Desperdício de alimentos: causas e prejuízos
O custo da comida jogada fora é de 750 bilhões de dólares ao ano
Você sabia que a produção mundial de alimentos é um terço afetada pelo desperdício? Pois é, a política do mercado financeiro que gera produção em excesso e o transporte são fatores significativos para esse problema. Mas além disso, há desperdício de alimentos na cozinha da nossa casa. Vamos dar uma olhada mais profunda nessa questão.
Quais são as principais causas do desperdício de alimentos?
De acordo com a FAO (agência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), 54% do desperdício de alimentos no mundo ocorre na fase inicial da cadeia de produção, que é composta pela manipulação pós-colheita e pela armazenagem.
Os outros 46% do desperdício, de acordo com a mesma fonte, ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo. Tudo isso também contribui para a situação de insegurança alimentar e a crise climática. Quando lembramos que todos os dias 870 milhões de pessoas passam fome, esses dados sobre desperdício de alimentos se tornam aterrorizantes. Acabar com a fome corresponde ao 2° dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) criados pela Organização das Nações Unidas (ONU), e reduzir o desperdício pode ajudar a alcançar esse objetivo.
Desperdício de alimentos no mundo
A Europa sozinha é responsável por 222 milhões de toneladas do desperdício de alimentos, o equivalente a toda a cadeia de produção de alimentos na região da África Subsaariana. Em colheitas menos sofisticadas, grande parte da produção é perdida no transporte e manuseio.
No Brasil, grande parte é desperdiçada na colheita e durante o manuseio e logística da produção: na colheita, o desperdício de alimentos é de 10%. Durante o transporte e armazenamento, a cifra é de 30%. No comércio e no varejo, a perda é de 50%, enquanto nos domicílios 10% vai para o lixo.
Segundo um relatório do Instituto de Engenharia Mecânica, existe uma perda de 37% e 80% da produção de arroz no Leste Asiático. Na Índia, 20 milhões de toneladas de trigo são perdidas por sistemas de abastecimento e distribuição impróprios.
Países desenvolvidos
Em países desenvolvidos, o desperdício tem uma razão mais estética, onde consumidores se recusam a comprar produtos com aparência mais abatida ou feridos. Assim, até as próprias redes rejeitam alimentos de aparência menos saudável.
No Reino Unido, 30% da colheita britânica é rejeitada por não atingir as expectativas do mercado quanto a suas características físicas. Além disso, 7 milhões de toneladas de alimentos (o equivalente a dez bilhões de libras) são descartadas pelo mesmo motivo.
O desperdício também está presente na casa dos consumidores. Um relatório da ONU destacou que 74 kg de comida são desperdiçados por pessoa a cada ano. No Reino Unido, os resíduos comestíveis representam cerca de oito refeições por família a cada semana.
Além da comida desviada no processo de produção e desperdiçada na mesa do consumidor, a indústria alimentícia desperdiça alimentos ricos em proteínas e fibras dietéticas de alta qualidade, conduzindo-os para outros fins, como ração ou produção de energia. O pesquisador Pia Silventoinen defende em sua tese que substâncias como farelos de cereais poderiam ser utilizados para produção de outros alimentos, levando a dietas mais saudáveis.
Quais são as consequências do desperdício de alimentos ?
Uma pesquisa feita pela Unilever, chamada World Menu Report, afirma que 96% dos brasileiros se preocupam com desperdício de alimentos, uma porcentagem alta em comparação à Alemanha (79%), aos Estados Unidos (77%) e à Rússia (69%).
Porém, o que é contraditório é que o país possui um dos maiores índices de desperdício de alimentos do mundo! Com 40 mil toneladas de alimentos que vão para o lixo todo dia. Segundo a ONG Banco de Alimentos (organização que busca combater a fome e o desperdício de alimentos), cada brasileiro desperdiça mais de meio quilo de alimento por dia.
As causas para tamanho desperdício são muitas. Muitos produtos, como frutas e vegetais, estragam antes de saírem das prateleiras. Muitos consumidores compram produtos que estragam antes de irem para a mesa e uma parte considerável do que chega até ela não é consumida.
