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“O mundo vai precisar do Brasil para se descarbonizar”, diz integrante da Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono

“O mundo vai precisar do Brasil para se descarbonizar”, diz integrante da Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono

Para Henrique Ceotto, sócio e líder da prática de sustentabilidade da McKinsey & Company no Brasil, o país ainda tem muito a contribuir com o mercado global de créditos de carbono

A descarbonização é uma grande prioridade da agenda ESG para muitas empresas, especialmente para organizações com metas de emissões líquidas-zero agressivas. Faz, necessariamente, parte de um esforço global que deve interconectar todos os setores da indústria, em um objetivo que enfrenta pressão e urgência crescentes.

Atentas a isso, uma aliança de empresas e instituições de diversos setores no Brasil – Amaggi, Auren, B3, Bayer, BNDES, CBA, Dow, Natura, Rabobank, Raízen, Vale, Votorantim e Votorantim Cimentos – acaba de ser formada com o objetivo de estruturar ações-chave para desenvolver o mercado voluntário de carbono no Brasil e contribuir com o mercado global de créditos de carbono de alta integridade.

A descarbonização da economia até 2050 é uma prioridade para diversos países, que representam mais de 90% do PIB global, e para mais de 2.500 empresas globais – e esses números continuam a crescer, como explica Henrique Ceotto, sócio da consultoria McKinsey, coordenadora de conteúdo da Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono, em entrevista ao Entre no Clima, o podcast do Um Só Planeta.

“Esta é uma das cadeias de grande potencial para o país. E o mundo vai precisar do Brasil para se descarbonizar, seja porque somos um grande emissor, seja porque somos um dos países com o maior potencial de offsets [mecanismos de compensação que focam nos incentivos positivos à mitigação e normalmente são voluntários]. E essa é apenas uma das cadeias. Em várias outras, também temos vantagens estruturais, e acredito que ainda, como país, não temos essa visão e essa clareza”, afirma Ceotto.

O mercado voluntário de carbono é uma grande aposta dentro de um conjunto viável de soluções para a descarbonização da economia global e tem duas principais funções: primeiramente, a mitigação das emissões de gases de efeito estufa durante a jornada para o carbono zero (“net zero”); a partir daí, os créditos de carbono assumirão o papel de captura de emissões difíceis de serem abatidas.

Segundo estudo da McKinsey, o Brasil tem potencial de gerar até 15% da oferta mundial de créditos voluntários por meio de soluções naturais, seja de sequestro de carbono – como, por exemplo, reflorestamento e sistemas agroflorestais em áreas degradadas –, seja por iniciativas para evitar a emissão de gases de efeito estufa, como a conservação de florestas ameaçadas de desmatamento e intensificação de práticas agrícolas de baixo carbono em grandes culturas como soja, milho e cana-de-açúcar.

Henrique Ceotto, sócio da McKinsey, coordenadora de conteúdo da Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono — Foto: Divulgação

Henrique Ceotto, sócio da McKinsey, coordenadora de conteúdo da Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono — Foto: Divulgação

“A McKinsey tem 11 hubs nacionais, e eles fizeram um levantamento do potencial do que a gente chama de soluções de clima baseadas na natureza. Esse levantamento olhou, globalmente, todos os biomas, tentando entender qual é o potencial de captura de carbono ou de abatimento por soluções naturais. Então, isso cobre toda a parte de preservação, de restauração de biomas e também a captura de carbono. E, a partir desse estudo, ficou muito claro que o Brasil pode ser um dos grandes protagonistas desse mercado, com 15% de potencial”, descreve ele.

O potencial do Brasil, conforme o estudo da McKinsey, é um dos maiores do mundo, equivalente somente ao da Indonésia (15%), e muito acima de outros países, como Peru (4%), Estados Unidos (3%) e China (2%). Estas soluções naturais, além de menos custosas e com maior potencial de crescimento no curto prazo do que soluções puramente tecnológicas, trazem benefícios adicionais como recuperação da biodiversidade, segurança hídrica e desenvolvimento socioeconômico.

Além das soluções naturais, o Brasil tem também potencial relevante de gerar créditos por meio de diversas soluções tecnológicas, como o desenvolvimento do hidrogênio verde e a captura de biometano.

A iniciativa irá trabalhar em diversas frentes com o objetivo de posicionar o país na liderança de um mercado global de carbono de alta integridade. Entre os objetivos do projeto estão:

  • ampliar a oferta por meio dos melhores processos de certificação/verificação;
  • desenvolver os instrumentos financeiros necessários para alinhar a demanda com a oferta;
  • definir requisitos para um mercado de alta integridade (técnica, ambiental e social);
  • explorar as principais implicações fiscais;
  • assim como projetar um órgão de governança independente para coordenar o mercado e
  • elaborar a estratégia de engajamento com os stakeholders estratégicos.