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Mortalidade de bebês na pré-história indicava alto número de nascimentos

Mortalidade de bebês na pré-história indicava alto número de nascimentos

Ao contrário do que se pensava, quantidade de bebês mortos não tinha relação com taxa de mortalidade infantil, problemas de saúde ou maus cuidados

Diferentemente do que antigas suposições indicavam, a mortalidade de bebês durante a pré-história não estava associada a doenças ou maus cuidados, e sim ao alto número de nascimentos da época. A descoberta é de um novo estudo da Universidade Nacional da Austrália (ANU), publicado em agosto no American Journal of Biological Anthropology.

“Há muito se presume que se há muitos bebês mortos em uma amostra de enterro, então a mortalidade infantil deve ter sido alta”, diz a autora principal, Clare McFadden, da escola de arqueologia e antropologia da ANU, em comunicado. Segundo ela, muitos assumiam que as crianças faleciam em decorrência da falta de cuidados modernos de saúde e que cerca de 40% de todos os bebês nascidos em populações pré-históricas haviam morrido ainda no primeiro ano de vida.

Mas ela e seus colegas não encontraram nenhuma evidência que sustente essa crença. A equipe examinou dados da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mortalidade infantil, fertilidade e óbitos durante a infância em 97 países ao longo da última década.

Os pesquisadores utilizaram as informações da ONU para fazer interpretações sobre a vida humana há 100 mil anos. “Amostras funerárias não mostram nenhuma prova de que muitos bebês estavam morrendo, mas nos dizem que muitos bebês estavam nascendo”, explica McFadden. “Se as mães durante esse tempo estavam tendo muitos bebês, então parece razoável sugerir que elas eram capazes de cuidar de seus filhos pequenos”, complementa a arqueóloga.

Ela também defende que é necessário trazer “um pouco de humanidade” à imagem que temos atualmente de nossos antepassados. “Representações artísticas e da cultura popular tendem a ver nossos ancestrais como essas pessoas arcaicas e incapazes, esquecendo de sua capacidade emocional e reações como sentir luto e o desejo de cuidar há dezenas de milhares de anos”, afirma McFadden. “Por isso acrescentar esse aspecto emocional e empático à narrativa humana é realmente importante.”

No artigo, o trio de cientistas ainda enfatiza que histórias de mulheres foram negligenciadas em detrimento a personagens masculinos de populações passadas. “Ouvimos muitas histórias sobre conflitos envolvendo homens, e até mesmo narrativas em torno da colonização e da expansão das populações tendem a ter um foco nos homens”, acrescenta a pesquisadora.

“Eu acho muito relevante contar histórias de mulheres no passado e como foi a experiência feminina, incluindo os papéis que desempenharam na comunidade e como mães”, complementa. E é essa a expectativa dos autores: que os achados dessa pesquisa incentivem novas investigações sobre o cuidado infantil e a maternidade naqueles tempos.