Medula óssea: entenda por que doador jovem garante melhor resultado
Ministério da Saúde reduziu a idade limite dos doadores de 55 para 35 anos. A hematologista Adriana Seber avalia mudança como positiva
O Brasil é o terceiro país com o maior banco de doadores para o transplante de medula óssea (TMO) do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha. São um pouco mais de 5,4 milhões de cidadãos cadastrados no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca).
Até julho deste ano, pessoas com até 55 anos poderiam se cadastrar no Redome e o cadastro ficava ativo até os 60 anos. Uma portaria do Ministério da Saúde reduziu a idade limite para 35 anos como uma estratégia para garantir melhores resultados para o receptor da medula.
Na avaliação da hematologista Adriana Seber, membro do Comitê de Hematologia Pediátrica da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH), a mudança foi uma conquista porque quanto mais jovem é o doador, melhor o resultado do transplante para o paciente.
“Quando falamos de política de cadastro de doadores, a gente precisa se basear nos resultados dos transplantes. Sempre ficamos felizes com a boa vontade das pessoas em fazer a doação, mas o médico vai escolher um doador mais jovem porque essa medula vai ter que continuar a trabalhar no corpo do paciente que recebeu o transplante por muitos anos”, afirma a médica.
Ela conta que, quando uma criança de 10 anos receber a medula óssea de uma pessoa de 40 anos, por exemplo, o órgão terá produção dos componentes do sangue compatível ao de uma pessoa desta idade. Quando o paciente transplantado completar 50 anos, terá uma medula que se comporta bem o suficiente para uma pessoa de 80 anos e pode não atender a demanda do organismo onde está inserida. “Então a mudança no cadastro do Redome foi boa porque os doadores jovens têm um resultado melhor após o transplante, vale mais a pena como investimento para o país”, explica.
A hematologista afirma que, atualmente, a falta de doadores não é mais um problema para os transplantes de medula óssea porque é possível fazê-lo mesmo com menor compatibilidade entre os pacientes, garantindo bons resultados. O grande gargalo para a realização dos TMOs ainda está na falta de leito disponível para o transplante (principalmente durante a pandemia de Covid-19) e no acesso aos remédios essenciais para o receptor após a cirurgia.
O Dia Mundial do Doador de Medula Óssea, celebrado neste domingo (19/9), lembra da importância das pessoas que se dispõem a colaborar com o tratamento de pacientes de diversas doenças, como as neoplasias – leucemias e tumores – e doenças do sangue e da imunidade, garantindo a sua sobrevivência.
“Algumas doenças têm como única opção de cura a realização do transplante e, portanto, a doação da medula por um doador saudável é essencial para garantir o tratamento do paciente. Para as crianças com erros inatos da imunidade ou do metabolismo, os doadores voluntários são ainda mais fundamentais. Como as doenças estão ligadas a fatores genéticos, só podemos usar um irmão se ele não for afetado pela mesma condição”, afirma Carmem Bonfim, médica-chefe do serviço TMO do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba.
Entre as doenças que têm como opção de tratamento o transplante estão a leucemia, linfomas, mieloma múltiplo, anemia aplástica e de Fanconi, hemoglobinopatias, tumores de testículos, neuroblastomas e síndromes provocadas pela deficiência modular. A ideia do TMO é substituir a medula deficiente, ou que foi destruída durante o tratamento, para manter a produção de glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas, evitando infecções e hemorragias.
Para ser um doador, é necessário:
- Ter entre 18 e 35 anos;
- Estar em bom estado geral de saúde;
- Não ter doença infecciosa ou incapacitante;
- Não ter câncer, doença hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico.