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“Não devemos demonizar os remédios durante amamentação”, diz Carlos González

“Não devemos demonizar os remédios durante amamentação”, diz Carlos González

É preciso cuidado, sim, ao tomar medicamentos durante a lactação. Mas é importante saber que, para a maioria, a quantidade que passa pelo leite é muito baixa

Algum tempo atrás, conheci uma mãe que tinha uma hérnia de disco. Ela sofria de fortes dores. Mas seu médico lhe havia dito: “Não posso dar a você nenhum analgésico, porque está amamentando”. Por fim, quando o bebê completou 3 meses, o médico disse: “Já que seu leite não alimenta mais, agora você pode parar de amamentar e fazer o tratamento”.
E qual era aquela droga extremamente perigosa que não podia ser tomada durante a amamentação? Ibuprofeno! Um tratamento comum para a febre, um dos medicamentos mais usados para bebês e crianças.

Seria possível tratar um bebê com febre dando ibuprofeno à mãe, para que o remédio passasse pelo leite? Vejamos: quando uma mãe está tomando ibuprofeno, a concentração do medicamento no leite fica geralmente entre 150 e 600 microgramas por litro. A dose diária desse remédio recomendada para tratar um bebê é de 40 miligramas por quilo. Um bebê de 6 quilos com febre precisaria, portanto, beber entre 400 e 1.600 litros de leite materno por dia para que o ibuprofeno fizesse efeito. Um bebê poderia se afogar em um tanque de 400 litros de leite. Mas não ser intoxicado com o medicamento.

“Apenas algumas medicações são realmente contraindicadas durante a lactação”

Dr. Carlos González

E assim é com a imensa maioria dos remédios. A quantidade que passa para o leite é tão baixa que não pode afetar o bebê. Apenas algumas medicações são realmente contraindicadas durante a lactação, que são aquelas muito potentes, com efeitos colaterais graves mesmo em doses muito baixas, a maioria delas utilizada no tratamento do câncer.

O problema é que alguns médicos falam sem ter dados e, às vezes, até a bula do medicamento dá informações erradas, ou assustam com generalidades absurdas como “só será usado na lactação quando seus benefícios superarem seus possíveis riscos” (mas é claro, medicamentos só devem ser usados quando os benefícios superam os riscos, tanto para homens como para mulheres, tanto para quem amamenta como para quem não tem filhos). Para um bebê, o que é realmente perigoso é que sua mãe, que está doente e precisa de tratamento, não tome o remédio, ou, por medo, ingira uma dose insuficiente e não se cure.
Você encontrará informações bastante sérias sobre medicamentos e amamentação no LactMed (procure o site, que tem textos somente em inglês) ou acesse e-lactancia.org (em espanhol e inglês).

Ah, a propósito! Aquele médico do ibuprofeno também estava errado quando disse que o leite materno não alimenta mais depois de 3 meses. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) recomendam o aleitamento materno por, pelo menos, dois anos (adicionando alimentos sólidos na dieta a partir dos 6 meses).

Carlos González tem três filhos, é um dos pediatras mais famosos na Espanha e autor de livros como “Bésame mucho” e “Meu filho não come!” (Foto: Divulgação)

Carlos González tem três filhos, é um dos pediatras mais famosos na Espanha e autor de livros como “Bésame mucho” e “Meu filho não come!” (Foto: Divulgação)