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Números do ciclo do carbono para prever mudanças climáticas estão incorretos, dizem cientistas

Números do ciclo do carbono para prever mudanças climáticas estão incorretos, dizem cientistas

Elementos essenciais do ciclo global de carbono, usados para rastrear o movimento do dióxido de carbono (CO2) no meio ambiente, não estão corretos, o que pode estar alterando significativamente os modelos climáticos e as previsões do futuro do clima.

Esta é a conclusão de uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Virgínia e do Laboratório Nacional Noroeste do Pacífico, ambos nos EUA.

A estimativa de quanto dióxido de carbono as plantas retiram da atmosfera é fundamental para monitorar e prever a quantidade de gases que alteram o clima na atmosfera.

Desta forma, a inconsistência descoberta pela equipe tem o potencial para mudar as previsões para as mudanças climáticas, embora não esteja claro neste momento se a incompatibilidade resultará em mais ou menos dióxido de carbono sendo contabilizado no meio ambiente.

“Ou a quantidade de carbono que sai da atmosfera [retirado] pelas plantas está errada, ou a quantidade que sai do solo está errada,” disse a professora Meredith Steele. “Não estamos contestando a ciência bem estabelecida das mudanças climáticas, mas devemos ser capazes de contabilizar todo o carbono no ecossistema, e atualmente não conseguimos fazer isto. O que descobrimos é que os modelos de resposta do ecossistema às mudanças climáticas precisam ser atualizados.”

Contabilidade do carbono

Para entender como o carbono afeta os ecossistemas da Terra, é importante saber exatamente para onde está indo todo o carbono. Esse processo, chamado de contabilidade do carbono, diz quanto carbono está indo para onde e quanto está em cada um dos reservatórios de carbono da Terra – oceanos, atmosfera, terra e seres vivos.

Os pesquisadores se concentram na ciclagem do carbono e em como as plantas e o solo removem e devolvem o dióxido de carbono da e para a atmosfera. Quando os animais comem plantas, o carbono se move para o ecossistema terrestre. Em seguida, ele se move para o solo ou para os animais. E uma grande quantidade de carbono também é exalada de volta à atmosfera.

Esse dióxido de carbono que entra e que sai é essencial para equilibrar a quantidade de carbono na atmosfera, o que contribui para as mudanças climáticas e para o armazenamento de carbono a longo prazo.

Números do ciclo do carbono usados para prever mudanças climáticas estão incorretos, dizem cientistas

As teorias e modelos climáticos têm sido corrigidos ao longo dos anos, um processo contínuo e natural na ciência.
[Imagem: Rice University]

No entanto, os pesquisadores descobriram agora que, ao usar os números aceitos para a respiração do solo, o número usado nos modelos de ciclagem de carbono não fica mais balanceado.

O que a equipe descobriu é que, usando o número aceito para a produtividade primária bruta do dióxido de carbono, de 120 petagramas – cada petagrama (1015 gramas) equivale a um bilhão de toneladas – a quantidade de carbono que sai pela respiração do solo deve estar por volta de 65 petagramas.

Ao analisar vários fluxos – a quantidade de carbono trocada entre os reservatórios de carbono da Terra – os pesquisadores constataram que a quantidade de respiração de carbono que sai do solo é de cerca de 95 petagramas, enquanto a produtividade primária bruta deve ficar em torno de 147.

Apenas para dar uma dimensão desses números, a diferença entre a quantidade atualmente aceita pelos cientistas e esta estimativa é cerca de três vezes as emissões globais de combustíveis fósseis a cada ano.

Vai melhorar ou piorar?

Segundo os pesquisadores, existem duas possibilidades para esse desbalanceamento. A primeira é que a abordagem de sensoriamento remoto pode estar subestimando a produção primária bruta. A outra é o aumento das medições de respiração do solo, que podem estar superestimando a quantidade de carbono devolvida à atmosfera.

Se essa estimativa errônea é algo positivo ou negativo para o desafio cientificamente comprovado das mudanças climáticas é o que precisa ser examinado a seguir.

O próximo passo consistirá em determinar qual parte do modelo global de ciclagem de carbono está sendo sub ou superestimada.

Ao ter uma contabilidade precisa do carbono e onde ele está no ecossistema será possível fazer melhores previsões e construir melhores modelos para avaliar a resposta dos ecossistemas às mudanças climáticas, diz a equipe.

Bibliografia:

Artigo: Historically inconsistent productivity and respiration fluxes in the global terrestrial carbon cycle
Autores: Jinshi Jian, Vanessa Bailey, Kalyn Dorheim, Alexandra G. Konings, Dalei Hao, Alexey N. Shiklomanov, Abigail Snyder, Meredith Steele, Munemasa Teramoto, Rodrigo Vargas, Ben Bond-Lamberty
Revista: Nature Communications
Vol.: 13, Article number: 1733
DOI: 10.1038/s41467-022-29391-5