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Misfits Market: a startup de US$ 2 bilhões focada em diminuir o desperdício de alimentos

Misfits Market: a startup de US$ 2 bilhões focada em diminuir o desperdício de alimentos

A cultura de descarte de produtos em bom estado incomodou tanto o empresário Abhi Ramesh que ele decidiu criar uma solução para o problema

Ao fazer compras na feira ou supermercado, geralmente escolhem-se as frutas e os legumes mais bonitos para levar para casa. Os produtores e distribuidores sabem disso e, consequentemente, descartam uma enorme quantidade de itens pelo simples fato de não atenderem aos padrões estéticos dos clientes. A situação sensibilizou o empreendedor Abhi Ramesh, e o inspirou a criar um novo negócio nos Estados Unidos. Assim nasceu a Misfits Markets, que hoje vale US$ 2 bilhões.

Tudo começou quando ele e a esposa visitaram uma fazenda de maçãs em Lancaster, na Pensilvânia. Segundo uma reportagem do site Inc., o que era para ser um dia de contato com a natureza, colhendo frutas direto do pomar, se tornou um momento de reflexão para o empreendedor. À jornalista Rebecca Deczynski, que assina o texto, Ramesh contou que ficou chocado com a quantidade de frutas que viu sendo desperdiçadas na fazenda.

Intrigado com a situação, ele começou a visitar outras fazendas e imaginar como o desperdício de produtos frescos poderia ser minimizado. A Misfits Market surgiu em 2018, no estado norte-americano de Nova Jersey. A proposta da empresa é um serviço de assinatura que entrega com desconto aos clientes aqueles produtos antes vistos como “indesejados”.

Destino: mesa

Ramesh, interessado na questão de desertos alimentares (locais onde produtos frescos não estão amplamente disponíveis para compra), se debruçou sobre o problema de desperdício dos vegetais, frutas e legumes. Ele entendeu que muitos itens, a exemplo das maçãs, sequer chegam aos mercados por serem muito pequenas ou grandes demais, isto é, estão fora do que se convencionou como padrão. Isso significa que muita comida perfeitamente boa é jogada fora.

“Esta é uma indústria de baixo custo, baixa margem e altamente perecível, que envolve operações e logística muito sofisticadas”, disse Ramesh ao site Inc. “Todas as forças existentes no setor de supermercados o empurram na direção da padronização, que é o que levou à ineficiência em primeiro lugar.”

Para resolver o problema, a Misfits Market teve de desenvolver seus próprios sistemas de gestão de armazém, estoque e logística, o que durou cerca de três anos e demandou muito capital. A empresa conseguiu levantar US$ 526,5 milhões, incluindo US$ 225 milhões em uma rodada de setembro liderada pelo SoftBank Vision Fund 2. Atualmente avaliada em US$ 2 bilhões, a Misfits Market pretende expandir a operação para outras categorias de produtos.

O negócio

A empresa compra seu estoque de alimentos (produtos orgânicos e não transgênicos) com desconto diretamente dos agricultores e os vende com preços até 40% menores do que os praticados no mercado tradicional.

Os clientes da Misfits Markets selecionam os itens desejados até atingir um pedido mínimo de US$ 30. Eles escolhem um dia de entrega preferido para que o delivery aconteça semanalmente ou a cada quinze dias. Segundo dados da empresa, os consumidores podem chegar a economizar US$ 25 por semana com esse tipo de compra em relação aos mercados comuns.

Mas a empresa de Ramesh não navega sozinha neste oceano de alimentos antes desperdiçados. Uma de suas concorrentes é a Imperfect Foods, criada em 2015, porém ela não opera no sistema de assinatura e não se limita a itens orgânicos. Já a Hungry Harvest, lançada em 2014, oferece caixas de produtos variados, mas sem opção de personalização do mix de itens.

Rápida Expansão

O cenário de pandemia abriu oportunidades à Misfits Market. Em 2020, a empresa cresceu cinco vezes em clientes ativos e volume de pedidos, já que muitos aderiram ao serviço de entregas de compras. Por outro lado, o desafio foi descobrir como atender toda essa demanda com uma logística adequada.

O crescimento foi tanto que, em determinado momento da primeira onda da pandemia, a empresa pausou temporariamente a inscrição de novos assinantes. Em seis meses, a equipe precisou crescer de 175 funcionários para mil.

Em 2021, a Misfits Market ainda expandiu seu portfólio para itens de padaria, laticínios, frutos do mar, carne e outras categorias. Nos próximos seis meses, o empresário diz que irá dobrar sua oferta de produtos.

Agora, Ramesh afirma que os desafios do negócio incluem o elevado valor das embalagens, a falta de espaço nos armazéns e uma possível queda na demanda dos serviço de entrega de alimentos. Para atrair novos clientes, a empresa está investindo em parcerias com influenciadores.

Negócio do bem

As vendas da Misfits Market evitaram que 58 mil toneladas de alimentos fossem desperdiçadas apenas em 2021. Em menos de três anos de existência, a empresa forneceu receita de mais de US$ 155 milhões para as 60 fazendas com as quais trabalha nos EUA.

Embora o modelo de negócios esteja focado em levar esses alimentos aos clientes pagantes, Ramesh também se dedica a abordar questões sociais de acesso aos alimentos. Graças às suas redes e logística sofisticada, alimentos são entregues facilmente a instituições de caridade. Segundo a empresa, no ano passado foram doados mais de 120 toneladas de alimentos frescos para comunidades carentes por meio de parcerias com bancos de alimentos. “Temos o objetivo de erradicar os desertos alimentares até 2025”, diz Ramesh. “E achamos que podemos fazer isso.”

Fonte:  PEGN