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Nova espécie de cacto é descrita no Ceará

Nova espécie de cacto é descrita no Ceará

Durante um trabalho de campo para o estudo de cactos que ocorriam no interior do Ceará, em 2009, um grupo de pesquisadores encontrou uma espécie muito similar à já conhecida Tacinga palmadora, popularmente chamada de palmatória, amplamente encontrada na Caatinga e que possui flores vermelhas. Na época, estudos iniciais indicavam que, apesar de ser menor, ela deveria ser mesmo uma palmatória, mas que apresentava peculiaridades locais devido aos efeitos do manejo da vegetação e da pecuária.

Todavia, alguns anos mais tarde, em 2022, em uma nova expedição à região, botânicos fizeram coletas de amostras daquele pequeno cacto para serem analisadas de forma mais minuciosa em laboratório, com exames genéticos, inclusive. E o resultado apontou que na verdade, aquela era uma espécie diferente de cactos, batizada agora como Tacinga mirim.

“Ela tem menos espinhos e a flor é diferente, o que sugere isolamento reprodutivo entre as espécies. Além disso, a quantidade de cromossomos e a sua organização são diferentes também”, explica Marcelo Oliveira Teles de Menezes, pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e principal autor do artigo científico que descreve a nova espécie.

O tamanho menor da Tacinga mirim e a palmatória é o que realmente salta mais aos olhos. A primeira atinge apenas 50 centímetros de altura e a segunda pode chegar a até 4 metros.

Nova espécie de cacto é identificada no Ceará
Durante muito tempo a Tacinga mirim, acima, foi identificada erroneamente
como a Tacinga palmadora
Foto: Marcelo Teles
/Leonardo Jales

Até este momento, a Tacinga mirim só foi observada em quatro municípios do Ceará: Santa Quitéria, Catunda, Sobral e Canindé. Essa é uma das razões que a espécie já é considerada, pelos pesquisadores, como possivelmente ameaçada de extinção, pois só foi encontrada numa área menor que 36 km².

Além disso, Teles afirma que há menos que dez populações conhecidas desse cacto cearense até hoje e seu habitat sofre com o desmatamento.

““Existe ainda o projeto de um grande empreendimento de mineração de urânio e fosfato em Santa Quitéria, próximo à área de ocorrência da espécie”, revela o pesquisador. “E a mineração é uma das atividades que causam os impactos ambientais mais severos.”

Nova espécie de cacto é identificada no Ceará
Um arbusto da Tacinga mirim no meio da vegetação da Caatinga
Foto: Marcelo Teles/Leonardo Jales

Mudanças climáticas também ameaçam os cactos da Caatinga

Em julho, um outro artigo publicado por um grupo de pesquisadores brasileiros alertou sobre o possível desaparecimento de duas espécies de cactos comestíveis da Caatinga por causa das mudanças climáticas. Um deles era o cacto-palmatória.

Segundo o estudo, apesar de o aumento das temperaturas e da aridez parecer favorável às espécies de cactos do semiárido brasileiro, eles também podem ser vulneráveis ao calor e a falta de água.

Projeções da ciência climática sugerem que a Caatinga pode estar se tornando mais árida, devido às temperaturas mais elevadas e menos chuvas. O bioma é o terceiro maior centro de diversidade de cactos do planeta.

“Os cactos têm valor cultural, econômico e ecológico para a população residente no semiárido brasileiro”, disse na época Arnóbio de Mendonça Cavalcante, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e um dos autores do estudo.

A palmatória, bem maior do que a nova espécie descoberta
Foto: Renalle Ruana Pessoa Ramos via Wikimedia Commons