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“O Ártico é como um sentinela, a primeira trincheira da crise climática”, diz o jornalista Ernesto Paglia, que explora o degelo e seus efeitos dramáticos

“O Ártico é como um sentinela, a primeira trincheira da crise climática”, diz o jornalista Ernesto Paglia, que explora o degelo e seus efeitos dramáticos

Veterano de aventuras no extremo do Planeta, o jornalista estreia no dia 4 a série documental “3x Ártico – o alerta do gelo”, no Globoplay

Quando você pensa no Ártico, o que lhe vem à mente? A região, que parece tão distante para a maioria das pessoas, ocupa um lugar especial no coração e nas cadernetas do jornalista e veterano de aventuras Ernesto Paglia. Ele já esteve três vezes na Groenlândia. A primeira em 1995 — três anos após a conferência da ONU ECO-92 colocar a mudança do clima na pauta global –, depois em 2007 e, mais recentemente, em abril deste ano.

Vinte e oito anos desde a incursão inicial mostraram o quanto o Ártico mudou. “Em 1995, nós percorremos mais de 400 quilômetros sobre gelo acompanhando os inuítes nas excursões de caça com seus trenós puxados por cães. Quando voltamos em 2007, o percurso durou apenas dois dias, e não podíamos mais avançar. Quando voltamos em abril agora, andamos apenas um dia, porque o gelo era fino demais e não dava para continuar”, conta ao Um Só Planeta.

Os cerca de 60 mil inuítes existentes no mundo hoje (ou “Inuit”, popularmente chamados de “esquimós”, termo que deve ser evitado dada sua origem imposta por colonizadores) são os povos tradicionais que habitam há mais de 4 mil anos o extremo círculo polar ártico e que têm sofrido os impactos de um mundo em aquecimento de forma intensa. Atualmente, eles caçam bem menos e dependem mais da pesca.

Caçador Inuit — Foto: Globo/ Henrique Picarelli
Caçador Inuit — Foto: Globo/ Henrique Picarelli

O documentário também traz depoimentos de Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do IPCC, painel científico da ONU sobre clima. Segundo os cientistas, o Ártico está aquecendo de três a quatro vezes mais depressa do que o resto do planeta e o impacto na elevação dos oceanos é irreversível. Desde a Segunda Revolução Industrial, no século XIX, o degelo da Groenlândia foi responsável por 1/3 do aumento médio do nível do mar registrado.

Mantido este ritmo, majoritariamente atribuído ao aquecimento global causado pelo homem, o Ártico poderá ter verões totalmente sem gelo até 2040, o que também deverá agravar a crise climática mundial. Com seu imenso manto gelado e branco, o Ártico ajuda a refletir os raios solares que incidem na Terra de volta para o espaço, impedindo a concentração de calor. “O Ártico é como um sentinela, a primeira trincheira da crise do clima”, compara o jornalista. Porém, à medida que o degelo se intensifica, mais o oceano escuro da região fica exposto e acaba absorvendo mais energia dos raios solares, aquecendo-se. Esse ciclo de retroalimentação gera uma amplificação do aquecimento.

O jornalista visitou Qaanaaq, a aldeia indígena mais ao norte do planeta, situada na Groenlândia. — Foto: Globo/ Henrique Picarelli
O jornalista visitou Qaanaaq, a aldeia indígena mais ao norte do planeta, situada na Groenlândia. — Foto: Globo/ Henrique Picarelli

As consequências do degelo de uma região chave para o equilíbrio climático mundial serão dramáticas e incluem a elevação dos níveis dos mares, colocando em risco centenas de cidades litorâneas em todo o mundo. “Simplesmente é a maior reserva de água doce do mundo, só que em forma de gelo, com lugares onde a espessura da camada de gelo chega a 3000 metros. São 3 km de gelo. Quando isso dissolver, nós vamos ter um acréscimo no nível médio dos mares ao redor do planeta. Os cientistas falam há tempos de uma alta de 24 cm até 2050 devido ao aquecimento global das águas do oceano desde a era pré-industrial”, diz o jornalista.

Companheiros de aventuras geladas: o jornalista Ernesto Paglia, ao lado do guia canadense Jim Allan e do cinegrafista Marco Antônio Gonçalves. — Foto: Globo/ Henrique Picarelli
Companheiros de aventuras geladas: o jornalista Ernesto Paglia, ao lado do guia canadense Jim Allan e do cinegrafista Marco Antônio Gonçalves. — Foto: Globo/ Henrique Picarelli

No próximo dia 4, o jornalista estreia a série documental “3x Ártico – O alerta do gelo”, no Globoplay. Na série, dirigida por Henrique Picarelli, que também assina o roteiro com Caio Cavechini, e produzida por Ana Pessoa, o jornalista visitou Qaanaaq, a aldeia indígena mais ao norte do planeta, situada na Groenlândia. Ao seu lado, tinha ainda outros dois amigos e companheiros de viagem que também vivenciaram as duas expedições anteriores, de 1995 e 2007: o cinegrafista Marco Antônio Gonçalves e o guia canadense Jim Allan.

Entre aventuras (e desventuras) geladas, Paglia revive antigas experiências na região e mostra, com generosidade e um talento indiscutível para contação de histórias, porque precisamos olhar o Ártico e seus povos com outros olhos — mais atentos aos sinais cada vez mais irreversíveis da mudança climática. “Eu vejo com muita preocupação tudo o que está acontecendo. Acompanho o meio ambiente há muito tempo. No começo, era um assunto para cientistas, hoje em dia, é um assunto para o cidadão. Tudo o que a gente faz no planeta tem uma consequência e a gente precisa estar alerta e ter consciência disso”.