Existem também os problemas durante o transporte. Longas distâncias e embalagens impróprias (ou até mesmo a ausência de embalagens) são fatores impactantes.
Prejuízos econômicos
Quanto mais alimento jogado fora, mais caro ele fica. Inclusive foi baseada nessa lógica de mercado que, na década de 1930 (e ainda hoje, ilegalmente), no Brasil, a produção de café em excesso foi queimada para gerar lucro.
Um relatório feito em 2013 apontou que, apesar de trazer lucro para pouquíssimas pessoas, em escala mundial, o desperdício de alimentos custa 750 bilhões de dólares por ano. Agora imagine essa quantia em reais.
Prejuízos ambientais
O desperdício de alimentos prejudica enormemente o meio ambiente, agravando a mudança climática. Imagine que boa parte dos agrotóxicos, água, terras, fertilizantes, desmatamento, transporte, gastos de energia e petróleo para a produção de máquinas e combustíveis empregados em todos os processos da agropecuária são utilizados em vão. Isso faz com que seja necessário intensificar ainda mais a produção e, consequentemente, a pressão ao meio ambiente.
No caso de desperdício de alimentos de origem animal, o prejuízo ambiental é maior, pois a criação de carneiro ou boi demanda maiores quantidades de insumos que a produção vegetal. Isso sem falar na questão da grande quantidade de resíduos sólidos, que vêm crescendo e é formado majoritariamente por resíduos orgânicos (60%).
O desperdício e a perda de alimentos também causam cerca de 10% das emissões que contribuem para a crise climática.
De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mais da metade de todo o lixo que produzimos em casa é orgânico. Todo esse resíduo, quando descartado em aterros e lixões, junto com materiais tóxicos como pilhas e baterias, produz chorume e outros efluentes que causam impactos à saúde e ao meio ambiente. Além disso, os resíduos sem tratamento emitem gás metano, que é cerca de 25 vezes mais prejudicial para o efeito estufa do que o gás carbônico.
Por outro lado, reduzir a perda e o desperdício de comida cortaria as emissões de gases do efeito estufa, desaceleraria a destruição da natureza por meio da conversão de terras, aumentaria a disponibilidade de alimentos e, com isso, também ajudaria a reduzir a fome.
Como evitar o desperdício de alimentos?
Grande parte do desperdício de alimentos está na própria produção. Mas o consumidor pode contribuir de alguma forma para mudar esse quadro. A primeira dica seria, sempre que possível, optar por alimentos produzidos localmente, uma vez que estes não sofrem (ou sofrem menos) as perdas do transporte e da degradação, tornando-se, quem sabe, um locávoro.
Outra forma de evitar desperdício é optar por consumir Pancs (Plantas alimentícias não-convencionais) ruderais. Isso porque essas são uma alternativa às monoculturas e muitas vezes nascem naturalmente em casa ou nas proximidades. Elas podem ser colhidas na hora do uso, ou pouco tempo antes, evitando também perdas de transporte a longa distância e degradação pelo armazenamento.
Você também evita o desperdício de alimentos aprendendo a fazer receitas com cascas, raízes e sementes. Você já pensou em comer casca de banana, por exemplo? Já conhece nossas 18 diferentes formas de reaproveitar a casca do limão? Ou ainda os sete benefícios da semente de abóbora para a saúde?
Você também pode contatar os produtores de alimentos mais próximos e formar grupos de consumo com seus vizinhos, pois fazendo compras coletivas o preço fica mais em conta e o produtor pode produzir de acordo com a demanda, evitando desperdício.
Outra alternativa aliada a essas é compostar seus resíduos orgânicos. Assim, em vez de virar “lixo” e ocupar espaço em aterros e lixões, ele vira húmus e servirá de insumo. Você pode, inclusive, doá-lo ou começar a plantar localmente em algum espaço compartilhado com vizinhos. Você também pode planejar as refeições com antecedência e consumir produtos com menos embalagens plásticas.