No Halloween, especialistas ensinam sobre consumo saudável de doces pelas crianças
Estabeler limites, negociar quantidades, tratar como comida comum e se livrar dos piores são algumas das dicas
À medida que as brincadeiras de Halloween crescem no Brasil, para muitos pais, o maior truque é como fazer com que montes de guloseimas desapareçam quando a festa acabar, para que seus filhos não abusem. Mas, no esforço de evitar que as crianças comam muitos doces, muitos pais podem acabar reforçando inadvertidamente hábitos alimentares pouco saudáveis.
Embora cada criança seja diferente, os cientistas que estudam o desenvolvimento infantil e as preferências alimentares podem oferecer conselhos.
— O que realmente importa não é o doce do Halloween, mas sim o que está acontecendo nos outros dias da semana — disse Jennifer Orlet Fisher, professora e diretora associada do Centro de Pesquisa e Educação em Obesidade da Temple University, nos EUA.
É importante saber que o desejo biológico por alimentos doces é muito maior nas crianças do que nos adultos, segundo Julie Mennella, membro do Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia, um instituto sem fins lucrativos que estuda a ciência do paladar e do olfato.
A preferência de uma criança por alimentos doces pode ser 20 vezes maior do que a de um adulto. E estudos que analisam biomarcadores para o crescimento ósseo sugerem que as crianças parecem ter um interesse ainda maior por doces durante os períodos de rápido crescimento. Outro estudo mostra que esse tipo de alimento pode até ajudar a diminuir a dor física dos pequenos.
— As crianças vivem em um mundo sensorial diferente — explica Mennella. — Elas não gostam apenas porque tem um gosto bom, também é sobre como isso faz com que se sintam bem. O cérebro e a biologia da criança são projetados para serem atraídos pela energia durante os períodos de crescimento máximo.
O gosto por doces de uma criança provavelmente surgiu evolutivamente para estimular o interesse pelo leite materno, que contém açúcares naturais, e o interesse por frutas. Mas também torna as crianças vulneráveis em ambientes alimentares modernos, onde são frequentemente expostas a alimentos processados com altos níveis de adição de açúcar.
O desafio para os pais é aprender a estabelecer limites sem impor muitas restrições alimentares que podem sair pela culatra.
Ao alcance
Não coloque o que é bom fora de alcance: um grande número de pesquisas mostra que crianças que crescem com muitas restrições alimentares (principalmente filhos de pais que fazem dieta) desenvolvem hábitos alimentares pouco saudáveis. Em um estudo da Universidade Estadual da Pensilvânia, as crianças tiveram acesso ilimitado a biscoitos de frutas em um prato. Outro lote foi colocado em uma jarra de biscoitos transparente e as crianças foram proibidas de comê-los. Quando as crianças finalmente puderam abrir o pote de biscoitos após 10 minutos, elas comeram demais, comendo três vezes mais do que quando os biscoitos estavam disponíveis livremente nos pratos.
Outros estudos mostram que restrições alimentares evidentes — como colocar doces e refrigerantes em uma prateleira alta e controlar quando uma criança pode comê-los — apenas fazemcom que queiram ainda mais os alimentos. Crianças que crescem em lares com regras alimentares altamente restritivas são mais propensas a comer demais, desenvolver preferências por alimentos ricos em gordura e doces e ter excesso de peso.
Limites
Estabeleça limites de forma que não façam as crianças se sentirem restringidas. Evitar restrições alimentares não significa que os pais devam dar aos filhos acesso ilimitado a todos os alimentos que desejarem. Para começar, mantenha alimentos menos saudáveis fora de casa quando puder (aniversários e feriados podem ser uma exceção.) Compre alimentos e lanches saudáveis e dê às crianças acesso livre à dispensa. Se você tem doces de Halloween em casa, coloque-os em uma cesta com outros lanches, como frutas inteiras, para fazer com que pareça menos especial e mais parecido com os outros alimentos que elas podem comer.
— Quando você coloca comida na mesa, mesmo que seja doce, a comida é como qualquer outro alimento — diz Katherine N. Balantekin, professora assistente no departamento de Ciências do Exercício e Nutrição da Universidade de Buffalo. — Se você colocar limites em algo, deixe claro que a criança vai poder ter a comida novamente depois. Por exemplo, se der uma bala e eles pedirem mais, pode dizer: ‘vamos guardar um pouco para que amanhã possa comê-la novamente’.
Não é prêmio
Não trate doces como recompensa. Estudos mostram que as crianças reagem negativamente quando os pais as pressionam a comer certos alimentos, mesmo que ofereçam uma recompensa. Em uma pesquisa, cientistas pediram às crianças que comessem vegetais e bebessem leite, oferecendo-lhes adesivos e tempo de televisão se o fizessem. Mais tarde no estudo, as crianças expressaram antipatia pelos alimentos que haviam sido recompensadas por comer.
— Quando você usa alimentos instrumentalmente, dizendo ‘coma seus brócolis para obter a recompensa’, o que tende a acontecer é gostar menos de brócolis e valorizar a recompensa um pouco mais — explica Fisher.
Decisão compartilhada
Deixe as crianças ajudarem a decidir o quanto comer. Falar com elas antes e depois de ganhar doces sobre quanto planejam comer e quanto guardar para depois pode evitar conflitos.
Maya Feller, nutricionista e professora adjunta da Universidade de Nova York, recomenda que os pais conversem com seus filhos com antecedência sobre quantos doces eles vão dar, quantos comerão em casa, e quanto eles vão querer guardar.
— Acho que ter essas discussões com antecedência é uma forma fácil de fazer com que os doces não sejam tão poderosos — diz Feller.
A nutricionista também observa que, no Halloween, dar doces pode ser parte da diversão. Em vez de tirar da criança, o que pode fazer com que se sinta impotente, peça que escolham alguns para doar.
Cuidado odontológico
Os pais que tentam dar fim aos doces de festas de seus filhos comendo durante a noite podem estar criando um ambiente perfeito para a formação de cáries, alerta Joel Berg, ex-presidente da Academia Americana de Odontologia Pediátrica.
Se os pais decidirem fazer alguns doces desaparecerem, é melhor eliminar os pegajosos, pastosos e azedos que, segundo Berg, são os que estragam os dentes. E enquanto as crianças estão mastigando suas guloseimas de Halloween, experimente oferecer junto maçãs fatiadas, que não apenas as saciam, mas também ajudam a limpar os dentes.
— As pessoas pensam que uma barra de chocolate pode ser muito ruim para os dentes, mas se você consumir dentro do razoável, é muito menos problemático em comparação com um doce pegajoso — explica.