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Mineração na Serra do Espinhaço, em Minas, ameaça título de Reserva Mundial da Biosfera

Mineração na Serra do Espinhaço, em Minas, ameaça título de Reserva Mundial da Biosfera

Há quase um mês, o Conselho Estadual de Política Ambiental aprovou a licença de instalação da mineradora Tamisa na Serra do Curral, que faz parte do conjunto da Serra do Espinhaço.

A Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, pode perder o título de Reserva Mundial da Biosfera por causa da mineração que ameaça um dos símbolos de Belo Horizonte.

Tem vegetação de Cerrado e de Mata Atlântica nativa. A Serra do Curral faz parte do conjunto da Serra do Espinhaço, reconhecida pela Unesco em 2005 como Reserva da Biosfera, áreas de aprendizagem para o desenvolvimento sustentável em diversos contextos ecológicos, sociais e econômicos.

São 727 reservas dessas no planeta, sete no Brasil. Mata Atlântica, Cinturão Verde de São Paulo, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Amazônia Central e a Serra do Espinhaço.

Ela é a segunda maior cordilheira da América Latina, mas uma parte está ameaçada. Há quase um mês, o Conselho Estadual de Política Ambiental aprovou a licença de instalação da mineradora Tamisa na Serra do Curral. A empresa pretende minerar em um corredor ecológico.

A aprovação fez o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, o Icomos, a fazer um alerta pedindo intervenção no processo.

“Na semana que vem já vai ser feita uma reunião com diversos agentes envolvidos, e esses agentes vão ser escutados por uma comissão de especialistas que vão fazer recomendações prévias. E aí vai ser dado um mês para que essas recomendações comecem a ser cumpridas. Caso elas não sejam cumpridas, no início de julho vem uma comitiva do Icomos Internacional a Belo Horizonte visitar a serra, e aí começa a se preparar um documento técnico que vai servir de alerta para o mundo inteiro para o que está acontecendo aqui”, diz Leonardo Castriota, vice-presidente do Icomos Internacional.

A Serra do Curral fica entre as cidades de Belo Horizonte, Nova Lima e Sabará. O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, o Iepha, tem um dossiê pronto, desde 2020, para tombar uma área de mais de 5 mil hectares.

Partes da serra já estão tombadas pelo Iphan, Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e pela prefeitura de Belo Horizonte. O terreno da Tamisa tem 1,1 mil hectares e está fora da área de tombamento atual, mas quase todo dentro da área prevista para o tombamento do estado

O dossiê do tombamento ainda não foi votado pelo Conselho Estadual do Patrimônio. O governo de Minas tem até o dia 30 de agosto pra incluí-lo na pauta do conselho, data limite do termo de compromisso firmado com o Ministério Público Estadual. Se o tombamento for aprovado, a área fica protegida.

No dia 14 de maio, Marília Palhares Machado assumiu a presidência do Iepha e acumulou o cargo de secretária-executiva do Conep, posição sem direito à voto nas deliberações. Só que ela é prima de Guilherme Machado, diretor-executivo da Tamisa, a mineradora que pretende explorar a serra.

Em nota, o governo de Minas disse que Marília Machado foi convidada a assumir o cargo por seu currículo, experiência e trajetória em defesa do patrimônio histórico, mas não comentou sobre os possíveis conflitos de interesses da designação.

Ações contra a exploração no local correm nas Justiças federal e estadual. Artistas fizeram um manifesto, pedindo a proteção da serra. Sociedade civil e ambientalistas fazem abaixo-assinados para garantir o tombamento estadual e a proteção da floresta, da água e dos animais.

“Nós estamos falando de um dano permanente, de um dano que vai deixar cicatrizes profundas na nossa serra, inclusive na paisagem dela. A gente entende que é um patrimônio que não pertence a essa geração. É de todas as gerações. Das que passaram e das que vêm por aí e querem herdar, e têm todo direito de herdar esse patrimônio natural”, afirma Marcus Polignano, coordenador do projeto Manuelzão e professor da UFMG.