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Obra no maior lago da China gera intenso debate ambiental

Obra no maior lago da China gera intenso debate ambiental

Redução de chuvas e aumento de temperaturas levam governos locais a tentar reter água com novas represas

Empresários de construção civil na China vêm usando um novo argumento para construir uma represa no meio do Lago Poyang, o maior do país: eles afirmam que a obra vai beneficiar o ambiente, ao reter água no manancial. O governo local, da Província de Jiangxi, é favorável à obra (que afirma ser necessária para enfrentar a mudança climática) e conduz neste sábado (18) uma audiência pública na cidade de Jiujiang para discutir a proposta.

O Lago Poyang tem 4.400 km2 — área quase três vezes superior à da cidade de São Paulo e maior que a da Lagoa Mirim (RS), maior lago verdadeiro do Brasil. Mais de 18 milhões de pessoas vivem no seu entorno e contam com sua água em ao menos parte do ano. Seu regime de cheias e secas afeta o cultivo de arroz na região e define um ecossistema que abriga mais de 100 espécies de peixes e 300 de pássaros.

O projeto da represa já havia sido suspenso uma vez, em 2016, diante de protestos por causa do impacto ambiental previsto. O lago já vem sofrendo com estações secas que começam cada vez mais cedo e terminam cada vez mais tarde, fenômeno constatado pelo menos desde 2003. Entre as causas estão redução de chuvas ao longo do Rio Yangtzé (comprovada pelo Departamento de Recursos Hídricos da Província de Jiangxi); elevação de temperatura na região; a construção da Represa de Três Gargantas, que desde 2008 retém água que iria para o lago; e a mudança na dinâmica de erosão e transporte de sedimentos na área (onde ocorre também extração de areia), que faz com que maior volume de água saia do lago mais rapidamente.

Conhecedores do problema, os empresários que defendem a represa e sua barragem de 3 km de extensão reapresentaram o projeto, passando a argumentar que a obra vai reter água na área. Com a represa, afirmam, vai haver mais água para abastacer as comunidades locais, para irrigação, vida selvagem e navegação local. Eles se apóiam no novo discurso do líder chinês Xi Jingping, atento à destruição ambiental causada nas décadas recentes de crescimento econômico acelerado, e que pede a criação de uma “civilização ecológica” no país.

Os ambientalistas alertam que uma nova represa não é solução. A seca na região já levou outros governos locais a tentar reter água em suas áreas — há mais de 50 mil pequenas represas na bacia do Rio Yangtzé. A seca continua a se agravar. A ONG Amigos da Natureza, em Beijing, alerta: “sem evidências científicas abrangentes e sem eliminar riscos ambientais, o projeto não deveria avançar”.

“Todos estão falando sobre ecologia mas precisamos ter conhecimento objetivo e análise dos impactos”, afirmou Wang Yamin, professor na Marine College da Universidade de Shandong à Bloomberg Green. “As autoridades precisam ser honestas sobre o lado bom e o lado ruim (da obra).”