsplash

Outros estudos sobre a adaptação de cães de abrigo costumam seguir uma abordagem fragmentada, testando um ponto no tempo na nova casa ou usando pesquisas não validadas. O diferencial da pesquisa conduzida pela Universidade de Ohio foi justamente o uso do C-BARQ, que permite avaliar individualmente o comportamento de um cão e de forma padronizada.

Dentre as mudanças, os resultados indicaram aumento da agressão dirigida a estranhos, dificuldade de treino, aumento na excitabilidade e suscetibilidade ao toque, em especial entre os 90 e 180 dias. Comportamentos relacionados à separação, ao apego e à busca de atenção diminuíram na marca de seis meses.

Segundo os investigadores, algumas mudanças fazem sentido. Isso porque a agressividade contra estranhos pode aumentar à medida que os cães se sentem mais protetores do seu novo ambiente, e a ansiedade de separação diminui à medida que se adaptam à rotina doméstica.

Apesar dos problemas enfrentados durante o processo, o estudo conclui que as pessoas parecem ter ficado satisfeitas com seus peludos. Dos 99 cachorros acompanhados desde o início, apenas sete foram devolvidos ao abrigo, resultando em uma taxa de retorno de 7,1%. A média de retorno nos Estados Unidos é de cerca 15%.

“Essa combinação de descobertas é um lembrete de que quase todo mundo já enfrentou, em algum nível, problemas de comportamento imprevisíveis, doenças e as peculiaridades do envelhecimento dos animais – e ainda amamos nossos cães. Isso realmente demonstra o vínculo que as pessoas têm com seus animais de estimação”, conclui Bohland. “Minha esperança é de que, a longo prazo, isso possa ajudar os funcionários dos abrigos e os veterinários a direcionarem intervenções que ajudem a manter mais cães com seus tutores.”