O sofrimento invisível: estudo expõe dor de peixes no abate e propõe soluções

Pesquisa revela que trutas arco-íris enfrentam até 22 minutos de agonia no método tradicional e aponta técnicas mais humanitárias com bom custo-benefício
Um estudo publicado na Scientific Reports expõe com números precisos a intensidade do sofrimento de peixes durante o abate e apresenta alternativas para reduzir seu impacto. A pesquisa, que analisou especificamente trutas arco-íris, utilizou a metodologia inovadora Welfare Footprint Framework (WFF) para quantificar a dor causada pela asfixia no ar — prática comum na indústria pesqueira. Com bilhões de animais abatidos anualmente, os resultados pressionam por mudanças nos protocolos de bem-estar animal.
Dados revelam que, em condições padrão, cada peixe enfrenta em média 10 minutos de dor intensa, podendo chegar a 22 minutos dependendo de fatores como tamanho e temperatura da água. Traduzindo para a produção em escala, são 24 minutos de sofrimento por quilo de carne. O cálculo considerou revisões extensas de pesquisas anteriores sobre sinais fisiológicos e comportamentais de estresse em peixes.
Entre as soluções avaliadas, o atordoamento elétrico se destaca: a cada dólar investido em equipamentos, evita-se de 60 a 1.200 minutos de dor moderada a extrema. O método por percussão também mostra eficácia, embora sua aplicação em larga escala ainda enfrente desafios técnicos. O estudo ainda chama atenção para etapas prévias ao abate, como transporte e aglomeração, responsáveis por causar mais estresse cumulativo do que a própria morte.
Desenvolvido pelo Center for Welfare Metrics, o WFF mede o bem-estar animal calculando o tempo total de exposição a situações adversas. A ferramenta permite comparar intervenções, similarmente a indicadores ambientais ou de saúde pública. Segundo especialistas envolvidos, a abordagem oferece bases científicas para políticas regulatórias e investimentos em técnicas menos cruéis.
As conclusões do estudo podem influenciar desde certificações de qualidade até legislações específicas, direcionando recursos para as práticas com maior retorno em redução de sofrimento. A transparência dos dados, afirmam os pesquisadores, é um passo decisivo para tornar a indústria mais ética.