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O dia depois de amanhã: respostas e soluções em estados afetados por extremos do clima em 2024

O dia depois de amanhã: respostas e soluções em estados afetados por extremos do clima em 2024

Secas históricas, ondas de calor extremas, inundações e chuvas com ventos intensos colocaram milhares de pessoas em vulnerabilidade no país e ascenderam um alerta para ao agravo das mudanças climáticas

O ano de 2024 foi marcado por eventos climáticos extremos em todas as regiões do Brasil. Secas históricas, ondas de calor extremas, inundações e chuvas com ventos intensos colocaram milhares de pessoas em vulnerabilidade no país e ascenderam um alerta para ao agravamento das mudanças climáticas.

No primeiro semestre, o país se viu entre extremos. Enquanto na Bahia e Maranhão chuvas intensas causavam alagamentos e deixavam pessoas desabrigadas, por outro lado, estados da região Norte como Rondônia e Amazonas, além do Pantanal, enfrentavam uma seca extrema com nuvens de fumaça de queimadas tomando as cidades.

Ainda no fim do primeiro semestre, a enchente no Rio Grande do Sul deixou milhares de famílias desabrigadas, e os incêndios criminosos em São Paulo levaram mais de 1.000 pessoas a procurarem atendimentos hospitalares por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), devido à fumaça das queimadas, além de deixar outros milhares sem energia elétrica por dias devido aos fortes ventos.

O cenário é desafiador e a expectativa, infelizmente, é de que a frequência dessas ocorrências deve aumentar, exigindo que a sociedade e os Governos estejam cada vez mais preparados para enfrentar os desafios climáticos. Apesar disso, as soluções não devem vir a curto e médio prazo.

Vitor Hassan, VP de Mercados e Head da vertical energia da Climatempo alerta que vamos passar por uma maior frequência de eventos climáticos. “O intervalo entre a ocorrência dos eventos climáticos extremos vem diminuindo, com um evento de grande impacto a cada cinco ou seis anos para pelo menos uma ocorrência em menos de dois anos”, observa.

Para combater esse cenário, muito se fala sobre a redução nas emissões de gases de efeito estufa (GEE), uma vez que as mudanças climáticas são causadas pelo aumento nas emissões globais. Porém, somente isso já não é mais suficiente. “Mesmo que o planeta reduzisse as emissões a zero hoje, levariam décadas para dissipar o que está na atmosfera”, ressalta Hassan. É preciso, além de mitigar os efeitos da crise do clima pela redução de emissões e pela captura de carbono, investir em medidas de adaptação climática no campo e nas cidades para que as pessoas tenham mais condições de enfrentar os efeitos de um clima já está em transformação.

Pensando no cenário de soluções, a reportagem entrou em contato com um estado de cada região que foi afetado por eventos climáticos severos em 2024. São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Maranhão e Amazonas foram questionados sobre quais ações tomaram para combater os danos trazidos pelas mudanças climáticas.

Rio Grande do Sul

Palco de uma das tragédias mais dramáticas de 2024, as cidades atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul gradualmente estão recuperando a rotina. Ao todo, 2,3 milhões de pessoas foram afetadas pela catástrofe climática e 600 mil foram forçadas a se deslocar.

Com isso em vista, o Governo estadual criou o Plano Rio Grande. Segundo informado à reportagem, esse programa é destinado à reconstrução, adaptação e resiliência climática, propondo uma série de medidas para diminuir os impactos causados pelas chuvas.

Até o momento, foram investidos mais de R$ 4,1 bilhões em áreas como habitação, saúde, educação, defesa civil, meio ambiente e desenvolvimento social. Esse dinheiro está dividido entre ações emergenciais, consideradas de curto prazo; ações de reconstrução, planejadas como iniciativas de médio prazo; e no eixo chamado “Rio Grande do Sul do futuro”, com projetos e obras de longo prazo.

Imagem aérea de inundação no Rio Grande do Sul — Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil
Imagem aérea de inundação no Rio Grande do Sul — Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil

Entre as iniciativas a longo prazo estão o Projeto RioS, que prioriza intervenções em áreas vulneráveis e a criação de um portfólio sustentável para o redesenho territorial. O programa inclui também a construção de sistemas de contenção de cheias, com investimentos de R$ 531 milhões no Jacuí e R$ 2,5 bilhões no Arroio Feijó, entre outros projetos em análise.

Na área ambiental, o ProClima 2050 aborda as mudanças climáticas por meio de ações como transição energética, redução de emissões de gases de efeito estufa e educação ambiental. A iniciativa inclui o desenvolvimento do Plano Estadual de Transição Energética Justa e o monitoramento climático em parceria com o ICLEI, com entrega prevista para 2025.

Além disso, o estado também cita os programas como o Volta por Cima e o Fundo a Fundo da Defesa Civil, que já destinaram centenas de milhões para apoiar famílias atingidas e reforçar a infraestrutura de emergência, promovendo uma convivência mais harmoniosa entre população e meio ambiente.

Mato Grosso

No Mato Grosso, o ano foi marcado por seca severa e incêndios florestais e registrado como o mais seco dos últimos 44 anos, com mais de 20 municípios em situação de emergência.

