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O que fazer para a pandemia ter fim? Imunizar crianças e testar mais são algumas das respostas

O que fazer para a pandemia ter fim? Imunizar crianças e testar mais são algumas das respostas

Amanhã completa-se um ano desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou as vacinas CoronaVac e AstraZeneca contra a Covid-19. Agora, cerca de 68% da população estão totalmente imunizados, mas o Brasil ainda enfrenta o desafio de alcançar todas as faixas etárias com a vacina. O avanço da vacinação se mostrou fundamental para frear o rastro de destruição do novo coronavírus e evitar que a triste marca de mais de 620 mil vidas ceifadas pela Covid-19 fosse ainda maior. Especialistas apontam, no entanto, que imunizar crianças e impulsionar as doses de reforço representam os principais obstáculos ao controle da pandemia no país em meio ao cenário de rápida disseminação da variante Ômicron. Intensificar a testagem e reduzir o abandono vacinal — pessoas que não comparecem para tomar a segunda dose — completam as pontas soltas no combate ao vírus.

— Nós temos que alcançar no Brasil 90%, 100% da população completamente imunizada, isto é, com duas doses e com reforço, e também vacinar as crianças, porque elas são muito transmissoras (do coronavírus) naturalmente. Vacinar crianças é muito estratégico para controlar a pandemia — afirma a pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Dalcomo.

A vacinação no país tem sido repleta de turbulências desde antes da aprovação dos primeiros imunizantes pela Anvisa em janeiro de 2021. Único chefe de estado do G-20 a declarar que não irá se vacinar, o presidente Jair Bolsonaro travou uma campanha de desinformação contra os imunizantes.

A CoronaVac, primeira vacina aprovada pela Anvisa juntamente com a de Oxford, foi classificada pelo presidente como “vacina chinesa do Doria”, em referência ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB). As posições do presidente chegaram ao Ministério da Saúde, sob gestão do general Eduardo Pazuello, e tumultuaram as negociações. No imbróglio mais recente, Bolsonaro incitou perseguição aos diretores e aos funcionários da Anvisa que, em dezembro, aprovaram a vacina da Pfizer para uso em crianças de 5 a 11 anos. O país iniciou a imunização de crianças, vista como estratégia fundamental para conter a pandemia, só na última sexta-feira. Serão 4,3 milhões de doses entregues em janeiro e, no total, 20 milhões no primeiro trimestre, o que significa que o país não conseguirá imunizar totalmente os brasileiros desta faixa etária antes da volta às aulas.

— É um momento de expectativa, de esperança, mas é fundamental, de fato, que essa vacinação tenha um bom ritmo, que abranja todas as faixas etárias: só estaremos protegidos quando todos estiverem protegidos — analisa a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade.

A cultura de imunização do Brasil, cultivada há décadas, fez frente diante do movimento antivacina.

— Há um ano, cumprimos com o nosso dever e disponibilizamos um imunizante que se mostrou primordial no combate ao coronavírus. A ciência está em constante evolução, e nós iremos acompanhar todos os avanços — declarou o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas.

A Pfizer realiza testes para identificar a eficácia e segurança das vacinas em crianças de 6 meses a 4 anos, o que é visto como futuro importante para o controle da pandemia.

— Temos vacinas (para outras doenças) hoje para crianças com 10 dias, recém-nascidas. Espero que se ampliem os estudos e possamos ter vacinas contra Covid-19 para todas faixas etárias. A Anvisa não se curvará às ameaças — afirmou a diretora da agência, Meiruze Freitas.

Entre primeira e segunda doses e reforço, o Brasil aplicou mais de 306 milhões de vacinas no último ano. É nessa esteira que os brasileiros despontam como exemplo mundial, apesar de toda a turbulência, em fazer valer campanha de imunização.