Diante desse cenário, o Governo intensificou ações de prevenção e combate. Em nota enviada ao Um Só Planeta, o estado detalha investimentos de R$ 74,5 milhões no Plano de Ação de Combate ao Desmatamento Ilegal e Incêndios Florestais, que resultou em avanços como a redução de 48% da área queimada no Pantanal em relação a 2020, quando os incêndios atingiram 20.403 km².

Imagem de queimadas no Mato Grosso (arquivo) — Foto: Chico-Ribeiro/Governo Mato Grosso do Sul
Imagem de queimadas no Mato Grosso (arquivo) — Foto: Chico-Ribeiro/Governo Mato Grosso do Sul

As iniciativas incluem capacitação de brigadistas, uso de tecnologia como monitoramento por satélite, construção de aceiros, ampliação da infraestrutura dos bombeiros e atendimento emergencial à fauna silvestre. Destaque para a contratação de brigadistas, aquisição de aviões agrícolas e ações educativas com comunidades locais.

O Estado também afirma que intensificou a fiscalização, aplicando mais de R$ 200 milhões em multas ambientais. Para 2025, o plano de combate já está em elaboração e prevê continuidade das medidas de enfrentamento aos incêndios e ao desmatamento ilegal, reforçando a parceria entre órgãos estaduais e federais.

No entanto, o estado, que em 2024 registrou uma sequência de aprovações de leis que flexibilizam a proteção ambiental, começou 2025 aprovando um projeto de lei complementar que altera o Código Ambiental ao categorizar formações vegetais florestais da Amazônia como pertencentes ao bioma Cerrado, reduzindo de 80% para 35% a área de Reserva Legal obrigatória em propriedades rurais.

Especialistas alertam que milhões de hectares de floresta no estado estão sob risco de desmatamento. Segundo organizações socioambientais, a situação traz consequências para o Pantanal e afeta o que já era a fronteira de desmatamento mais relevante da Amazônia nas últimas décadas.

São Paulo

São Paulo também enfrentou cenários devastadores causados por incêndios florestais agravados por estiagens prolongadas, alta temperatura, baixa umidade do ar e ventos fortes. Em resposta, o Estado implementou protocolos preventivos e de combate, organizados em fases (verde, amarela e vermelha) com base no nível de risco, em conjunto com a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros.

Entre as ações, destaca-se a construção de aceiros em mais de 65 milhões de metros ao longo das rodovias e unidades de conservação; investimento de R$ 15 bilhões em prevenção; e maior contratação de brigadistas e equipamentos, como veículos e motobombas. Segundo a Secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Governo de São Paulo, o estado possui um plano estratégico climático dividido em mitigação, adaptação e resiliência, incluindo consulta pública do Plano de Adaptação e Resiliência Climática, com foco em segurança hídrica, alimentar e infraestrutura crítica.

Cidade de São Paulo com pior qualidade do ar. — Foto: Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto via Getty Images)
Cidade de São Paulo com pior qualidade do ar. — Foto: Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto via Getty Images)

A preocupação também se estendeu para a inclusão social e justiça climática, integrando comunidades vulneráveis às estratégias climáticas e assegurando um tripé sustentável – econômico, social e ambiental – em todas as políticas públicas, informou o governo. As medidas buscam garantir prevenção, resposta eficiente e resiliência diante das mudanças climáticas, visando resultados de curto, médio e longo prazo.

Maranhão

Em 2024, o Maranhão enfrentou enchentes severas, com mais de 30 cidades em situação de emergência, mil famílias desabrigadas e duas mil desalojadas. Parte das ações tomadas pelo Governo foram de contenção de danos, com a Defesa Civil, por exemplo, trabalhando na retirada de pessoas das áreas de risco e distribuição de refeições, fornecidas pela rede de Restaurantes Populares do Governo do Estado.

O planejamento da Defesa Civil do Maranhão também prevê a assistência às comunidades afetadas, com a retirada preventivamente das famílias de áreas de risco.

As fortes chuvas dos últimos dias no Maranhão elevaram o nível dos rios — Foto: Twitter do Governador do Maranhão
As fortes chuvas dos últimos dias no Maranhão elevaram o nível dos rios — Foto: Twitter do Governador do Maranhão

Amazonas

No Amazonas, desde julho do ano passado os moradores têm enfrentado problemas climáticos com a seca histórica dos rios Negro e Solimões, além das queimadas que levaram algumas cidades, como a capital Manaus, a ficarem cobertas por uma densa nuvem cinza. Todos os 62 municípios do Estado chegaram a estar em situação de emergência em algum momento. Como resposta a essas situações, o Governo do Amazonas afirma que distribuiu 3 mil toneladas de alimentos, principalmente para moradores do interior.

Capital amazonense coberta por nuvem de fumaça — Foto: Rede Amazônica
Capital amazonense coberta por nuvem de fumaça — Foto: Rede Amazônica

Além disso, também prevê perdoar e renegociar R$ 3,6 milhões em dívidas de produtores rurais que foram diretamente afetados pela estiagem. No combate aos incêndios florestais, foram aplicadas multas no valor de R$ 214,5 milhões, 431 autos de infração e 80 termos de apreensão lavrados, além de 196 detenções realizadas. Foram mais de 22,5 mil focos de incêndio combatidos pelo Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM). Sendo, 2.579 incêndios na capital e 19.981 no interior do estado.